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Se eu não soubesse o que é o carnaval…
Wanderson Nogueira
Palavreando
Aos sábados, no Caderno Z, o jornalista Wanderson Nogueira explora a sua verve literária na coluna "Palavreando", onde fala de sentimentos e analisa o espírito e o comportamento humano.
Se eu não soubesse o que é o carnaval, se eu já não tivesse te conhecido. Ah, não sei. Talvez, eu teria um conceito diferente do que é alegria, felicidade, essa coisa de se esbanjar, ser entregue, se deixar levar... Pela música, pelos brilhos de tantas cores que nem sei o nome, pelas multidões ou simplesmente pelo bailar da passista quase toda despida.
Nada mais próximo de inclusão do que o carnaval. Ser quem se é ou outra coisa qualquer, ainda que em sonho de verão de fevereiro. Sem julgamentos. Ser rei e como tal, decretar anistia a todos de bom coração, inclusive a si mesmo. Ser Pierrô, Colombina, bobo da corte, mascarado, qualquer famoso e assim como o rei, liberto para todo o regozijo que possa existir.
Se eu não te conhecesse e te visse agora... Meu Deus! Seria melhor do que ver o mundo do alto das mais elevadas montanhas. De pronto, eu já me encantaria com todo esse povo na rua. Eu, igualmente povo, no meio da multidão, mais do que vislumbrando vivendo as tantas possibilidades de conhecer e se conhecer. Quem sabe só um amor de carnaval ou um amor para além dele. E se só for um beijo bom que finca na memória — deleite. E se for aquele abraço de quem nunca nem se saberá o nome, mas prevejo que marcará e dará à folia, a nostalgia que fantasiará todos os próximos carnavais.
Se eu não soubesse o que é o carnaval... Eu me embasbacaria com a chuva de confetes e serpentinas. Que beleza ver as crianças fantasiadas de heróis diversos se esbaldando em ingenuidade que também se faz presente em adolescente que quer dar os primeiros beijos, os primeiros amassos.
O despertar do próprio corpo é repleto de romantismo e o romantismo é infantil, quase fantasioso. Mas não se engane, para depois do carnaval é jornada intensa e muitas vezes até cruel. Ser adulto não é fácil. Amadurecer feliz é desafio.
Tentam resumir você à festa da carne. Você, carnaval, é a festa do despertar que faz burburinho na alma. Pudesse ser o ano inteiro.
Ah, carnaval! Se eu não te conhecesse, te amaria à primeira vista. Esses sons de instrumentos de sopro e batuques. Essa musicalidade que entra no corpo e faz dançar, sambar... Não importa se quem é invadido por essa energia musical sabe dançar ou não sabe sambar. Dance bem, sambe mal e aqui nessa festa, Tim, vale tudo, absolutamente tudo.
E, de repente, mesmo tendo dificuldade de decorar canções, acaba por saber de trás para frente e de frente para trás todo samba-enredo da escola campeã ou a que se escolhe para morar no coração. Portela! Desde 1995 sei todos os seus sambas. Dos seus cem, tantos icônicos sambas que fazem meu coração se pintar de azul e branco.
Se eu não soubesse o que é o carnaval… Ficaria em êxtase já no primeiro bloco, do pré-carnaval. E desfilaria em todos os blocos, os que saem de manhã, os que desfilam à tarde, os que brincam à noite, de madrugada, os que parecem maratona.
Cansaço? Deixaria para depois da quarta-feira de cinzas. Por que ao te conhecer, pela primeira vez, adiaria seu fim ao máximo e apaixonado ainda haverei por festejar na quadra da escola campeã, seja qual for, se por merecimento. Pelas fantasias, pela criatividade, pela viagem de imaginações em realidade, pelas inovações, pelas críticas sociais, mas acima de tudo pelo sentimento deixado.
Eu te conheço, carnaval, e sinto saudade de você em todos os outros meses do ano. Eu te conheço há tempos e desde a primeira vez te faço ser nostalgia para todos os momentos vindouros. E te reinvento na minha própria reinvenção. E te quero cada vez mais. E desfilo em suas fantasias, físicas, mas não só.
As fantasias que giram nas alegorias que fartam a minha existência. E te canto em seus encantos. E me divirto em pulos, rodopios, viagens que faço quando estou na arquibancada, na avenida, nos beijos que dou e me roubam. Nos amores que ficam e mesmo indo — perduram e estendem o carnaval para o ano inteiro em festa de intimidade.
Sim! Já beijei e esqueci o nome de quem me beijou se é que perguntei o nome. Mas o seu nome carnaval... O seu está tatuado em mim.
Wanderson Nogueira
Palavreando
Aos sábados, no Caderno Z, o jornalista Wanderson Nogueira explora a sua verve literária na coluna "Palavreando", onde fala de sentimentos e analisa o espírito e o comportamento humano.
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