Festas religiosas: uma tradição que vem de tempos remotos

Max Wolosker

Max Wolosker

Economia, saúde, política, turismo, cultura, futebol. Essa é a miscelânea da coluna semanal de Max Wolosker, médico e jornalista, sobre tudo e sobre todos, doa a quem doer.

quarta-feira, 08 de junho de 2022

Nenhuma pretensão em transformar a minha coluna numa sucursal da Bíblia, mas o assunto a seguir é fruto, exclusivamente, da curiosidade do colunista. Existem festas desde os primórdios da humanidade, a partir do momento em que o homem passou a viver em sociedade, que se repetem tanto na época anterior a Cristo e persistem após Cristo, muitas vezes com significados diferentes. Isso me veio à memória, pois no dia 5 de junho, os católicos comemoraram o Dia de Pentecostes.

A origem dessa festa é na realidade baseada em uma antiga tradição hebraica, chamada Shavuoth, e que significa “Semanas”. Para os judeus, pentecostes era uma celebração de agradecimento a Deus pela colheita, além de homenagear a memória do dia em que Moisés recebeu as tábuas com as leis sagradas, conhecidas por Torah. Esse termo deriva da palavra grega pentēkostḗ, que significa “quinquagésimo”, em referência aos 50 dias depois da Páscoa. No judaísmo durava sete dias e começava a partir da Pesah (festa da libertação do Egito). A Páscoa dos judeus, comemora o recebimento, por Moisés, das tábuas da lei, com os dez mandamentos, 50 dias após a fuga do Egito, aos pés do Monte Sinai. Tem outros nomes como Festa da Colheita ou Sega (Êxodo 23.16), Festa das Semanas (Deuteronômio 34.22) e Dia das Primícias dos Frutos (Números 28.26), pois era uma data festejada pelos judeus, portanto uma festa da religião judaica.

No Novo Testamento, a comemoração de Pentecostes é citada no livro dos Atos dos Apóstolos 2, episódio que narra o momento em que os apóstolos de Cristo receberam os dons do Espírito Santo, logo após a subida de Jesus aos céu. Já Corpus Christi, cujo significado literal é o Corpo de Cristo, é uma festa religiosa da Igreja Católica cujo objetivo é celebrar o mistério da Eucaristia, a presença do corpo e do sangue de Jesus. Ela ocorre sempre 60 dias depois do Domingo de Páscoa ou na quinta-feira seguinte ao domingo da Santíssima Trindade, em alusão à quinta-feira santa quando Jesus instituiu o sacramento da eucaristia.

 Na tradição católica, foi instituída pelo Papa Urbano IV no dia 8 de setembro de 1264. Sua procissão pelas vias públicas lembra a caminhada do povo de Deus, peregrino, em busca da Terra Prometida. O Antigo Testamento diz que o povo peregrino foi alimentado com maná (pão de trigo sem fermento), no deserto. Com a instituição da eucaristia o povo é alimentado com o próprio corpo de Cristo.

Durante esta festa são celebradas missas festivas e as ruas são enfeitadas para a passagem da procissão onde o sacrário é conduzido geralmente pelo bispo, ou pelo pároco da Igreja, A tradição de enfeitar as ruas começou pela cidade de Ouro Preto, em Minas Gerais. A procissão pelas vias públicas, é uma recomendação do Código de Direito Canônico que determina ao bispo diocesano que tome as providências para que ocorra toda a celebração, para testemunhar a adoração e veneração para com a Santíssima Eucaristia. Esse acontecimento não tem correspondência no judaísmo, pois para o judeu Cristo, o Messias, ainda não veio à Terra, sendo essa uma das características marcantes entre o antigo e o novo testamentos.

Não podia me esquecer do Natal, festa de grande significado na tradição católica, pois celebra o nascimento de Jesus Cristo, a chegada do tão esperado Messias e marca o início da era cristã. No entanto, se pesquisarmos um pouco mais, vamos ver que sua origem se perde na antiguidade, nas primeiras e remotas crenças humanas, às quais, ao longo dos séculos, foram se incorporando às novas tradições

Por que celebramos o Natal em dezembro? O solstício de inverno (no Hemisfério Norte) é a noite mais longa do ano, o momento em que os dias começam de novo a crescer, uma vitória simbólica do Sol contra a escuridão. Acontece entre 21 e 22 de dezembro e é comemorado desde tempos imemoriais. Nessa mesma época do ano, em meados de dezembro, os antigos romanos festejavam a Saturnália, festival em que eles ofereciam presentes entre si, mas também trocavam os papéis sociais, uma mistura entre nosso Natal e o Carnaval.

A data do Natal foi fixada em 25 de dezembro pelo imperador Constantino, porque nesse dia era celebrada a grande festa solar em Roma”; assim, o imperador que transformou o cristianismo na religião de Roma e que governou entre 306 e 337, identificava de alguma maneira sua figura com o divino, aproveitando o antigo festival do Dia do Nascimento do Sol Invicto. Foi uma fusão do culto solar com o culto cristão.

Podemos concluir que na realidade as coisas se repetem, se modernizam, à medida que a humanidade cumpre seu destino no planeta Terra. Repetindo Lavoisier, “na natureza nada se cria, nada se perde, tudo se transforma”.

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