22 de abril: descobrimento do Brasil e os portugueses que viveram em Nova Friburgo

Dia da Comunidade Luso-Brasileira também é festejado nesta data. Grêmio Português de Nova Friburgo organiza evento para festejar os 90 anos da entidade
quinta-feira, 20 de abril de 2023
por Jornal A Voz da Serra
(Foto: Henrique Pinheiro)
(Foto: Henrique Pinheiro)

O 22 de abril de 1500, data oficial da chegada dos portugueses ao país, marcou o início da colonização brasileira, em um dos momentos mais marcantes das navegações realizadas por Portugal durante o século 15. A partir desse acontecimento, a presença portuguesa foi constante, embora mínima àquela época. Por volta de 1530, com a implantação de medidas colonizatórias, cresceu o interesse dos portugueses pelo Brasil.

A expedição de Pedro Álvares Cabral contava com 13 embarcações, sendo nove naus, três caravelas, uma nave de mantimentos, e uma tripulação estimada entre 1200 a 1500 homens, que zarparam de Lisboa em 9 de março de 1500. O avistamento de terras foi relatado por Pero Vaz de Caminha, escrivão da expedição:

"Em 22 de abril — quarta-feira pela manhã — topamos aves a que os mesmos chamam de fura-buchos. Neste mesmo dia, à hora de vésperas [entre 15h e 18h], avistamos terra! Primeiramente um grande monte, muito alto e redondo; depois outras serras mais baixas, da parte sul em relação ao monte e, mais, terra chã. Com grandes arvoredos. Ao monte alto o Capitão deu o nome de Monte Pascoal; e à terra, Terra de Vera Cruz".

Mas foi só no dia seguinte que Cabral decidiu enviar um grupo de homens comandado por Nicolau Coelho, para fazer os primeiros contatos com os nativos. Sobre esse “encontro”, Pero Vaz escreveu: “Eram pardos, todos nus, sem coisa alguma que lhes cobrisse as suas vergonhas. Traziam nas mãos arcos e flechas. A feição deles é parda, algo avermelhada; de bons rostos e bons narizes. Em geral são bem-feitos. […] Ambos […] traziam o lábio de baixo furado e metido nele um osso branco e realmente osso, do comprimento de uma mão travessa, e da grossura de um fuso de algodão, agudo na ponta como um furador. Metem-nos pela parte de dentro do lábio, e a parte que fica entre o lábio e os dentes é feita à roque de xadrez, ali encaixado de maneira a não prejudicar o falar, o comer e o beber”, registrou o escrivão. 

O contato foi tranquilo, com troca de presentes entre as duas partes, e alguns dos indígenas foram levados à embarcação onde estava o capitão-mor, Cabral, para que ele os conhecesse. Foram-lhes dados alimentos e vinho, mas eles rejeitaram a comida e não gostaram do que experimentaram, segundo Pero Vaz.

Os portugueses seguiram mais alguns dias explorando a costa brasileira, e no dia 26 de abril, um domingo, celebraram a primeira missa no Brasil, realizada pelo frei Henrique de Coimbra. Depois, os comandantes decidiram enviar uma embarcação para Portugal com a notícia do achamento da nova terra. 

No dia 2 de maio, a expedição de Cabral partiu do Brasil em direção à Índia. O rei português, D. Manoel I, ficou sabendo da nova terra ainda em 1500. Apesar disso, o Brasil ficou em segundo plano, uma vez que a prioridade portuguesa, naquele momento, era continuar com o comércio na Índia.

Foi somente a partir da década de 1530, com o declínio do comércio de especiarias e as invasões francesas, é que os portugueses iniciaram uma política de colonização. Nesse primeiro momento, eles implantaram algumas feitorias no litoral brasileiro e passaram a explorar o pau-brasil. (Fonte: Daniel Neves, Brasil Escola)

Laços portugueses e brasileiros

O descobrimento do Brasil levou à criação de outra data especial: o Dia da Comunidade Luso-Brasileira, que se tornou lei a partir do projeto de lei do senador Vasconcelos Torres, em 22 de abril de 1967, válida para todo o território nacional. A data lembra a fraternidade entre Portugal e Brasil, através do Tratado de Amizade, Cooperação e Consulta, também conhecido como "Estatuto de Igualdade", assinado em 22 de abril de 2000.

Durante 322 anos — de 1500 a 1822 — o território brasileiro foi colônia de Portugal, atraindo milhares de portugueses ao longo desse período, trazendo consigo seus costumes e tradições, principalmente durante o Ciclo do Ouro, no século 18. 

Além do idioma, Brasil e Portugal se consideram “nações irmãs”, a partir de semelhanças observadas nos traços étnicos, no folclore, na religião, arquitetura etc, entre outras tradições resultantes desta colonização. Após a independência, o Brasil continuou recebendo portugueses que chegavam animados para desbravar a nova terra. 

Entre eles, se destaca Antônio Clemente Pinto (1795/1869), que chegou com doze anos de idade e se tornaria Barão de Nova Friburgo. Português de origem simples, viveu na cidade do Rio com parentes que já residiam aqui. Antônio trabalhou inicialmente no comércio do centro da cidade.

Ajudado por João Rodrigues Pereira de Almeida, o barão de Ubá, enriqueceu por meio do comércio de escravos e adquiriu várias fazendas de produção de café nas regiões de Nova Friburgo, Cantagalo e São Fidélis. A Fazenda de Areias era a principal das demais 20 fazendas que Antônio Clemente possuía em Cantagalo.

Milionário, construiu residências suntuosas para morar com a família, como o antigo Palácio do Catete (hoje Museu da República, no Rio), o solar rodeado de jardins criados pelo paisagista francês Glaziou (hoje sede do Nova Friburgo Country Clube), e sobrados como a atual sede da Fundação D. João VI (Praça Getúlio Vargas), entre outras ricas moradias. O seu rápido enriquecimento desperta curiosidade até hoje: Antônio Clemente Pinto chegou a acumular mais riquezas do que o próprio imperador.

A ligação entre Portugal e Nova Friburgo

Passados os dois anos de pandemia da covid-19, o Grêmio Português retomou suas atividades, visando a comemoração dos seus 90 anos. Já no final de 2022, seus associados começaram a organizar a agenda com programação especial ao longo de todo o ano.

A entidade, presidida por Vera Cintra, tem cerca de 80 associados ativos. No momento, estão sendo organizados chás beneficentes, apresentação de danças, visitas à Casa do Minho (no Rio de Janeiro), rodas de conversa com descendentes, previsão de uma peça teatral contando a história do português Samuel dos Santos — fundador da Banda Euterpe e da Capela de Santo Antônio, no Suspiro, entre outras ações a serem divulgadas, posteriormente.

Dois importantes eventos estão sendo elaborados: Dia de Portugal, em 10 de junho, e o aniversário do Grêmio Português, no dia 11 de junho.

História do Grêmio Português

“O Grêmio Português de Nova Friburgo, associação criada com fins patrióticos e de auxílio a seus membros, foi fundado em 11 de junho de 1933, na sede da Associação Comercial, em reunião organizada por João César Piloto dos Santos, pelo professor Joaquim Nunes da Rocha (1º presidente), Porfirio Lopes Sá Carrapatoso e mais 75 sócios fundadores. 

Os estatutos foram aprovados em Assembléia Geral Extraordinária em 6 de agosto de 1933, na sede da Acianf. Sua primeira sede foi inaugurada em 12 de novembro de 1933 e no sobrado n.º 3 da Rua São João (atual Rua Monsenhor José Antônio Teixeira) esquina com a Praça XV de Novembro (atual Dermeval Barbosa Moreira).

Em 1º de julho de 1935, começou a funcionar a Escola do Grêmio, para o ensino primário. Sua primeira professora foi D. Anna Sampaio. As aulas, inteiramente gratuitas, começavam às 13h e terminavam às 16h. Os alunos tinham um uniforme que constava de blusa branca e calção ou saia azul. A blusa tinha um pequeno bolso, na frente do qual era colocado o distintivo que o Grêmio fornecia gratuitamente. Lecionou lá também o professor Menezes Wanderley.

Em 1960, o Grêmio deixou a sede da Rua São João, e as reuniões prosseguiram ora na sede da Acianf, ora na Gráfica e Editora Aliança (esquina das ruas Prefeito José Eugênio Müller e Dante Laginestra), ora na casa do presidente do Grêmio (Rua Monsenhor Miranda).

A atual sede, própria, fica na Avenida Euterpe Friburguense, 108, e teve sua pedra fundamental lançada em 3 de dezembro de 1961 com a presença do embaixador de Portugal, Dr. João de Deus Bataglia Ramos. Foi inaugurada em 10 de junho de 1967, estando em funcionamento até hoje.

Dentre os seus trabalhos atuais, o Grêmio Português vem se dedicando à recuperação, preservação e divulgação dos costumes e tradições portugueses na formação de Nova Friburgo, sendo também constante a presença de seus membros nos eventos da cidade. Através de festas típicas e eventos culturais em sua sede, o Grêmio mantém-se como um elo entre as duas pátrias irmãs: Brasil e Portugal.” (Fonte: Brasil Escola e geneaminas.com.br)

  • O português Antonio Clemente Pinto, o Barão de Nova Friburgo (Foto: Fundação Dom João VI)

    O português Antonio Clemente Pinto, o Barão de Nova Friburgo (Foto: Fundação Dom João VI)

  • Grêmio Português (Foto: Reprodução)

    Grêmio Português (Foto: Reprodução)

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