Mês de combate à LGBTfobia

Lucas Barros

Além das Montanhas

Jovem, advogado criminal, Chevalier na Ordem DeMolay e apaixonado por Nova Friburgo. Além das Montanhas vem para mostrar que nossa cidade não está numa redoma e que somos afetados por tudo a nossa volta.

quinta-feira, 12 de maio de 2022

Marcado por mobilizações em todo o Brasil, o Dia Internacional da Luta contra a LGBTfobia é celebrado em 17 de maio em todo o mundo. A data refere-se ao dia em que a Organização Mundial da Saúde (OMS), em 1990, retirou o termo “homossexualismo”, que associava a homossexualidade à uma doença mental passível de tratamento.

Desde então, a data serve como um dia de conscientização da luta pela paridade de direitos dos LGBTs (Lésbicas, Gays, Bissexuais e Travestis), pela diversidade sexual, contra a violência e contra o preconceito. Fato é que muitos direitos foram adquiridos com o passar do tempo, mas a realidade se mostra preocupante em muitos aspectos, especialmente, na realidade brasileira.

Certamente, muitas pessoas irão ler essa coluna e se perguntar: “Esse assunto é necessariamente relevante? Será que deveríamos debater sobre isso no jornal?”. Bom, continue lendo que eu certamente te provarei a importância de um tema tão polêmico em um mundo polarizado que vivemos.

Dados assustadores

Mesmo com a imprecisão os dados acerca da violência, uma vez que muitos crimes com motivação homofóbica são levados adiante com crimes comuns - injúria, difamação, lesão corporal e até homicídio qualificado por motivo fútil - podemos, ainda sim, afirmar que o Brasil é o país que mais mata homossexuais no mundo.

No Brasil, de acordo com uma importante fonte de fiscalização e apoio às causas LBGTQI+, uma pessoa foi morta a cada 20 horas, vítima de homofobia. Os dados são espantosos e somente em 2018, pelo menos 420 pessoas morreram, seja por arma de fogo, espancamento, pauladas ou suicídio.

Fato é que a violência contra homossexuais está mais presente na sociedade do que nós imaginamos do mesmo jeito que a violência contra a mulher ocorre, só que de forma escondida, na maior parte das vezes. As vítimas de homofobia ainda têm muita dificuldade em falar, por vergonha, insegurança e medo de represálias

Em entrevista, o corajoso Alex Moraes da Rocha, professor renomado e muito querido em nossa cidade, explica que a primeira vez que passou por homofobia foi ao buscar uma vaga de emprego. Recém-formado, teve sua vaga de emprego recusada por um diretor de uma escola no Rio de Janeiro que alegou que apesar de ser muito bem qualificado, não seria contratado devido a sua “opção” sexual e que ele poderia ser uma má influência aos alunos da escola.

Em outro triste acontecimento, Alex relata que já se sentiu diminuído muitas outras vezes por conta de sua orientação sexual: “Uma vez, acompanhado de uma amiga em uma boate – que já não existe mais - um rapaz se aproximou e perguntou o que precisaria fazer para transar com a minha amiga. De imediato, respondi que ele deveria começar tratando ela de forma adequada. Em resposta, o rapaz me xingou, disse que eu só estava falando assim porque ele não queria transar comigo, e em seguida, me desferiu um soco no rosto. Na delegacia, ele disse ao delegado que havia socado o meu rosto por eu estar me ‘insinuando’ para ele.”

Falta de políticas públicas

Relatos como esse, que deveriam assustar os governantes e servir de pilar para políticas públicas de um grupo social que sofre tanto com a violência, não são bem vistos e tudo anda na contramão. Pesquisas provam que com o passar os anos, a violência de mostra cada vez mais brutal. Em 2010 ocorreram 130 homicídios, enquanto em 2017, esse dado já computava 445 – um aumento de 242% em apenas sete anos.

O preconceito percorre as múltiplas camadas da sociedade e por vezes, é institucional. Até 2020, homens, homossexuais ou bissexuais, eram considerados inaptos a doarem sangue. Em 2019 houve um levante no Conselho Federal de Psicologia, com apoio declarado do Governo Federal, no intuito de que “cura gay” fosse novamente instituída no Brasil. Felizmente, caiu por terra.

E de fato, a violência não atinge somente a nossa realidade, mas é fenômeno de grandezas mundiais. Ser homossexual é considerado crime passível de morte em países radicais religiosos, como: Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos, Irão, entre muitos outros. Em 35% dos países é perigoso revelar a homossexualidade, podendo ter penas de até dez anos de prisão ou prisão perpétua.

Xô preconceito!

Homossexualidade não se trata de perversão humana, mas sim, de uma preferência individual de cada pessoa, exprimida por meio da sua expressão de sexo, gênero, sexualidade e amor. Muitos podem questionar e dizer que se trata de uma escolha e eu lhes perguntarei: “Em que dia da sua vida você escolheu ser heterossexual?”.

Eu posso escolher muitas coisas na minha vida, seja o meu almoço, a roupa que irei vestir no dia de amanhã, a cor do meu próximo carro. Agora, o que realmente se gosta, não dá para escolher. Você gosta e pronto. Amor não se explica, amor se sente!

Esperamos que daqui a alguns anos, toda sociedade consiga olhar para trás e perceber que 420 pessoas mortas em um ano, de forma violenta, por serem LGBTQIA+, soe como um absurdo assim como a escravidão e a violência contra a mulher soam nos dias atuais - ou ao menos deveriam soar. Homofobia é coisa do passado, e crime!

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Jovem, advogado criminal, Chevalier na Ordem DeMolay e apaixonado por Nova Friburgo. Além das Montanhas vem para mostrar que nossa cidade não está numa redoma e que somos afetados por tudo a nossa volta.

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