Fora do calendário, alguém viu o verão por aí?

Chuvas contínuas e raros dias de sol prejudicam negócios, com quedas expressivas no comércio, no turismo e na produção agrícola
sábado, 12 de fevereiro de 2022
por Adriana Oliveira (aoliveira@avozdaserra.com.br)
Verão cinzento em Nova Friburgo (Fotos: Henrique Pinheiro)
Verão cinzento em Nova Friburgo (Fotos: Henrique Pinheiro)

Termômetros marcando 12 graus em pleno fevereiro, colheitas perdidas, piscinas e bares de clubes vazios, mercadorias encalhadas, placas de aquecimento solar ociosas… São muitos os prejuízos desse verão em que não para de chover e o sol raramente aparece, afetando duramente o comércio e outros setores de Nova Friburgo, como o de turismo e o agrícola.

Quem esperava pela estação mais quente e colorida do ano para recuperar ou impulsionar seus negócios, sobretudo depois das restrições impostas pela pandemia, teve que se contentar com um verão que chegou apenas no calendário, e mais cinzento do que nunca.

Presidente do Sindicato dos Agricultores Familiares de Nova Friburgo, José Carlos Cardinot, o Juca, revela que mais da metade da produção de hortaliças não cultivadas em estufas na região de São Lourenço e Salinas foi  perdida desde dezembro, por excesso de chuva. Só de couve-flor, cerca de 125 caminhões deixaram de ser carregados  por dia.

Outras hortaliças que sofrem com o solo encharcado são brócolis, alface, salsa, tomate, pimentão e abobrinha, cujos preços finais para o consumidor explodiram. O total de pequenos agricultores afetados somente em Nova Friburgo chega a dez mil pessoas, que, segundo Juca, não contam com qualquer auxílio dos governos.

Além da perda da colheita, os produtores amargam ainda o alto custo de insumos como adubo e defensivos, que triplicaram de preço com a pandemia.

Estoques de moda praia encalhados

No comércio, lojas que renovaram os estoques com roupas mais frescas e leves já anteciparam as liquidações, faltando mais de um mês para o fim da estação. Biquínis, maiôs e sungas, só desfilam nas vitrines ou mofam dentro das gavetas.

Presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL) e do Sindicato do Comércio Varejista (Sincomércio) de Nova Friburgo, Braulio Rezende admite que as chuvas contínuas  vêm impactando  seriamente o movimento nas lojas. “Em alguns segmentos, as vendas chegaram a despencar até 30%”, diz ele.

Segundo Braulio, o mau tempo, com raros dias de sol desde outubro, tira friburguenses das ruas, afastam clientes dos restaurantes e reduzem o fluxo de visitantes nos hotéis e pontos turísticos como cachoeiras.

“No comércio, o problema atinge toda a cadeia: as sapatarias são afetadas com sua linha de verão; as óticas, com seus óculos de sol. As lojas de material de construção também, porque as pessoas adiam as obras. Enfim, o transtorno é generalizado no nosso setor”, observa Braulio.

O gerente de uma das lojas que mais vendem produtos para piscinas e equipamentos de energia solar, na Ponte da Saudade, calcula em mais de 50% a queda nas vendas no varejo, depois de todo um investimento feito no aumento dos estoques, na expectativa de um verão que não veio.

Fondue em pleno verão

Por outro lado, restaurantes tradicionais de Mury admitem que, pela primeira vez em muitos anos, aumentou a procura de clientes por pratos típicos de inverno, como fondue, além de vinhos tintos, em pleno verão friburguense. 

No clube mais tradicional da cidade, o Country, os dias de sol foram tão raros que, dos 6.584 frequentadores  (entre sócios e convidados) de todo o mês de janeiro, 1.044 foram à piscina em um único fim de semana de sol (dias 22 e 23). 

“Na semana de 14 a 23 de janeiro, que seria a última de férias das crianças antes do adiamento do início da volta às aulas, a frequência chegou a 3.587, metade de todo o mês, por conta de um rápido período de sol durante o verão”, informou o clube.

Para incentivar o movimento e atrair os sócios mesmo nos dias chuvosos, no início de fevereiro a diretoria pôs em ação o projeto Country Verão, com uma programação especial para adultos e crianças, com música ao vivo, locação de brinquedos e recreação infantil.

No bar da piscina, não fosse a fidelidade dos sócios, a situação estaria ainda mais cinzenta. Segundo Vinicius Schwartz, que administra o restaurante e o bar, o movimento caiu pela metade. “Estávamos com tanta expectativa, mas desde novembro só chove. Já é o segundo verão assim. Passado o pior da pandemia, voltou a aumentar o fluxo de sócios, mas, sem sol, não ajuda”, diz ele.   

Já clubes de piscinas naturais como os do Cascatinha passaram a apostar mais em atividades paralelas, como aluguel de salões para festas e serviço de restaurante.

Locais turísticos ao ar livre da cidade, como o Teleférico, também estão amargando a ausência de público, sobretudo nos fins de semana chuvosos. “Estamos trabalhando no vermelho, com todas as despesas para pagar, e o faturamento está praticamente zerado”, lamenta o empresário Rodolfo Acri.

“Só consegui ir à piscina do meu condomínio umas duas vezes, e assim mesmo no mormaço. Está todo mundo com a sensação de estar mofando”, conta  a estudante Maiara Carvalho, moradora de Nova Suíça.

La Niña até maio e frio de outono mais cedo

Na atualização mais recente, a Agência americana de Meteorologia, de sigla em inglês  NOAA, indicou que La Niña atingiu sua maturidade e deve se estender até maio, no outono, chegando ao fim às portas do inverno de 2022.  Um dos principais efeitos será o frio precoce.

Modelos meteorológicos de longo prazo indicam que o frio do outono deve chegar mais cedo, com temperaturas abaixo da média já em abril e maior queda dos termômetros a partir de maio. 

Segundo o diretor do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden), José Marengo, os verões no Brasil estão ficando mais irregulares e extremos. Picos de calor, chuvas fortes e estiagens prolongadas são comuns em diversos verões brasileiros, como já aconteceu, por exemplo, em 2005 e 2015. 

Tanto naquelas ocasiões como agora em 2022 os extremos são provocados pelo mesmo fator: a ocorrência do La Niña, um fenômeno atmosférico complexo, em que as temperaturas das águas na superfície do Oceano Pacífico sofrem um resfriamento. Esse fenômeno tem implicações do clima do planeta inteiro, em efeito cascata. Na América do Sul e no Brasil, La Niña facilita a formação de corredores de umidade da Amazônia em direção ao Sudeste, às vezes chamados de "rios voadores".

A umidade que sai da Amazônia é responsável por chuvas em boa parte do continente e La Niña antecipa a chegada de chuvas nas regiões Norte, Nordeste e Sudeste. Com isso, o corredor de umidade da Amazônia acaba não chegando à região Sul do país. Ou seja, enquanto chove demais no Sudeste,  aumenta a estiagem no Sul.

"É o segundo ano consecutivo do La Niña e isso tem efeitos sobre o clima no país", explicou Estael Sias, meteorologista da Metsul, à BBC News Brasil.

Somente neste início de ano, o Brasil já registrou três corredores de umidade da Amazônia, as famosas Zonas de Convergência do Atlântico Sul (ZCASs), responsáveis por essas chuvas intermitentes, que duram  dias seguidos. 

E a tendência é que o mês de fevereiro ainda seja marcado por chuva acima da média em muitas localidades. Cidades do Norte e Noroeste Fluminense castigadas por enxurradas e enchentes esta semana permanecem em alerta para mais chuva forte nos próximos dias. A região está entre as áreas onde mais choveu no Brasil nos primeiros dez dias de fevereiro de 2022.

Para Nova Friburgo, a previsão é de tempo instável e mais chuvas ao longo da próxima semana. Para o Estado do Rio, o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) prevê “volumes de chuva significativos” pelo menos até esta segunda-feira, 14. Segundo a Defesa Civil Municipal, o acumulado de chuvas no último mês, até o meio-dia desta quinta, 10, está entre 145mm e 360mm.

Linhas de ônibus alteradas

Por conta do mau tempo constante que cobriu várias ruas de lama e abriu um número incontável de buracos, a Faol alterou a partir desta quarta-feira, 9, o itinerário de várias linhas de ônibus. Segundo a empresa, os trajetos voltarão à normalidade assim que as condições de tráfego permitirem:

  • Alto de Olaria (micro): Indo e voltando pela Rua Acre, devido a buraco na Rua Santa Catarina.

  • Alto do  Catete: Indo até Furnas, devido a buraco na estrada.

  • Alto do Floresta: Não está indo até o Floresta, devido buraco na estrada.

  • Alto do Schuenck: Não está indo na Fazenda Velha, devido a buracos na estrada.

  • Bairro Novo: Indo até o antigo ponto final, devido a buraco na estrada. 

  • Campo do Coelho:  Indo até a caixa d'água, devido a buraco na estrada.

  • Fazenda Rio Grande via Florândia: Indo até o Bar do Oséias, devido a buraco na estrada. 

  • Nova Esperança: Suspenso, devido a lama e buraco na estrada.

  • Pilões: Indo até o asfalto, devido a lama na estrada.

  • Riograndina via Maringá: Indo até o armazém, retornando pela Serraria, devido a buraco na estrada.

  • Rio Grande de Cima:  Suspenso devido a lama e buraco na estrada.

  • Salinas: Indo até o asfalto, devido a lama na estrada.

  • Santa Bernadete:  Indo até a Maristela, devido a buraco na estrada.

  • Santa Cruz: Suspenso devido a lama e buraco na estrada.

  • São Pedro  via Bocaina: Indo até o Clube Estrela devido a obras da Águas de Nova Friburgo.

  • Vargem Grande: Suspenso devido a buraco na estrada. 

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TAGS: Clima