Potiguar, filho de carroceiro e lavadeira é empossado juiz no Pará

Max Wolosker

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Economia, saúde, política, turismo, cultura, futebol. Essa é a miscelânea da coluna semanal de Max Wolosker, médico e jornalista, sobre tudo e sobre todos, doa a quem doer.

quarta-feira, 27 de janeiro de 2021

Esse é um exemplo típico de que querer é poder e que cotas em universidades, nem sempre é o caminho mais adequado para formar universitários de gabarito. Francisco Walter Rêgo Batista, de 31 anos, é natural da cidade de Paus dos Ferros, no interior do Rio Grande do Norte, a 333 quilômetros da capital potiguar, Natal. Ele foi empossado, no último dia 8, como o mais novo juiz do Tribunal de Justiça do Pará. Trata-se do coroamento de um sonho que começou no ensino médio, quando ele vislumbrou, no Direito, uma maneira de melhorar a vida de sua família, seu pai carroceiro e sua mãe, agricultora e lavadeira.

A sua história difere de uma grande maioria de estudantes de Direito e mesmo de magistrados, pois desde o início frequentou as escolas públicas, fossem elas do primeiro e segundo graus e, do interior de uma escola do interior do estado do Rio Grande do Norte; além disso, lhe era vedada a frequência aos cursinhos preparatórios e, para ajudar os pais, teve de trabalhar durante todo o ensino médio. Não deve ter sido fácil, pois após seu trabalho numa movelaria, das 7h às 18h, ia para a escola estudar e se preparar para o futuro, ainda incerto. O cansaço foi sempre um companheiro inseparável, muitas vezes a prejudicar seu desempenho escolar.

Foi aí que entrou em sua vida um tio, que lhe propôs sair da movelaria e se dedicar, por completo, nos estudos preparatórios para o vestibular. Comprou para ele vários livros nos sebos da Natal. Como um verdadeiro autodidata, foi em busca de seu ideal e, em 2007, foi aprovado no curso de Direito da Universidade Federal da Paraíba, na primeira vez em que prestou o vestibular. Ainda não havia cotas e Enem, tendo ele competido com muitos alunos mais favorecidos, vindos de escolas particulares e de cursinhos pré-vestibulares. Walter, desde o início só frequentou escolas públicas, o que mostra, também, que por mais deficientes que elas possam ser, na visão de muitos, a vontade do aluno se sobrepõe às dificuldades.

Também é primordial a ajuda da família, pois como ele mesmo afirma, “meus pais sempre me apoiaram na realização dos meus sonhos, sempre pregando que os estudos levam o ser humano a lugares inimagináveis”. O curioso é que a sua trajetória inspirou o irmão, que também concluiu o curso de Direito e, hoje, atua como assessor de promotor de justiça.

No último dia 11 essa história teve um final feliz, quando Francisco Walter Rêgo Batista tomou posse no Tribunal de Justiça do Para. Essa é uma história de fé e perseverança, ainda mais que sabemos ser a Escola de Magistratura um funil com boca muito estreita, pois só os melhores e mais dotados conseguem o objetivo de se tornarem juízes com J maiúsculo, não como esses falsos magistrados que dão plantão no STF, uma verdadeira aberração da justiça brasileira.

A nossa torcida é para que esse mais novo juiz use a lei e sua própria experiência de vida no desempenho de suas funções. Afinal, ele sabe como ninguém como é viver sob condições financeiras precárias e que, independente de ser rico ou pobre, a lei deve ser igual para todos. Mas, ele tem consciência, também, de que a perseverança é o maior dom que o ser humano tem e que a fé move montanhas. No momento em que ele resolveu ir em busca de seu objetivo, nada o deteve. Que esse sentimento o faça um juiz diferenciado, que use a sua autoridade a bem da justiça e, não, para seu próprio proveito, como vemos acontecer com juízes togados e falsos juízes.

Parabéns Walter, pela sua trajetória de vida até aqui e que sua história sirva de lição para muitos jovens, que nas mesmas condições que você enfrentou, desistem pelo caminho.

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