Dor física e dor emocional: qual a pior?

César Vasconcelos de Souza

Cesar Vasconcellos de Souza

Saúde Mental e Você

O psiquiatra César Vasconcellos assina a coluna Saúde Mental e Você, publicada às quintas, dedicada a apresentar esclarecimentos sobre determinadas questões da saúde psíquica e sua relação no convívio entre outro indivíduos.

quinta-feira, 18 de março de 2021

Algumas pessoas perguntam isso, qual é o pior tipo de dor: física ou emocional? Vários autores cientistas defendem a ideia de que a dor emocional ou mental é a pior. Mas nem sempre. Creio que vai depender de que tipo de dor emocional é, a intensidade que ela atinge a pessoa, quais recursos psicológicos a pessoa sabe usar, entre outros fatores.

O doutor em psicologia, Guy Winch, publicou um artigo no site Psychology Today em 20 de julho de 2014 no qual ele dá cinco maneiras pelas quais a dor emocional é pior do que a dor física (www.psychologytoday.com/us). Vamos dar uma olhada nisso e colocarei algumas ideias minhas também.

Ele comenta que temos a tendência de monitorar nosso corpo e nossa saúde física mais do que nossa saúde emocional. As pessoas com condições financeiras ou com bom plano de saúde geralmente fazem check-ups ou avaliações clínicas ou físicas a cada ano. Mas o que você acha da ideia de fazer um 'check-up psicológico'? Não parece uma ideia estranha para nós?

Sabemos que se uma pequena lesão física, como um corte, tornar-se mais dolorosa com o tempo, é sinal de infecção mais séria. Mas se não conseguirmos promoção no trabalho isto pode ser emocionalmente doloroso após várias semanas, e talvez não teremos consciência de que começamos a ficar deprimidos por causa desta perda no trabalho.

Ainda Guy afirma que “temos a tendência de reagir à dor física de maneira muito mais proativa do que à dor emocional. No entanto, exceto por lesões ou doenças catastróficas, a dor emocional frequentemente afeta nossa vida muito mais do que a dor física.” E são citadas cinco razões pelas quais a dor emocional é pior do que a dor física:

1. Memórias desencadeiam dor emocional, mas não dor física: relembrar a ocasião em que você quebrou a perna não a fará doer, mas relembrar a ocasião em que você se sentiu rejeitado por quem se sentia apaixonado ou apaixonada no colégio poderá causar dor emocional importante. 

2. Usamos a dor física como distração da dor emocional, não vice-versa. Alguns adolescentes e adultos se automutilam, ou seja, ferem a si mesmos, por exemplo, cortando a pele com uma lâmina, porque a dor física que isso produz os distrai de sua dor emocional, oferecendo-lhes alívio. Mas o mesmo não funciona ao contrário, ou seja, querer usar uma dor emocional para aliviar ou resolver uma dor física.

3. Em geral a dor física atrai mais empatia dos outros do que a dor emocional. Quando vemos um estranho sendo atropelado por um carro, estremecemos, ofegamos ou até gritamos e corremos para ver se ele está bem. Mas quando vemos um empregado numa loja recebendo uma bronca agressiva do seu chefe, coisa que produz dor emocional naquele funcionário, é improvável que façamos qualquer uma dessas coisas. 

4. A dor emocional produz ecos de maneiras que a dor física não faz isso. Se você recebeu uma ligação sobre a morte de seu pai ao estar num almoço romântico com seu marido ou com sua esposa no dia de aniversário de casamento, provavelmente levará alguns anos antes que você possa voltar a desfrutar uma comemoração como esta sem ficar bem triste. Mas se você quebrou o pé jogando futebol com amigos, provavelmente estará de volta ao campo assim que estiver totalmente curado da fratura. 

5. Uma dor emocional, mas não física, pode prejudicar nossa noção de valor pessoal, nossa saúde mental a longo prazo. A dor física deve ser extrema para prejudicar nossa saúde mental, claro, a menos que as circunstâncias também sejam emocionalmente bem traumáticas. Ser reprovado em um exame no vestibular ou Enem pode criar ansiedade e medo do fracasso, ou uma única perda dolorosa pode levar a anos de fugir de relacionamentos causando a consequente solidão.

Embora apliquemos uma pomada antibacteriana em um corte ou arranhão na pele imediatamente, fazemos pouco para proteger nosso respeito pessoal ao nos depreciar. Valorize sua dor emocional não no sentido de fazer propaganda dela por aí nas redes sociais e em diálogos com os outros, mas no sentido de entender o que está machucando sua vida emocional e o que pode e deve fazer para melhorar sua saúde mental.

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