Louvor à Literatura Infantojuvenil

Tereza Cristina Malcher Campitelli

Momentos Literários

Tereza Malcher é mestre em educação pela PUC-Rio, escritora de livros infantojuvenis e ganhadora, em 2014, do Prêmio OFF Flip de Literatura.

quarta-feira, 05 de julho de 2023

A Literatura Infantojuvenil não é, de modo algum, uma historinha para criancinhas. É um texto sério, escrito com para pessoas que estão chegando a este mundo conturbado, cheio de guerras e brincadeiras, fantasia e realidades múltiplas. 

Vou usar minhas palavras para conceituar a literatura porque vou expressar o que sinto quando escrevo para crianças e jovens. Literatura é o fazer arte através da palavra, é resultado da produção intencional de um texto elaborado com beleza, harmonia e criatividade; é a conjugação de talentos individuais desenvolvidos por meio de esforços e técnica, direcionados à elaboração de narrativas em vários estilos, que expõem fatos, ideias, sentimentos e, até mesmo, estudos e pesquisas.

Faço questão de louvar a literatura sempre que tenho contato com a palavra expressa com maestria, delicadeza e força. Não é uma expressão desajeitada e, se assim o for, será feita com parâmetros. O texto bem elaborado debuta e faz sua estreia diante dos olhos de um leitor que o degusta frase por frase, cuja leitura vai lhe revelando ideias e despertando vontades, que vai se sensibilizando a ponto de se modificar como pessoa. Quando alguém começa a ler um livro abre as portas para o mundo de um modo; quando acaba, não precisa de maçanetas para abri-las. A literatura faz metamorfoses, enquanto resultado de experiências significativas que estimulam reflexões. A leitura é uma experiência que tem poder mágico sobre qualquer ser humano, seja criança ou adulto. 

O escritor infantojuvenil tem a intenção de tocar as crianças e os jovens que sobrevivem ao mundo e aprende a andar descalço sobre terrenos lúdicos para perceber os universos ficcionais que gostariam de conhecer, é ser capaz de sair do próprio lugar, muitas vezes confortável, e visitar brincadeiras, lugares onde o faz de conta é lei soberana. É ter a capacidade de perceber o que os olhos infantis e juvenis expressam. É nascer ao mesmo tempo em que cada criança nasce e morrer sempre que um choro sofrido de um jovem atravessa o horizonte.

Quem começa escrever um texto infantil não pode ter medo do leão que invade sua sala com fome; nem se surpreender com o voo de cavalos alados que migram para encontrar amigos do outro lado do mundo; muito menos não querer encontrar gigantes que andam pelos bosques, contando histórias e falando de lendas assustadores

É aquele sujeito, que não bem se aceita como sujeitado, que gosta de visitar os jardins encantados da ficção, conhecer o sítio mágico de Monteiro Lobato, ler o O Pequeno Príncipe, guardar miudezas na Bolsa Amarela, cantar com João e Maria, e ser um dos sete anões. 

É um escritor que compreende a importância dos heróis imaginários para aqueles que não os têm na realidade. Que sabe falar da ausência e da saudade com a elegância da garça e os cuidados do anjo, que fala dos medos porque os sente de vários modos e momentos.

Quem escreve para crianças e jovens ama as pessoas, tem esperanças e guarda com todo o respeito a criança que um dia já foi.

Publicidade
TAGS:

Tereza Cristina Malcher Campitelli

Momentos Literários

Tereza Malcher é mestre em educação pela PUC-Rio, escritora de livros infantojuvenis e ganhadora, em 2014, do Prêmio OFF Flip de Literatura.

A Direção do Jornal A Voz da Serra não é solidária, não se responsabiliza e nem endossa os conceitos e opiniões emitidas por seus colunistas em seções ou artigos assinados.