A nobreza de saber fazer o outro rir

Tereza Malcher

Tereza Cristina Malcher Campitelli

Momentos Literários

Tereza Malcher é mestre em educação pela PUC-Rio, escritora de livros infantojuvenis, presidente da Academia Friburguense de Letras e ganhadora, em 2014, do Prêmio OFF Flip de Literatura.

segunda-feira, 10 de maio de 2021

Não poderia deixar de fazer uma homenagem a quem nos deu felicidade, fazendo-nos rir e gargalhar com as situações mais simples da vida. Paulo Gustavo soube extrair do quotidiano os melhores motivos para construir uma obra de humor, que tem na literatura seu ponto de partida, através da elaboração de roteiros ou textos dramatúrgicos.

Provocar risos, quiçá gargalhadas, é uma das mais desafiadoras das produções literárias. O humorista já nasce com um estado de espírito propenso a fazer o outro rir, tendo espontaneidade visceral para a comédia, que pode ser aperfeiçoada através de cursos, ensaios e de experiências direcionadas ao inusitado, ao esdrúxulo e ao equívoco. Talvez seja o estilo literário que mais exija do artista a tendência ou o talento natural, isto é, o dom cômico.

A comédia surgiu na Grécia antiga, enquanto expressão popular e sátira aos costumes da época. Paulo Gustavo correspondeu a esse princípio e buscou na própria vida familiar fatos inspiradores para escrever a trilogia Minha Mãe é Uma Peça. Texto, inclusive, publicado em estilo literário.

O autor não precisa dar muitos passos do lugar onde vive para encontrar elementos significativos que o toquem e estimulem-no a criar literatura. Certamente, embasamentos de uma formação artística se fazem necessários. Basta saber olhar, escutar, abrir os sentidos para perceber detalhes da experiência imediata, como a maneira que uma dona de casa carrega sua bolsa ou guarda o dinheiro da feira. São hábitos característicos de expressões culturais.

Paulo Gustavo exacerbou o papel desempenhado por uma dona de casa e a relação entre mãe e filhos para torná-los engraçados. Entretanto, tudo o que o filme mostra, encontra referências na realidade. Ah, quando ele repete que a vida da mulher se torna diferente depois que tem filhos, principalmente quando se tornam adolescentes, é a mais pura verdade. As agruras da maternidade. Já vou! Tô indo! Peraí! Hum... Qual mãe que não escuta tais expressões com frequência?

E quando os filhos saem de casa e deixam o “ninho” vazio. O final de domingo sem vozes, como é sofrido! Paulo Gustavo conseguiu pinçar momentos relevantes da vida de uma mãe, da dinâmica familiar, dos sentimentos que invadem a mulher no dia a dia, como irritação, ciúmes, insegurança, saudade. Até a falta de jeito.

Ele expôs o destino de uma família de classe média com humor e maestria. Contrastou a vaidade feminina com o dia a dia doméstico, fazendo emergir a comédia da rotina diária. Além de tudo, não teve medo de mostrar seu lado feminino e expor-se como mulher. Bem bonita por sinal.

Fiquei comovida com o que aconteceu com Paulo Gustavo. Doeu. Ele me passou bons sentimentos e me divertiu. Fiquei sensibilizada com seu marido e seus lindos filhos. Senti a tristeza de sua mãe me tocar, até porque tive um Beto que partiu iluminado para as estrelas.

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Tereza Malcher é mestre em educação pela PUC-Rio, escritora de livros infantojuvenis, presidente da Academia Friburguense de Letras e ganhadora, em 2014, do Prêmio OFF Flip de Literatura.

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