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Quando a modernidade complica
Max Wolosker
Max Wolosker
Economia, saúde, política, turismo, cultura, futebol. Essa é a miscelânea da coluna semanal de Max Wolosker, médico e jornalista, sobre tudo e sobre todos, doa a quem doer.
Com o advento da internet, no Brasil a partir de 1988, em teoria a vida das pessoas tendeu a ser simplificada. As máquinas de datilografia foram abandonadas em função da facilidade de se escrever pelo computador, com a vantagem de se ter um corretor de texto que corrigia os erros quase que instantaneamente. Os métodos de pesquisa começaram a ser agilizados, pois com os sites de procura que surgiram dispensavam as horas e horas de consulta passadas nas bibliotecas.
Com o seu avanço surgiu a telefonia sem fio dando lugar aos celulares que decretaram a quase aposentadoria dos telefones fixos. Ainda existem aficionados que não o dispensam. O mais surpreendente, foi o barateamento das comunicações internacionais, primeiro com o skype e, depois, com o whatsApp que eliminou custos e possibilitou comunicar-se com imagem ao vivo.
Outra atividade que foi simplificada ao extremo, foi a ida aos bancos já que excetuando as retiradas de dinheiro em espécie, quase tudo se faz pela internet. Com o advento do Pix os pagamentos foram agilizados e o próprio fato de colocarmos dinheiro na bolsa ou carteira, foi minimizado.
No entanto, existem coisas que esbarram nessa modernidade e que causam transtornos enormes para quem se acostumou com a agilização dos serviços. Por exemplo, a identificação facial ou a digital (identificação pela digital, quase sempre do dedo indicador). Um exemplo são as minhas tentativas de fazê-lo, quando sou obrigado a atualizar o site gov.br. Depois de pedirem o CPF e a senha, solicitam a identificação facial.
Aí começam os problemas, com as instruções pedindo um local adequado (correto), com boa iluminação (corretíssimo) e sem óculos. E é aí que a porca torce o rabo, muitos como eu não enxergam com exatidão sem as muletas oculares e avisos tais como aproxime a câmera, afaste o rosto, centralize, olhe para cima, olhe para o lado ficam difíceis de acompanhar. Conclusão, depois da terceira tentativa, o site informa que o serviço foi bloqueado e o tempo de espera para voltar a funcionar é de 24 horas. Esqueceram que, infelizmente, déficit visual acomete muitos servidores públicos e o uso de óculos deveria ser corriqueiro nesse tipo de verificação.
Com relação à validação digital, no meu caso é complicado e anti-higiênico. A ponta dos meus dedos é seca o que dificulta a leitura nas máquinas que exigem esse tipo de leitura; e como na maioria das vezes não existe um umidificador de dedos, o jeito é molhar o indicador com saliva, para que o processo se conclua. Em tempos de Covid e de Aids isso é um problema, para quem vem em seguida para realizar a mesma função ou para mim, caso tenha que repetir a operação de molhar o dedo.
Um outro problema que complica a vida do usuário, é o advento dos bancos digitais. Partindo do princípio que são digitais, alguns cortam, na totalidade, a comunicação com o cliente. Foi o que aconteceu comigo em relação ao Banco C6, aquele da propaganda da Gisele Bündchen. Quando abri a minha conta, dispensei o cartão de crédito e me enviaram o de débito; até aí, tudo bem. Mas, num determinado momento, precisei solicitar o de crédito. Digitalmente me informaram que tinha de adquirir um serviço, por exemplo um CDB, e que o limite do crédito não poderia ultrapassar o valor do empreendimento. Não deu certo, pois não me disseram qual solicitar e comprei o errado. Então, o meu caso está sempre em estudo e não existe um telefone de comunicação com o cliente, para que o problema possa ser equacionado.
O pior é que o CDB que adquiri só vence em 2025 (o que deveria ser uma garantia para o banco) e eu não tenho como substituí-lo. Um telefone 0800, como aliás o Wise oferece, seria uma necessidade, pois nem sempre as instruções são claras o suficiente para serem compreendidas e, muitas vezes, a comunicação oral é indispensável. Muitos dos problemas que o homem enfrenta hoje, como solidão, dificuldade em se comunicar e isolamento advém da falta dessa comunicação oral. Nem sempre uma pessoa tem o dom da escrita para se fazer compreender. Exemplo: saí para comprar um rolo de manta térmica para o telhado de minha casa. Existem vários modelos entre as quais a Taivel. A indicação que me deram era “manta taivo”. Se a informação fosse manta térmica, não interessa a marca, o funcionário da loja de material saberia de cara do que se tratava.
Uma das coisas que aprendemos a partir dos dois anos é a falar. Essa capacidade nos distingue dos demais animais e é de suma importância para o entendimento entre as pessoas. Portanto, a modernidade chegou e devemos nos render a ela, mas deve ser encarada como uma ferramenta de auxílio à atividade humana, não como substituta dessa atividade.
Max Wolosker
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Economia, saúde, política, turismo, cultura, futebol. Essa é a miscelânea da coluna semanal de Max Wolosker, médico e jornalista, sobre tudo e sobre todos, doa a quem doer.
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