Corrupção e sua saúde mental

César Vasconcelos de Souza

Cesar Vasconcellos de Souza

Saúde Mental e Você

O psiquiatra César Vasconcellos assina a coluna Saúde Mental e Você, publicada às quintas, dedicada a apresentar esclarecimentos sobre determinadas questões da saúde psíquica e sua relação no convívio entre outro indivíduos.

quinta-feira, 21 de janeiro de 2021

Estudos científicos têm mostrado que quando uma pessoa se envolve em atitudes corruptas, ela tem um aumento do nível de estresse em seu corpo e mente. Há um excesso de produção dos hormônios do estresse, como a adrenalina e a cortisona. E este excesso lesa órgãos vitais de nosso organismo, e quando o estresse se torna repetitivo, ele conduz à doenças variadas, desde depressão até câncer.

Quando você está envolvido em atividades corruptas, está destruindo a si mesmo. Acúmulo obsessivo de bens materiais, seja pelo trabalho honesto ou pela fraude, não promove saúde. Produz patrimônio, mas não saúde. Não é a presença de uma doença mental no indivíduo que o faz corrupto. Mas será que corruptos possuem defeitos de personalidade possíveis de serem mensurados pela ciência? O que conduz às atitudes corruptas são as fragilidades de caráter ligadas ao interesse da pessoa de estar numa posição na qual pode obter benefícios pessoais.

A lesão no caráter chega num ponto em que corruptos praticam atos ilegais, geralmente em grupo, criando um conceito para eles de que a violação da honestidade é justa. Você deve se lembrar da absurda hipocrisia de parlamentares religiosos no Brasil envolvidos em propinas fazerem uma oração agradecendo a Deus pelo dinheiro ilícito obtido.

O poder não corrompe necessariamente, mas revela tendências comportamentais pré-existentes no indivíduo. Os que desde sempre se preocupam em ser corretos e éticos, que sempre pensam em ajudar a aliviar o sofrimento das pessoas da comunidade, ao assumirem o poder mantêm atitude honesta. E o contrário é verdadeiro, os que sempre se comportam sem ética, mesmo em pequenas coisas, assumindo o poder farão o mesmo.

O dr. John R. Schafer é analista comportamental do FBI, polícia secreta norte-americana. Em seu artigo “A Psicopatologia da Corrupção” – psicopatologia é o estudo das doenças mentais – publicado em 2 de agosto de 2018 na revista Psychology Today (Psicologia Hoje), ele afirmou que a corrupção serve como uma "máscara de poder" para esconder inseguranças pessoais. Explica que pessoas corruptas e suscetíveis à corrupção não são felizes e que a corrupção serve como forma de obter felicidade por meio do poder.

Diz ele que o poder coloca uma pessoa ou grupo acima de outra pessoa ou grupo, criando uma ilusão de felicidade por meio do controle. Dominar as pessoas não pode trazer felicidade. A corrupção apenas mascara as inseguranças. A “máscara de poder”, quando retirada, revela inseguranças pessoais. A pessoa ou grupo corrompido procura manter ou aumentar o controle do poder para manter a ilusão de felicidade.

Dr. Schafer afirma que “membros de grupos corrompidos juram lealdade a seus grupos, ignorando seu dever para com a comunidade em geral. Os valores pessoais substituem os valores da comunidade.” E ele continua: “A maneira mais rápida das pessoas inseguras se sentirem bem consigo mesmas é colocar-se acima dos outros. Tanto no governo quanto no setor privado, o poder é a maneira mais rápida de elevar uma pessoa acima de outra. Enquanto pessoas inseguras permanecerem no poder, elas podem se esconder atrás da "máscara de poder". Líderes inseguros não aceitam novas ideias porque outra pessoa pode obter o reconhecimento e usurpar o poder dos grupos corruptos. Pessoas que apresentam novas ideias ameaçam líderes inseguros. ... Como uma droga viciante, o poder anseia por um poder cada vez maior. Líderes inseguros muitas vezes não têm as habilidades necessárias para se sobressair, por isso recorrem à corrupção para manter e ganhar mais poder. Líderes inseguros não podem abrir mão do poder, pois fazer isso exporia suas inseguranças.”

Uma boa liderança ligada ao bem impede a corrupção. Com boa liderança, as pessoas respeitam seus líderes e recebem respeito em troca. A boa liderança cria um ambiente onde as pessoas se sentem bem consigo mesmas e com o grupo ao qual pertencem.  Mas a malignidade conduz pessoas a serem doentiamente ambiciosas quanto ao dinheiro, a quererem ser os primeiros de uma forma orgulhosa que os leva a ficarem obsessivos pelo posto mais alto, e também conduz indivíduos a ficarem murmurando e reclamando de tudo, deixando a gratidão de lado. Estas pessoas ainda são escravas da corrupção. Não sabem o que é liberdade.

O poder da bondade precisa ser recebido a cada dia, caso contrário cairemos na corrupção em quaisquer de suas formas. O eu não tem capacidade para administrar bem o eu nos caminhos do bem. Somente a bondade pode nos fazer pessoas de caráter nobre, não corruptas, e, assim, nos tornamos úteis à sociedade. 

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