GTRS promove rodada de conversa com candidatos à prefeitura

Lucas Barros

Além das Montanhas

Jovem, advogado criminal, Chevalier na Ordem DeMolay e apaixonado por Nova Friburgo. Além das Montanhas vem para mostrar que nossa cidade não está numa redoma e que somos afetados por tudo a nossa volta.

quinta-feira, 29 de agosto de 2024

O Grupo de Trabalho de Resíduos Sólidos de Nova Friburgo (GTRS) organizou uma roda de conversa com os candidatos à Prefeitura de Nova Friburgo na terça-feira, 27. O evento teve como objetivo dialogar e promover reflexões sobre temas cruciais para a cidade, com foco na gestão de resíduos sólidos.

Com o convite estendido a todos os candidatos, a reunião ocorreu no Espaço SustentArp. Estiveram presentes quatro dos cinco candidatos à prefeitura sendo estes Wanderson Nogueira (PDT), Zé Alexandre (PT), Sérgio Louback (Republicanos) e o candidato a vice prefeito, Leonardo Castro (Novo). Por e-mail foram encaminhadas algumas perguntas prévias aos candidatos. O foco dos debates foi na elaboração de soluções para os resíduos sólidos de nossa cidade, em especial sobre o Plano Municipal de Saneamento Básico (PLAMSAB) e a proposta de lei do Plano Municipal.    

Cada candidato teve 15 minutos iniciais de fala. Nesse tempo, os membros do GTRS fizeram perguntas e algumas considerações sobre a temática. Os candidatos apresentaram suas propostas e houve uma segunda rodada para todos os candidatos novamente colocarem eventuais questões que não foram apresentadas.

 

O grupo

Fundado em 2019, o GTRS é uma organização sem fins lucrativos, criada com o objetivo de discutir a política de resíduos sólidos em Nova Friburgo. Composta por voluntários, trabalha em prol de uma sociedade sustentável por meio de debates focados na elaboração de políticas públicas para o gerenciamento de resíduos sólidos municipais.

Coordenados pelos professores Anderson Namen e Ana Moreira (Uerj/IPRJ), conta com 18 membros permanentes. A diversidade de conhecimentos é uma característica central do grupo, que reúne participantes de instituições de ensino e pesquisa (Uerj, UVA e Embrapa), empresas e representantes da sociedade civil e de organizações (AMA Lumiar e Instituto Socioambiental Compor).

 

Um problema maior que Nova Friburgo

Muitos acreditam que discutir o descarte adequado de resíduos sólidos em nosso município é apenas uma questão ambiental. Mas essa visão é limitada. Na verdade, a maneira como lidamos com o lixo é também um grande problema social, trazendo inúmeros prejuízos que muitas vezes passam despercebidos.

Você já parou para refletir sobre a quantidade de lixo que descarta diariamente? Estima-se que cada brasileiro produza, em média, 379,2 quilos de lixo por ano. Isso significa que cada habitante de qualquer município do país joga fora mais de um quilo de resíduos por dia, segundo o Panorama de Resíduos Sólidos no Brasil de 2020.

Se isso já é alarmante, pense agora que o Brasil abriga cerca de 210 milhões de pessoas. Todos os dias, somos responsáveis por descartar quantidades crescentes de resíduos. Afinal, estamos realmente dando o destino correto a todo esse lixo que produzimos?

Infelizmente, os resíduos sólidos não desaparecem com um simples estalar de dedos. Quando colocamos o saco de lixo para fora de casa, o trajeto até o descarte adequado é longo. E, por mais que o caminhão de coleta passe ou as ruas sejam varridas, os resíduos ainda continuam ao nosso redor.

A maior parte dos resíduos gerados pela população brasileira não passa por nenhum tipo de coleta. De acordo com o Sistema Nacional de Informações sobre o Saneamento, mais de 1.000 municípios do país não oferecem coleta de lixo domiciliar para toda a população urbana.

A realidade brasileira é que a maior parte dos municípios não tem a menor preocupação por um descarte adequado de todo esses resíduos produzidos. Mais de 40% dos resíduos sólidos urbanos, são despejados nos mais de três milhões de lixões espalhados por todo país, o que leva a contaminação do solo e da água por centenas de anos.

 

Nós pagamos essa conta

Anderson Amendoeira Namen, doutor pela Coope/Uerj, membro do GTRS e professor da Uerj e UVA explica que a falta de políticas públicas que estejam relacionadas à gestão de resíduos acaba encarecendo os custos advindos ao município e, claro, aos cidadãos: “Políticas que pensem na questão da coleta seletiva, na valorização e no envolvimento de associações de catadores, na transformação de resíduos em produto de valor agregado, podem trazer, além de redução de despesas relacionadas à gestão dos aterros sanitários, trabalho e renda para parte da população. Não podemos esquecer das oportunidades que o poder público tem de obter recursos a partir de uma melhor gestão dos resíduos, exemplo concreto são os recursos relacionados ao ICMS Verde”, observa.

E se você acha que pagamos apenas pela coleta do lixo, está muito enganado. Nós, contribuintes, pagamos caro pela coleta do lixo, pelo transporte até o lixão ou aterro sanitário, e pelo espaço onde o lixo foi ou está sendo descartado – mesmo por aqueles espaços que não tem mais a capacidade de receber mais resíduos.

A metodologia antiga de descarte de lixo – através dos contratos padrões na gestão de lixo, levando os resíduos ao aterro sanitário – trazem prejuízos irreparáveis não somente ao meio ambiente e a nossa saúde, mas também, ao nosso bolso, enquanto contribuintes, dando um triste (e porco) fim a tudo que descartamos.

Com métodos obsoletos de descarte, há criação de vários riscos ambientais que vão desde a contaminação dos lençóis freáticos até o risco de explosões por conta dos gases emitidos pelo lixo. No fim das contas, todo material continua acumulado no local durante décadas, até que o aterro esteja no limite. Em um ciclo, novos aterros são abertos. Os antigos ainda continuam poluindo tudo o que podem. E nós, continuamos a pagar por todos eles.

 

Inovação que transforma lixo em luxo

Soluções diversas já são usadas em todo o planeta. Em Oslo, capital da Noruega, cerca de metade da cidade é aquecida pela queima de lixo, de onde também grande parte da sua energia elétrica é produzida. E sabe qual a problemática norueguesa? Eles não têm mais lixo para queimar e hoje, chegam até a ter que importar lixo da Inglaterra e da Irlanda.

Já pensou se deixássemos de gastar dinheiro com o nosso lixo e transformarmos ele em uma excelente fonte de renda para a cidade, por meio da geração de energia, criação de vagas de empregos, venda de matéria prima e até mesmo, combustíveis para veículos? Parece uma ótima ideia, não? E é!

Esperamos que um dia, a problemática do lixo friburguense seja como a norueguesa e a nossa maior preocupação seja em como comprar os resíduos alheios das cidades vizinhas para produzirmos energia e gerar renda para todos - e não em como faremos para abrirmos novos aterros sanitários, em um ciclo vicioso e sem fim.

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