O imbróglio da vacina chinesa

Max Wolosker

Max Wolosker

Economia, saúde, política, turismo, cultura, futebol. Essa é a miscelânea da coluna semanal de Max Wolosker, médico e jornalista, sobre tudo e sobre todos, doa a quem doer.

quarta-feira, 28 de outubro de 2020

O que as pessoas que não suportam o presidente brasileiro ainda não entenderam é que ele não é nenhum inconsequente. Quando Bolsonaro fala, o que a princípio pode parecer não ter nexo, mais tarde será comprovado ter algum fundo de verdade. Isso ficou evidente com a questão da quarentena horizontal, ou seja, de toda a população confinada, pois ela até hoje não é unanimidade e muitos cientistas defendem a quarentena vertical, aquela restrita a idosos, crianças e pessoas de risco. O mesmo se aplica à indicação de Kássio Nunes para a vaga de Celso de Melo, no STF. Se fosse um nome não alinhado com o senado, provavelmente seria barrado e o presidente seria ridicularizado pela derrota no senado. Mais um menos um, no quadro atual do STF, não vai fazer muita diferença.

Essa introdução vem a propósito do imbróglio sobre a vacina chinesa. Que o governador engomadinho de São Paulo é candidato à presidência da República nas próximas eleições, ninguém duvida. Daí, que os seus passos são muito mais eleitoreiros do que técnicos ou embasados pelo bom senso. O anúncio da colocação de um poderoso imunizante contra a Covid-19, produzida em seu estado, é um senhor cabo eleitoral.

A vacina chinesa Coronavac, uma dentre as quatro produzidas na China, ainda está na terceira fase de testes, portanto sem o aval da Anvisa, para uso em massa na população brasileira. Por isso é prematuro qualquer posicionamento a respeito. No entanto, existem dúvidas quanto a sua segurança, pois em setembro uma pesquisa com voluntários, na China, mostrou que 5,36% das pessoas que participaram do estudo teste, tiveram efeitos adversos. O próprio Instituto Butantã informou que cerca de 35% dos voluntários sofreu algum tipo de efeito adverso. Como na China, a maior parte se deveu a dores no local da aplicação e a dores de cabeça. Mas, segundo Dimas Covas, presidente do Instituto, há relatos de mialgias, fadiga e calafrios, se bem que abaixo de 5% dos testados.

No caso da vacina da poliomielite, segundo a OMS, a proporção de paralisia em função da vacina é da ordem de um caso para 3,2 milhões de doses. Esse número se reduz de um para 250, no caso de infectados pela doença, os não vacinados. Ou seja, uma margem de segurança bem segura.

De qualquer maneira a vacina depende ainda da avaliação dos testes, o que leva tempo, para ser declarada apta para o uso em humanos e liberada para consumo. Agora, uma doença que apareceu no final de 2019, ainda não totalmente decifrada no que diz respeito à sintomatologia e manifestações, em fase de estudos quanto a um tratamento eficaz e, o porquê de determinadas pessoas expostas ao vírus não contraí-la e outras sim, ainda engatinha na sua total compreensão. Daí querer que uma vacina surja em pouco mais de seis meses de estudos, é querer demais. Acho que ainda temos muito tempo pela frente antes que ela seja anunciada como eficaz e segura para a população mundial.

Ninguém me tira da cabeça que a atual pandemia foi cuidadosamente tramada dentro do “Kremelin” chinês, com o intuito de desestabilizar a economia mundial, principalmente, a do ocidente. E conseguiram. Curiosamente, com o caos mundial instalado, a China já tinha milhares de EPIs e de respiradores para serem vendidos numa proporção nunca antes vista e, pasmem, já tinha estudos, pelo menos quatro, visando à fabricação de uma vacina específica para a nova doença. Estranho, não?

É estranho, também que o The New York Times e o Le Monde não falem nada sobre as vacinas produzidas na China. Mais estranha ainda é essa matéria publicada na folhadapolitica.com: “Para atender a demanda do mercado chinês, a Shenzen Kangtai vai assegurar uma capacidade de produção anual até o final de 2020 de pelo menos 100 milhões de doses do imunizante experimental AZD1222, que a AstraZeneca desenvolveu com pesquisadores da Universidade de Oxford, da Inglaterra. Como parte do contrato, a companhia asiática precisa ter capacidade de produzir, no mínimo, 200 milhões de doses até o fim de 2021”. 

Muita água ainda vai rolar até que se dê início a uma vacinação em massa da população mundial, até que a Anvisa, no Brasil, e seus similares no mundo inteiro, assinem a liberação dessa ou dessas vacinas que possam resultar na erradicação dessa praga do primeiro quarto do século 21. Mas, eu, particularmente, me recuso a tomar uma vacina produzida nas terras de Confúncio. Entre a do Instituto Oswaldo Cruz e a do Butantã, fico com a primeira. Nos dias de hoje qualquer produto “made in Chine” é um risco muito grande.

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