Antes de escrever sobre a verdade, vou conversar com meu amigo Charles!

Tereza Malcher

Tereza Cristina Malcher Campitelli

Momentos Literários

Tereza Malcher é mestre em educação pela PUC-Rio, escritora de livros infantojuvenis, presidente da Academia Friburguense de Letras e ganhadora, em 2014, do Prêmio OFF Flip de Literatura.

segunda-feira, 22 de junho de 2020

Na quietude destes dias pandêmicos, tenho voltado ao passado. Andei passeando pela adolescência, época de grandes questionamentos, quando busquei a verdade em tudo. Como na oficina literária virtual que estou fazendo, para melhor dizer, reencontrando meus amigos de escrita com os quais convivi por mais de dez anos, decidimos escrever esta semana sobre a verdade. Ah, como este momento está cheio de magia! Tanto é que estou lendo O Universo Numa Caixa de Nós, de Stephen Hawking. Suspeitei que poderia encontrar algum fundamento na física e na matemática, e não estava enganada

A literatura guarda inesgotável sabedoria, inclusive é capaz de fazer dos números fonte de ideias que nos nutrem. Por isso, ela nos salva todos os dias. 

***

Não ousarei dizer o que é verdade. Se é uma conformidade com a realidade concreta, jamais pode ser interpretada. Mas existe, por acaso, alguma realidade que não seja explicada, deduzida? E, aí, o que vem a ser verdade, meu amigo Charles? Sinto necessidade de mergulhar na filosofia para compreendê-la, não para dizê-la. Ora, pois sim!, a verdade pode ser determinada em qualquer esquina, por um João da vida. Nos meus tempos de bancos universitários, encontrei Max Weber na biblioteca, sentado num livro, que me disse, quase em tom de segredo, que a realidade pode ser tomada a partir de múltiplos pontos de vista, os quais, como num espectro, vão ganhando interpretações ao longo do tempo. O que é verdadeiro hoje, pode não ser amanhã. Então, a verdade está indissociável da relação tempo-espaço, uma vez que os espaços são modificados através do tempo por acontecimentos em que o homem interage entre si e com a natureza perenemente. Ah, o sábio Einstein, grande pensador incubado pela luz das estrelas, disse, de modo afirmativo, que a matemática é eterna como E=mc². Tudo está intricado e dependente, como a energia é da massa e da velocidade. 

Cada um de nós, enquanto observadores, vemos os fenômenos da vida de acordo com nossa posição. Nossas opiniões são particulares. Entretanto, o acontecer é um só, tal qual a velocidade da luz. Perfeito. Estamos inseridos na dimensão tempo-espaço. Quem nasce mulher, feminina será a vida inteira? É possível mudar o sexo e refazer os documentos. Tudo é relativo e incerto. Quanto mais tentamos ter certeza das coisas, com mais incertezas nos deparamos. Que estupendo é esse conceito! Qualquer modificação na dinâmica dos fatos numa determinada época, muda as relações que acontecem no espaço. E a verdade, meu amigo Charles, vai ganhando novos contornos, vai sendo enredada entre o céu e a terra; entre cada pôr-do-sol e nascer da lua. Talvez só exista uma verdade pessoal, vinda de Descartes: penso, logo existo.  

Ufa, querido Charles, vou ter de caminhar por outros bosques para entender as coisas desta vida terráquea. Eis outra grande verdade.  

 

P.S.: Quem é Charles? Ora, pois, se a literatura me permite imaginar...

 

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Tereza Malcher é mestre em educação pela PUC-Rio, escritora de livros infantojuvenis, presidente da Academia Friburguense de Letras e ganhadora, em 2014, do Prêmio OFF Flip de Literatura.

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