Mas eu sinto amor...

César Vasconcelos de Souza

Cesar Vasconcellos de Souza

Saúde Mental e Você

O psiquiatra César Vasconcellos assina a coluna Saúde Mental e Você, publicada às quintas, dedicada a apresentar esclarecimentos sobre determinadas questões da saúde psíquica e sua relação no convívio entre outro indivíduos.

quinta-feira, 03 de junho de 2021

O que é amor? É um sentimento? Tem que envolver sexo? Depende sempre de boas emoções? Quando amamos uma pessoa sentimos o mesmo tipo e intensidade de sentimento agradável o tempo todo? Será possível uma pessoa confundir amor com sentimento e achar que se ela sente algo bom, isso é amor? Quando amamos uma pessoa nunca sentimos algo desagradável por ela? Nunca algum aspecto de nosso egoísmo inato afeta nosso relacionamento com pessoas que dizemos que amamos?

Será o amor o oposto de raiva? Ou será que o contrário de amor é a indiferença? Se um homem tem forte atração física por uma mulher, isso é amor? Se uma mulher tem uma sensação forte de paixão romântica por um homem, isso é amor?

O melhor conceito de amor que conheço é o que o define assim: o amor é sofredor, paciente, é benigno ou seja, exercita a bondade, não é invejoso, não arde em ciúmes, não trata os outros com leviandade, não se exalta, não se ensoberbece, não se porta com indecência, não busca seus interesses, não se irrita descontroladamente, não se exaspera, não suspeita mal, não se agrada da malícia, não se alegra com a injustiça, se alegra com a verdade, tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta, o amor nunca falha do que depende dele. Você consegue amar desse jeito? Você tem este tipo de amor aí em sua mente, em seu coração? Você consegue gerar esta qualidade de amor por si mesmo, por si mesma em seu ser?

Muita gente inteligente confunde amor com sentimento. Mas vendo esta definição de amor e me diga: Amor é mesmo sentimento? Então, o dia em que seus sentimentos por aquela pessoa que você diz amar, que diz ser o “amor da minha vida” não está bem, não está agradável, isso significa que você perdeu o amor pela pessoa?

Muita gente inteligente parece viver num encharcamento emocional em sua mente, semelhante a uma esponja de lavar louça quando está repleta de água e detergente, e jura que tem amor por todo mundo, vive mandando beijinhos nas redes sociais, fala muito em “eu amo”, “o amor é lindo”, vive lendo romances muitos dos quais tipo “água com açúcar”, ou seja, muito superficiais, vive assistindo novelas, sonhando com paixões românticas. E acreditam que possuem amor maduro. Mas, de repente, explode com alguém num descontrole emocional, de uma aparente dócil pessoa, se torna um dragão. Perdeu o amor? O que ela tem e jura que sabe amar, é mesmo amor maduro?

Nossa mente funciona com cognição, emoção e volição. Podemos trocar estas três palavras por: pensamento, sentimento e decisão ou escolha. Então, qualquer e todo ser humano deste planeta, pensa, sente e decide ou age. Lembrando que não agir, não decidir é também uma decisão.

Quando, então, pensamos nesse tripé da mente humana, pensar, sentir e agir, podemos começar a entender que o amor não pode ser só pensar, nem só sentir e muito menos só agir. Você pode pensar que ama, mas seus sentimentos pela pessoa podem denunciar que existe rejeição, exigência de condições para amá-la, e manifestações de indiferença. Você pode sentir que ama, mas faltar respeito pela outra pessoa, e valorização do outro. Você pode tomar atitudes em nome do amor por alguém, como comprar um presente caro para esta pessoa a quem você diz amar, e ser infiel, tendo casos por fora do relacionamento conjugal.

Não creio que exista nenhum ser humano que consiga ter amor maduro perfeito. O ser humano é perfeitamente imperfeito. Alguns possuem muita dificuldade de amar maduramente. Outros conseguem isto com melhores resultados, mas mesmo assim não de forma ideal que seria como descrevi o amor acima nesse texto.

Talvez um primeiro passo para evoluirmos quanto à nossa capacidade para amar é admitir que não temos amor maduro, que não conseguimos de nós mesmos produzir amor ideal em nossa mente. Admitindo isso, aí podemos caminhar para amadurecer no amor. Podemos entender melhor a verdade sobre nossa real condição afetiva, e a verdade vai acabando com nossas mentiras e confusões sobre amar e sobre o amor.

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O psiquiatra César Vasconcellos assina a coluna Saúde Mental e Você, publicada às quintas, dedicada a apresentar esclarecimentos sobre determinadas questões da saúde psíquica e sua relação no convívio entre outro indivíduos.

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