O filme “Aumenta Que é Rock ‘n’ Roll”

O enredo, assinado pelo roteirista L. G. Bayão, constitui uma adaptação do livro “A onda maldita – como nasceu a Fluminense FM"
sexta-feira, 03 de maio de 2024
por Gustavo Valadares*
(Foto: Divulgação/Mariana Vianna)
(Foto: Divulgação/Mariana Vianna)

Esperei alguns dias para escrever algumas linhas sobre “Aumenta que é rock and roll”, filme que está em cartaz aqui na cidade (contando, aliás, com grande cobertura de distribuição nas salas de cinema de todo o país), em razão do impacto avassalador do que vi, do que ouvi, e principalmente do que senti ao assisti-lo por duas vezes num intervalo de uma semana. Eu sou capaz de jurar, fora de brincadeira, que, além de toda a magia constante das imagens e dos sons apresentados, o filme tem variações constantes de temperatura, tem cheiros diversos, tem partes que a gente chega a tocar com as mãos inclusive.

O enredo, assinado pelo roteirista L. G. Bayão, constitui uma adaptação do livro “A onda maldita – como nasceu a Fluminense FM”, de autoria do jornalista e radialista Luiz Antonio Mello, cofundador justamente da mitológica rádio Fluminense FM, a “Maldita”, cujo surgimento serve como uma espécie de pano de fundo da trama principal. O longa tem a competente direção de Tomás Portella, com produção de Renata Almeida Magalhães.

Uma coisa que é bem interessante é que muitas cenas foram filmadas em Niterói, cidade onde se instalava a Flu FM. Na época, em meus tempos de faculdade, eu morei a poucos quarteirões do prédio da rádio, ali entre 1981 e 1986, portanto, aquilo tudo me pegou em cheio. Tive o privilégio, até, graças a um burburinho prévio que havia entre o público roqueiro, de ter escutado a transmissão inicial da Maldita, assim que ela entrou no ar em março de 1982. Poder ver isso acontecer novamente, ali diante dos meus olhos na telona, fez rolar sem dúvida uma emoção diferente, daquelas em que a gente enche o peito de ar e abre um sorriso, com aquela sensação de conexão, de pertencimento, como quando voltamos para a nossa casa, sei lá, após uma longa ausência.

Tive a sorte de estudar, desde menino, num colégio que sempre prezou muitíssimo a parte cultural, das artes em geral, especialmente a música. Eu me lembro de vários festivais que foram realizados no colégio Cêfel, um deles (salvo engano em 1978!) tendo um extinto cinema local como palco. Naqueles tempos, pelo menos dentro da minha bolha particular (que é onde vivo confortavelmente, até hoje rs) a gente ligava a vitrolinha no meio da noite, o ritmo do som era pesado, subíamos o volume e o vizinho gritava, era como um trem sacudindo a cabeça, parado é que não dava pra ficar, todo mundo que escutava gritava mais alto, ninguém conseguia segurar, aumenta que isso aí é rock and roll, rock and roll, rock and roll. Putz, que saudades do Celso Blues Boy. 

A Fluminense FM foi um dos veículos de comunicação mais influentes do seu tempo, em especial ainda nos anos 1980, quando o país respirava ares de redemocratização. Ela gostava de tocar o que ninguém mais tocava, bandas novíssimas (muitas vezes a partir de fitas demo), que pouco tempo mais tarde explodiriam no cenário nacional, e também os chamados artistas “malditos”, músicos como Tom Zé, Itamar Assumpção, Jards Macalé e outros mais, que caminhavam pelo experimentalismo, explorando temas às vezes inconvenientes, digamos assim, indo contra o que era meramente popular. No filme, aliás, a direção musical vem assinada pelo Luiz Antonio Mello, e a trilha sonora foi composta pelo Dado Villa-Lobos (Legião Urbana).

A importante conexão que rolou, na época, entre a Fluminense FM e o Rock in Rio, também é muito bem retratada no filme. A escolha das bandas pro primeiro e inesquecível festival, em 1985, foi fruto de uma consulta prévia à equipe e aos ouvintes da Maldita, o que é simplesmente uma coisa sensacional.  Aliás, basta a gente observar o line-up escalado para o Rock in Rio desse ano de 2024, por exemplo, pra perceber de modo cristalino a falta (gigante, hein!) que a emissora faz.

A trilha sonora do filme obviamente não contempla todo o acervo musical, todos os acontecimentos culturais que construíram durante muitos anos história da rádio, fazendo apenas uma espécie de resumo, enfim, um breve recorte. Porém, de alguma maneira, todo aquele universo cultural maravilhoso que a rádio foi capaz de canalizar durante a sua trajetória, todas as bandas, todos os artistas, estavam de alguma maneira presentes ali, o tempo todo, na sala de cinema. Senão na telona, ocultos em alguns dos frames, ao menos estavam sentados ao meu lado, ocupando as poltronas vizinhas. Fiz questão absoluta, aliás, de cumprimentar todos eles.

Registre-se, ainda, que o fato de eu produzir há vários anos, juntamente com o amigo Sergio Duarte, um podcast que tem como tema o rock’n’roll, não é mera coincidência. O “Flu”, de “Rock Flu”, traz na verdade um significado duplo, eis que brincamos sempre um pouco com o tema futebol (Fluminense, o clube queridão), mas a nossa grande inspiração, até com relação ao próprio formato do programa, sempre foi a Fluminense FM, a rádio queridona.

A Maldita, tão bendita, me marcou para sempre, e o longa-metragem, pelo visto, vai seguir esse mesmo caminho.

*Gustavo é torcedor do tricolor Fluminense, apaixonado por Rock and Roll

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