Brasil andando para trás

Lucas Barros

Além das Montanhas

Jovem, advogado criminal, Chevalier na Ordem DeMolay e apaixonado por Nova Friburgo. Além das Montanhas vem para mostrar que nossa cidade não está numa redoma e que somos afetados por tudo a nossa volta.

quinta-feira, 02 de junho de 2022

Desde a eclosão do fenômeno meteórico e devastador da Covid-19, a vida que já andava mal, agora só parece piorar. Aos mais otimistas, tempos melhores virão. Aos mais pessimistas – realistas, talvez – será extremamente difícil recuperarmos rapidamente a qualidade de vida que um dia desfrutamos.

O Brasil, sem a menor dúvida, vive o momento mais delicado dos seus últimos tempos. Ano de eleição, polarização, nervos a flor da pele em discussões acaloradas – “quem é melhor, o lado A ou o lado B?” -, salários baixos, inflação alta, dólar caro, tudo caro, falta de segurança, desemprego em massa, e o desespero com o dia de amanhã. Vivemos uma crise instaurada em nosso país: financeira e política.

2022 ou anos 80?

Se antes podíamos encher o carrinho de compras com R$ 100, hoje, a situação é bem diferente. Não muito distante, há cinco anos, era possível comprar carne, frango, leite, presunto, mussarela e óleo com essa quantia e rendia até troco. Hoje, só o básico: arroz, café, feijão, uma carne – de segunda – açúcar, café e olhe lá se não precisar complementar.

A inflação galga a passos largos, nosso dinheiro se desvaloriza e o poder de compra do brasileiro caiu 31%. Assim, precisamos esforçar mais para ‘tentar’ manter o padrão, que por vezes parece estar fadado ao insucesso, já que esses aumentos de preço afetam tanto os produtos básicos do dia-a-dia.

A inflação sempre existiu. É fato! Contudo, por mais que os preços subissem, os salários mínimos buscavam acompanhar razoavelmente para garantir ao menos a ‘sobrevivência’ da população, algo que não consegue nem ser feito desde o começo da pandemia. Todos nós sentimos, mas quem mais sofre, são as camadas mais pobres.

E não difícil de acreditar, o Brasil voltou para o mapa da fome! Para termos noção da gravidade, em 2014 até 2016, o número de famintos era 3,9 milhões. Entre 2016 e 2018, aumentou, 7,5 milhões. Hoje, 10.3 milhões de brasileiros estão – em termos técnicos e poéticos – em situação de insegurança alimentar grave, ou seja, fome!

Em um país que produz alimentos suficientes para dar de comer a todos os habitantes, a fome soa nada mais do que um crime e reflexo da crescente desigualdade desse país que cada dia mais aumenta! E o que vem sendo sido pensado pelos nossos políticos e candidatos? A prioridade é: eleição, fundo eleitoral, alianças, redução no valor de impostos sob armas de fogo e sob arrendamento de aviões.

Bom, com tanta gente passando fome e morrendo, porque estamos falando em armas? Soa irônico e incoerente. Por sinal, até alguns estados dos EUA, estão pensando em rever suas políticas, visto que “fugiram um pouco do esperado” e nós estamos indo da direção contrária. Afinal, nos EUA, nos últimos 52 anos, foram 2.054 casos de tiroteios em massa. Não, acredite você não leu errado! E ainda, desde 2009, foram 274 tiroteios em massa, com 1.500 baleados e 1.000 mortos.

De outro lado, as mortes violentas sobem 81% no Brasil, de acordo com os cartórios do Registro Civil. O desmatamento cresce 56% na Amazônia e o desemprego afeta 11 milhões de pessoas no país, diz o IBGE. Sites de expressão estão ensinando como usar fogão à lenha para economizar o gás que está caro; a carne virou artigo de luxo; educação e pesquisas sofrem cortes. Parte da população quer voltar com o voto em papel. Estamos rediscutindo democracia e liberdade de expressão.

Ah, não sei você, mas esse não era o futuro que nenhum de nós imaginava. Em vez de traçarmos planos para melhorarmos nossa saúde, diminuir o desemprego, abaixarmos os valores dos bens de consumo e serviços, acabarmos com a intolerância e fomentarmos o nosso desenvolvimento, estamos buscando remédios para problemas antigos.

Parece que desde então só andamos para trás e ficando cada vez mais distantes do ideal. A sensação que temos, por vezes é que voltamos aos anos 1980 e nos estacionamos lá: inflação descontrolada, dólar nas alturas, miséria generalizada, desemprego, militares envolvidos com a política e um mundo totalmente polarizado e inflamado pelo ódio, em que ou você é do lado A ou do lado B, relembrando os tempos de guerra fria.

Nada parece melhorar, tudo só piora a cada dia. O sentimento é que estamos andando para trás, vendados, esperando o momento em que cairemos, repentinamente, no precipício. Às vezes me pergunto se um Brasil melhor seria um sonho de criança, dentro de um mundo de fantasia, ou se é uma esperança de um adulto, que continua iludido.

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