Consequências psicológicas do trauma e Justiça

César Vasconcelos de Souza

Cesar Vasconcellos de Souza

Saúde Mental e Você

O psiquiatra César Vasconcellos assina a coluna Saúde Mental e Você, publicada às quintas, dedicada a apresentar esclarecimentos sobre determinadas questões da saúde psíquica e sua relação no convívio entre outro indivíduos.

quinta-feira, 17 de março de 2022

Sofremos com a guerra Rússia-Ucrânia. Entristece ver a crueldade. Ninguém ganha numa guerra, mesmo tendo um vencedor. Agressores numa guerra podem ser pessoas assustadas, com medo de serem vítimas de ataques e como defesa, atacam. Disfarçam o medo praticando poder cruel.

Vivemos traumas no dia a dia. Notícias de violência social, corrupção generalizada que prejudica a população, enchentes, desabamentos, assaltos, fraudes, maldade, seca destruindo plantações, incêndio florestal, terremotos, ganância material, ideologias de gênero perturbando as crianças, tudo isso e mais causam traumas.

O Manual de Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-5) define trauma como uma experiência pessoal direta de um evento que envolve morte real ou lesão grave ou outra ameaça à integridade física de si mesmo ou de uma outra que você testemunha. Ou seja, trauma é algo que você experimenta pessoalmente, vê acontecer ou fica sabendo que ocorreu com alguém que você ama.

A grande maioria das pessoas terá pelo menos uma experiência traumática em sua vida, mas nem todos respondem de igual forma. Estudos tentam entender por que pessoas que vivem o mesmo trauma respondem de maneira diferente.

Muitas vezes um trauma nos leva a mudar a vida drasticamente. O propósito da existência muda, alguns seguem carreiras num serviço filantrópico, passam a educar seus filhos de nova maneira, desenvolvem uma fé, se tornam mais misericordiosos e altruístas.

Por outro lado, pessoas após um trauma desenvolvem o Transtorno de Estresse Pós-Traumático com sintomas variados como já descrevi aqui em outro artigo. Por exemplo, a pandemia da Covid-19 produziu muito deste tipo de estresse nos pacientes afetados pela doença assim como em profissionais lidando com ela.

Em sociedade podemos viver com traumas agudos e crônicos. É bem diferente a repercussão sobre nossa saúde mental viver um episódio traumático ou viver constantemente com trauma crônico. É comum perder-se a esperança vivendo trauma crônico e especialmente na família e na sociedade via a política corrupta.

Quando uma pessoa vive um estado crônico de estresse o corpo dela pode entrar em desconexão, desligamento e depressão, diferente do que ocorre num trauma agudo quando surge ansiedade, pesadelos, lembranças dolorosas, imagens trágicas.

As guerras acabam, mas não significa que o trauma obrigatoriamente acabe. A cura do trauma é uma jornada. Muitas vezes é um processo para toda a vida, num nível pessoal, familiar, comunitário, quanto num aspecto amplo da sociedade.

Pessoas vítimas de traumas precisam de ajuda para aprenderem a desabafar suas dores, medos, tristezas e revolta. Também podem aprender a lidar melhor com seus sentimentos, com sintomas como insônia, ansiedade e a raiva.

Pensa-se que uma forma de tratar traumas sociais é com a justiça. Se alguém matou um parente seu num assalto, e o criminoso foi preso e condenado, isto significa que foi feito justiça? E a vida da pessoa que morreu? Qual a justiça para ela? Que justiça seria justiça plena? Prender um criminoso satisfaz o anseio de justiça? E se o condenado roubou a população anos à fio no seu cargo político e com a corrupção praticada muitas pessoas morreram, por exemplo, porque foi desviado dinheiro que seria usado na construção de hospitais públicos?

O que queremos dizer com justiça? Uma maneira importante de chegar a isso é perguntar às próprias comunidades e indivíduos. O que a justiça significa para eles? O que a construção da paz significa para eles? E para você?

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