A festa com dinheiro público

Lucas Barros

Além das Montanhas

Jovem, advogado criminal, Chevalier na Ordem DeMolay e apaixonado por Nova Friburgo. Além das Montanhas vem para mostrar que nossa cidade não está numa redoma e que somos afetados por tudo a nossa volta.

quinta-feira, 14 de abril de 2022

Desde o cafezinho na padaria até a compra de um aparelho eletrônico em uma loja de conveniência, ou mesmo se abrir a torneira e beber um pequeno copo de água, você paga imposto. De acordo com o Instituto Brasileiro de Planejamento Tributário (IBPT), o Brasil está entre os 30 países que mais cobram imposto no mundo. Em contrapartida, está na pior colocação entre àqueles que transformam os tributos em benefícios para a sociedade.

Somente em 2021, o Brasil arrecadou R$ 1,878 trilhão em impostos, quase 20% a mais do que no ano anterior. Em números mais palpáveis, quer dizer que nós trabalhamos e nos esforçamos cerca de 150 dias do ano, somente e tão somente para pagar tributos para o governo.

De acordo com o Impostômetro, da Associação Comercial de São Paulo, que registra o montante de tributos pagos pelos brasileiros, do começo do ano até ontem, 13, foram arrecadados R$ 838 bilhões em imposto em todo país. Somente em Nova Friburgo, o valor alcançado até o momento chega ao montante de R$ 316 milhões.

É inegável que o imposto é necessário e o Estado precisa arrecadá-los, afinal, essa é a única forma de manter os hospitais e demais repartições públicas em pleno funcionamento, seja através do pagamento de funcionários públicos ou por meio das obras em infraestrutura. A grande questão é, o dinheiro vem sendo bem empregado?

O uso duvidoso dos recursos públicos

Na última segunda feira, 11, uma notícia ganhou atenção de todos os portais de notícia, após a divulgação da lista de compra do Exército de mais de 35 mil unidades do remédio Sildenafila, popularmente conhecido como Viagra - o mais usado no mundo para tratar a disfunção erétil. O Exército Brasileiro afirma que o medicamento será utilizado para o tratamento de hipertensão pulmonar arterial – e de fato, é viável como uma alternativa mais barata, segundo médicos.

Contudo, surpreende que além de Viagra, o Ministério da Defesa também aprovou a compra de medicamentos estéticos, usados no tratamento contra calvície. E se já não parecesse suficiente, foram adquiridas 60 unidades, variando de 10 a 25 centímetros - algo em torno de R$ 4 milhões – em, pasmem, próteses penianas infláveis! Sim, o dinheiro que contribuímos está sendo usado para pagar tratamentos capilares e cirurgias contra disfunção erétil.

Práticas de abuso com o dinheiro público ocorrem sempre e em tempos não muito distantes. Em 2019, o STF licitou um cardápio que incluía desde o café da manhã, passando pelo “brunch”, almoço, jantar e coquetel. Mesmo com os questionamentos acerca da real necessidade da compra de medalhões de lagosta e vinhos premiados para refeições servidas aos seus integrantes e convidados, a casa maior da Justiça realizou o polêmico jantar de R$ 480 mil.

Em 2020, o Exército contratou um buffet regado a whisky 12 anos, cerveja e vinhos - contando com quatro tipos de uvas diferentes - para festividades no interior do Mato Grosso do Sul. Além de muita bebida, a festa contou com mesa de frios, camarão, peixes da melhor qualidade e filé mignon. A cereja do bolo é a exigência da utilização de guardanapos em tecido Oxford ou cambraia de linho. E o custo? R$ 8 milhões aos cofres públicos.

Aqui em Nova Friburgo, recentemente a prefeitura abriu um processo licitatório para contratação de serviços de alimentação para eventos e recepções. A repercussão foi negativa entre os friburguenses e após descoberta que empresa vencedora da licitação, conforme apurado pela TV Zoom, teria como seu ramo principal de atuação, o aluguel de máquinas e equipamentos para construção, a prefeitura optou por acatar a recomendação do Ministério Público e voltou atrás, cancelando a licitação.

E cá entre nós, apesar de não sermos os gestores, deveríamos ser os verdadeiros beneficiados do dinheiro público, já que, todo santo dia, contribuímos - e de uma forma muito árdua - para que os cofres públicos encham. Deveria ser lógico que os nossos representantes, eleitos pelo povo – sejam eles de direita, centro ou de esquerda - tragam melhorias para a população como um todo, e não em detrimento de uma minoria!

 Há um sentimento de revolta dos donos dos lares brasileiros, se esforçam muito para conseguir comprar a cesta básica enquanto as repartições públicas realizam grandes banquetes regados a regalias. É uma aberração saber que enquanto pessoas morrem por falta de estrutura e medicamentos nos hospitais, o nosso dinheiro esteja sendo empregado em próteses penianas e remédios para crescimento capilar para militares.

Enquanto isso, seguimos nós, brasileiros, inconformados e impotentes, contribuindo 150 dias de trabalho ao Estado e vendo que vivemos num país que oferece muito para uma parcela extremamente seleta da sociedade. E pior, à nossas custas.

 

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