Luta contra a desinformação e não contra a vacinação

Lucas Barros

Além das Montanhas

Jovem, advogado criminal, Chevalier na Ordem DeMolay e apaixonado por Nova Friburgo. Além das Montanhas vem para mostrar que nossa cidade não está numa redoma e que somos afetados por tudo a nossa volta.

quinta-feira, 18 de julho de 2024

Uma luta foi travada contra uma grave epidemia, guerra entre informações verdadeiras e falsas, negacionismo e uma população desconfiada de uma simples picada no braço. Pode parecer que se trata de uma discussão recente, mas estamos falando de 1904, data em que ocorreu a Revolta da Vacina.

O motim popular do início do século passado teve uma grande comoção popular, com direito a uma confusão generalizada na sociedade, cujo seu estopim: a obrigatoriedade da vacinação contra a varíola. As vacinações à época eram forçadas e os agentes sanitários que entrassem nas casas, iam vacinar os moradores, querendo eles ou não.

O momento político era outro. Pouco se entendia sobre os efeitos da vacinação no corpo humano. Era tudo muito novo. E assim, a população reagiu: 30 pessoas morreram, 110 ficaram feridas e quase mil foram presas, em meio a casas apedrejadas, bondes tombados, fios de iluminação pública cortados, protestos, barricadas e movimentos antivacinas.

O motim de 1904 nos deixou algumas lições importantes, em especial a necessidade do envolvimento da população nas ações públicas e como a eficácia das vacinas na longevidade humana foi extremamente importante para o aumento da qualidade de vida e de expectativa de vida da população mundial.

E assim nos conscientizamos e nos tornamos uma nação exportadora de vacinas. De certa forma, a população, ao longo de todo o século passado, se conscientizou sobre a necessidade de se vacinar para se proteger contra doenças que haviam até sido consideradas extintas. No entanto, desde a pandemia, o país tem lutado para recuperar suas taxas de vacinação.

 

Brasil reverte queda

 

O Unicef e a Organização Mundial da Saúde (OMS) lançaram, na última segunda-feira, 15, novos dados sobre imunização infantil no mundo (Wuenic). Enquanto a maioria dos países não conseguiu alcançar suas metas, o Brasil se destacou positivamente e conseguiu sair de uma triste lista dos 20 países com mais crianças não imunizadas no mundo.

O relatório aponta que o número de crianças que não receberam nenhuma dose da DTP1 (também conhecida como a tríplice, para combate a difteria, tétano e coqueluche) caiu de 687 mil em 2021 para 103 mil em 2023. Já o número de crianças que não receberam a DTP3 caiu de 846 mil em 2021 para 257 mil em 2023.

 

Taxa de vacinação cai no mundo

 

Apesar de o Brasil avançar positivamente na vacinação, globalmente, o cenário tem se mostrado preocupante. Com a internet e a globalização, movimentos antivacinas ganharam forças para espalharem suas ideias e ganharem as redes sociais, trazendo desinformação.

As redes sociais criaram uma oportunidade não apenas para disseminar informações precisas por meio de pesquisas, mas também deram palco para muitas pessoas, sem qualquer experiência médica ou formação científica, atraírem apoiadores e convencerem cada vez mais as pessoas a não se vacinarem.

Atualmente, mais pessoas estão deixando de se vacinar e de vacinar os seus filhos. De acordo com os dados do Wuenic são 2,7 milhões de crianças a mais que não foram vacinadas ou possuem imunização incompleta, em comparação com os níveis pré-pandemia de 2019.

Apesar da reconhecida eficácia da vacina pelas pesquisas científicas, o movimento de oposição à ciência cresce. Leonardo Pinheiro Polo, médico pela faculdade de medicina de Petrópolis, ortopedista e traumatologista, alerta para o afastamento da população à métodos de prevenção: “No mundo pré-pandemia, o principal motivo pela falta de vacinação se dava pela dificuldade de acesso da população à saúde básica. No entanto, no mundo pós-pandemia, se dá especialmente pela falta de segurança que as pessoas adquiriram devido a quantidade de informações propagadas pelo movimento antivacina e pela polarização política no nosso país.”

 

Surtos de sarampo

 

Os dados também mostram que, globalmente, as taxas de vacinação contra o sarampo estagnaram. São quase 35 milhões de crianças sem proteção ou com proteção parcial. Esses números ficaram muito aquém da cobertura de 95% necessária para prevenir surtos, evitar mortes desnecessárias e uma politica para eliminação do sarampo.

Nos últimos cinco anos, surtos de sarampo atingiram e continuam atingindo 103 países – onde vivem aproximadamente três quartos dos bebês do mundo. A baixa cobertura vacinal (80% ou menos) foi um fator importante. A OMS alerta que os casos de sarampo cresceram 13%, enquanto o de número de mortes, em 43%.

 

HPV: luta contra o câncer

 

“A principal causa de mortalidade em mulheres na fase fértil são às neoplasias, em especial o câncer de mama e o câncer de colo de útero. A vacinação do HPV, não apenas para meninas mas também para meninos, ajuda e muito a combater uma causa de morte tão prevalente no mundo”, explica o médico Leonardo Polo.

No entanto, a cobertura da vacina contra o HPV está bem abaixo da meta de 90% para eliminar o câncer do colo do útero como um problema de saúde pública, alcançando apenas 56% das adolescentes em países de alta renda e 23% em países de baixa e média renda.

Nem tudo está perdido. Apesar disso, precisamos fazer a nossa parte e nos prevenir o máximo possível contra as muitas doenças existentes que possuem cobertura vacinal. Se vacinem. Vacinem seus filhos. A luta deverá sempre ser contra a desinformação e jamais contra a vacinação.

 

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