Devido à violência urbana, os amigos se despedem de Tom

Max Wolosker

Max Wolosker

Economia, saúde, política, turismo, cultura, futebol. Essa é a miscelânea da coluna semanal de Max Wolosker, médico e jornalista, sobre tudo e sobre todos, doa a quem doer.

terça-feira, 07 de setembro de 2021

Em 13 de agosto de 2021, Ricardo Pinheiro Juca assassinou sua esposa que estava grávida de um bebê de seis meses, sua sogra e feriu seu sogro Wellington Braga de Mello, carinhosamente tratado por seus amigos, de Tom. De acordo com relatos, em rede social, um parente próximo das vítimas contou detalhes da tragédia na casa da família no bairro Cônego. Segundo ele, Nahaty teria sido alvejada enquanto estava deitada na cama, lanchando. Ela teria levado três tiros na cabeça e um na barriga (parece que a intenção do criminoso era ter certeza que o filho também morreria). A sogra subiu as escadas correndo e também foi  atingida, com sete tiros, em rajada. O sogro levou dois tiros ao tentar sair pela porta e foi encaminhado para o Hospital Raul Sertã.

Infelizmente, meu amigo Tom, colega de trabalho do Sesi de 1979 até 1995, não resistiu aos estragos provocados pela bala, em seu rosto e faleceu na madrugada do último dia 1º. Um crime hediondo, a meu ver, pois atirou para matar, não deu nenhuma chance de defesa para as vítimas e destroçou uma família.

Ricardo, por ser tabelião e conhecer a “lei”, alegou surto psicótico e foi transferido para o Hospital Penal Psiquiátrico Roberto Medeiros, no Rio de Janeiro. Felizmente, no dia 20 de agosto, de acordo com reportagem de A VOZ DA SERRA, o juiz Marcelo Alberto Chaves Villas, da 1ª Vara Criminal de Nova Friburgo, determinou a transferência de Ricardo para um presídio comum.  A denúncia apresentada pelo Ministério Público contra o réu à Justiça, ratifica a conversão da prisão em flagrante, em  preventiva e determina a transferência”.

“Segundo a decisão do juiz Villas, “a denúncia narra crimes bárbaros” e “inexiste prova de que o acusado sofra de perturbação mental”. O juiz assinala que, por ser  praticante de tiro desportivo, o réu foi  submetido a exame psicológico, sem restrição da capacidade cognitiva, pois tal exigência faz parte do Estatuto do Desarmamento.  Villas considerou também que o “surto psicológico” alegado inicialmente para cometer os crimes, de forma superficial, não justifica a presunção de inimputabilidade do réu. 

Crime inimputável ou não, o problema está em serem as leis brasileiras uma verdadeira mãezona para os bandidos e um tormento para a família das vítimas. Na época do ocorrido, a Polícia Civil informou que Ricardo seria indiciado por dois feminicídios consumados, aborto e tentativa de homicídio; as penas somadas poderiam chegar aos 84 anos.

Essa tentativa passa a ser agora caracterizada como mais um homicídio, o que vai elevar a pena para pelo menos 100 anos. O problema é que ninguém pode ficar preso por mais de 30 anos, está no código penal. O bom comportamento e o trabalho, na penitenciária, servem como um redutor do tempo de detenção, se cursar uma faculdade, reduz mais um pouco. Ou seja, com cerca de dez anos de reclusão esse assassino voltará ao convívio da sociedade. Isso se um habeas corpus do alto clero ou do baixo clero não o livrar da cadeia por uns tempos.

O que não se compreende é o porquê de uma pessoa tão insatisfeita com a família cometeu um crime tão bárbaro assim. Será que não teria sido melhor ter virado aquela maldita pistola 9 milímetros para a própria cabeça? Diga-se de passagem que essa arma é de uso exclusivo das polícias Civil e  Militar e das Forças Armadas. Entenderam?

Mas, mesmo se for condenado, Ricardo abreviou estupidamente o convívio de Tom com seus amigos e parentes. Foi um dentista de mãos cheias no Sesi, onde trabalhamos juntos, no turno da manhã. Um dia, em meio a uma  brincadeira disse para ele: Tom preciso extrair um dente siso superior. Ele simplesmente me sentou na cadeira do seu consultório, anestesiou minha boca e, em 20 minutos, o siso estava na ponta do boticão.

Com a criação do ambulatório do Diabetes, tínhamos a Semana do Diabético, com várias atividades, inclusive palestras. Tom sempre esteve presente falando sobre cuidados com os dentes e higiene bucal, de muita importância para o tratamento desses pacientes. Brincalhão divertia a todos nós com seus casos e suas piadas. Era, também, dono da farmácia Esperança, no final da Praça Dermeval Barbosa Moreira.

Tom, por essa ruptura tão brusca e cruel seus amigos não esperavam. Descanse em paz e zele por nós.

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