Nova Friburgo se contenta com tão pouco

Lucas Barros

Além das Montanhas

Jovem, advogado criminal, Chevalier na Ordem DeMolay e apaixonado por Nova Friburgo. Além das Montanhas vem para mostrar que nossa cidade não está numa redoma e que somos afetados por tudo a nossa volta.

quinta-feira, 31 de agosto de 2023

Somos o país do “resultadismo”. O que seria de nós se conseguíssemos analisar a vida como ela é sem precisarmos levantar as nossas bandeiras, junto com a forte emoção que vendam nossos olhos? Para muitas pessoas a filosofia antiga é o que rege a vida: “Fez, é bom, está melhorando, ok. Não fez, é ruim, não serve, não tem solução.”.

E sem percebermos acabamos levando essa filosofia de modo errôneo para muitos campos de nossa vida. Sejam nos relacionamentos apaixonados que nos cegam; no dia-a-dia repetitivo da nossa rotina de trabalho; nos rumos que a nossa vida toma; ou até mesmo em como entendemos ser o ideal para vivermos a nossa vida.

Sem termos um bom parâmetro definido, cada vez mais vamos nos acostumando com menos, fazendo com que qualquer coisa seja melhor do que nada. E assim nos contentamos com aquele emprego meia-boca, com um salário mais ou menos, com uma relação sem reciprocidade, com amizades por interesse.

Nos acomodamos em sentarmos no penúltimo lugar na plateia só para ver o show ou mesmo com o que sobra da janta, com as migalhas que alguém deixa cair. E sabe porque a gente se contenta? Porque se acomoda, se apropria daquela zona de conforto e resolve morar nela, esquecendo que merece mais, que pode mais, que consegue mais.

Não me lembro de uma Nova Friburgo que vivesse tanto a sua zona de conforto como atualmente. Onde são feitas apenas as coisas mornas, onde tomamos aquele café meio quente e achamos que está ótimo e que nada melhor poderia estar sendo feito com a nossa vida.  

Será que só merecemos isso? Podemos querer o primeiro lugar, desejar um relacionamento saudável, sonhar com um cargo de presidente, querer ter o corpo dos nossos sonhos. Mas parte importante desse processo, de se entender como cidade, é achar-se merecedor dessas conquistas.

Nascemos para ter que brilhar enquanto cidade, mas não estamos brilhando. Vivemos em um parque dentro de uma cidade ou numa cidade dentro de um parque? Todo mundo terá uma resposta para essa pergunta. Contudo, ninguém consegue nos explicar o porquê de não explorarmos bem o turismo com o que há de mais bonito nessa cidade.

A verdade é que estamos nos contentando com muito pouco e infelizmente para muita gente está ótimo! A Praça Getúlio Vargas, um dos maiores cartões postais do turismo dessa cidade, se ofusca em meio choque de realidade, com seus bancos quebrados, a falta de segurança, a sujeira e os muitos ratos que passeiam por lá.

Nos contentamos com pontos de ônibus que não tem a menor infraestrutura para população especial, como os idosos e pessoas com deficiência, pelo simples fato de haver um telhadinho - que uma vez na vida e outra na morte, é pintado pelo poder público.

Nos acomodamos com os atrasos de ônibus e as conduções quebradas sem que haja fiscalização alguma do poder público. Nos acostumamos com os buracos nas ruas da cidade. E ficamos felizes quando vemos um vídeo do poder público gastando um dinheirão para fechar o buraco, mesmo sabendo que na próxima chuva, o buraco lá estará de novo.

Habituamos-nos com as péssimas comidas servidas para os pacientes da saúde do município, bem como com as extensas filas para o atendimento de rotina ou pela realização de um único exame, de quem está acometido por dores ou corre risco sério de perder a vida.

Por que não nos revoltamos em saber que muitas pessoas têm que recorrer a Defensoria Pública para requerer remédios que deveriam ser fornecidos pelo próprio município? Por que nos adaptamos tanto a ir aos shows que são realizados a perder de vista enquanto os professores recebem abaixo do piso salarial.

Mesmo diante de um dos maiores orçamentos da história da cidade, no contentamos em olhar para as maiores conquistas da cidade e perceber que foram feitas ou pelo Governo do Estado ou na cidade de Cachoeiras da Macacu, como é o exemplo do mirante da serra que não nos pertence.

Toleramos a nossa juventude indo embora da nossa cidade em busca das melhores oportunidades de emprego e de estudo. Vemos grandes lojas e grandes comércios perderem espaço em nossa cidade. Percebemos que a Nova Friburgo dos anos 70 ou 80 não mais voltará.

Acomodamos-nos a polarizar as discussões políticas por conta do “meu prefeito” ou por conta do “meu candidato faria melhor”, sem que realmente nos preocupemos com os rumos que Nova Friburgo tem se guinado. Contentamos-nos em achar que não podemos mais como cidade. Nos inspiramos nos outros e ninguém tem se inspirado na gente.

Há quem não queira, há quem prefira a vida morna. Há aqueles que são felizes com a vida mediana que levam. E quanto a isso, cabe a cada saber o que quer. Como cidade, não dá para se contentar com pouco e achar que está bom assim. E a pergunta que fica é: “Por que nos acostumamos a nos contentar com tão pouco?”

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Jovem, advogado criminal, Chevalier na Ordem DeMolay e apaixonado por Nova Friburgo. Além das Montanhas vem para mostrar que nossa cidade não está numa redoma e que somos afetados por tudo a nossa volta.

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