O envelhecimento da população, um desafio importante

Max Wolosker

Max Wolosker

Economia, saúde, política, turismo, cultura, futebol. Essa é a miscelânea da coluna semanal de Max Wolosker, médico e jornalista, sobre tudo e sobre todos, doa a quem doer.

terça-feira, 07 de março de 2023

Como no Brasil, a França passa por um grande problema que precisa ser encarado de maneira séria; trata-se do envelhecimento da população e os consequentes problemas financeiros advindos dessa situação. Aqui, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a previsão é de que em 2060 teremos 25% da população com idade acima de 60 anos. Já em terras francesas, em 2023 havia 23% de pessoas com mais de 60 anos, ou seja, um habitante em quatro. A estimativa para 2040 é de um em três.

Esse aumento da população dita da terceira idade é consequência de dois grandes fatores: de um lado a diminuição da taxa de nascimentos e do outro, a diminuição da taxa de mortalidade dos idosos, com os avanços da medicina, principalmente no campo das medidas preventivas, no que diz respeito à saúde, a alimentação e aos cuidados pessoais. Em terras tupiniquins não temos números atualizados, mas o IBGE mostra que a taxa de natalidade brasileira, em 2015 era de 14,16 por mil habitantes.

Já o Banco Mundial afirma que em 2020 tínhamos uma taxa de 1,65 nascimentos por mulher, que comparados ao índice de 6,06, de 1960, comprova essa queda real. Já na terra de Astérix, houve um aumento expressivo da natalidade no pós-segunda Guerra Mundial, com o ápice chegando em 1949, com 900 mil nascimentos. A taxa de natalidade, em seguida, diminuiu um pouco, mas permaneceu elevada até o início dos anos 1970, quando começou a declinar de maneira importante.

Meio século mais tarde, portanto, os bebês do pós-guerra cresceram e a natalidade caiu. Nas ruas e quarteirões é mais comum a presença de cabelos brancos ou cinzas do que de recém-nascidos. É um choque demográfico que irá se acentuar nos próximos 20 anos e que desperta importantes questões econômicas e sociais. Esse problema, mais discreto do que uma pandemia ou da guerra da Ucrânia vai afetar, lá na França, a economia do país com múltiplos impactos dos quais o interminável e amargo debate em torno da questão das aposentadorias é somente um dos aspectos e, não forçosamente, o mais crucial.

Aqui, tivemos a pandemia que, de uma maneira ou de outra, atingiu nossa economia, mas, felizmente, sem nenhuma guerra entre países vizinhos, além de uma reforma da Previdência, que era necessária, e diminuiu um pouco os sobressaltos com relação aos gastos previdenciários. No entanto, a preocupação aqui como lá está sempre presente. No sistema de cotização das aposentadorias, como é o nosso caso, quanto menor for o número de contribuintes, maior será o déficit do sistema que aumentará cada vez mais, à medida que a população envelhece e cresce o número de aposentados. Alguns países como a Alemanha, Canadá e Nova Zelândia procuram, através da abertura da imigração para uma mão de obra ativa, compensar esse déficit. Isso nem sempre é possível em tempos de inflação alta como ocorre agora na Europa. Hoje na França, a inflação está em 6% ao ano, com uma alta expressiva dos combustíveis, da alimentação e dos aluguéis.

Além disso, existe um outro problema que é sério e entre nós é mais grave que nos países mais desenvolvidos. Nem sempre os mais idosos gozam de boa saúde, o que sobrecarrega o Sistema Único de Saúde (SUS) e mesmo os planos privados. Sem deixar de mencionar que nessa população tem muitas pessoas que estão na dependência de outras para cuidados desde os mais simples, até os mais complexos. Na França, na Alemanha e entre outras nações mais desenvolvidas, ainda existe um serviço estatal de enfermeiros, técnicos em saúde e de assistentes sociais que dão conta do recado. Aqui a estrutura não funciona ou é muito precária, deixando muito a desejar. O pior é que com aumento dessa população necessitada, o problema tende a se agravar. Os gastos são elevados e nem o SUS nem os planos de saúde estão em condições de prestar o atendimento que lhes é solicitado. Na maioria das vezes, o chamado home-car só funciona com ações judiciais.

É preciso que as autoridades comecem a pensar de maneira preventiva, pois o problema só tende a se agravar. Os jovens aqui como lá não pensam mais em ter mais filhos como as gerações passadas.

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