Venda de bikes dispara, surgem novos ciclistas e profissões

Comerciante diz que procura aumentou 150%, enquanto mestre em geografia virou ‘bikeboy’ e ciclista transformou a bicicleta em academia
sábado, 08 de agosto de 2020
por Fernando Moreira (fernando@avozdaserra.com.br)
A bicicleta é, sem dúvidas, o meio de transporte que mais está em alta neste período de pandemia. E ela traz inúmeros benefícios e vantagens ao ciclista. Na comparação com o transporte coletivo, evita-se aglomerações e não é preciso pagar passagem. Comparando com os veículos, não é necessário abastecer, não se enfrenta engarrafamentos e a manutenção é infinitamente mais barata. Ou seja, é bom para o meio ambiente, para o bolso e faz um bem danado para a saúde. Quer estímulo melhor?

Comerciante diz que procura aumentou 150%, enquanto mestre em geografia virou ‘bikeboy’ e ciclista transformou a bicicleta em academia
Segundo a Associação Brasileira do Setor de Bicicletas (Aliança Bike), no período entre 15 de junho e 15 de julho, em plena pandemia do coronavírus, as vendas de bicicletas registraram um aumento de 118%, no país quando comparado com o mesmo período do ano passado. Essa tendência de alta já havia sido notada nos meses anteriores: 50% em maio e 19% em junho, também na comparação com o mesmo período em 2019.

Em Nova Friburgo, essa realidade também já é observada. O comerciante Airton Dornelas vende bicicletas há quase quatro décadas e há 25 anos está no mesmo ponto, na Rua Portugal, no Centro. Ele revela que a procura nos últimos meses aumentou tanto que ele tem começado a trabalhar por volta das 7h e só para por volta das 23h, de modo a conseguir atender a todos os clientes.

“O momento realmente está bom para o mercado de bicicletas. Essa alta já era esperada este ano, mas a pandemia acelerou isso. A manutenção de bikes aumentou pelo menos 150%. No momento, estamos sem nenhuma bicicleta para vender. A procura realmente está muito grande, mas também há falta de produtos devido à paralisação das importações”, explicou Airton, que completou: “O pessoal está evitando o transporte público para fugir de aglomerações, ou tem deixado o carro em casa para utilizar a bicicleta”, concluiu o comerciante.

Novo nicho no mercado

Atento a essa nova realidade, Conrado Stroligo, que é mestre em Geografia e ciclista por hobby, resolveu unir o útil ao agradável e transformou o que era só lazer em profissão também. Ele virou bikeboy e está fazendo entregas de bicicleta. Dependendo do percurso, ele consegue ser mais rápido que os já tradicionais motoboys. E ainda tem outras vantagens: “A ideia surgiu durante a quarentena e percebi o aumento da procura por delivery e o incômodo das pessoas com o barulho excessivo de algumas motos. Como sou ciclista há bastante tempo, resolvi conciliar a prestação desse serviço com a bicicleta. Quando o cliente percebe que estou fazendo a entrega de bike acaba se surpreendendo positivamente. O retorno até agora tem sido bastante positivo”, explicou Conrado.

Ele está trabalhando para um restaurante do Centro, cuja demanda é grande todos os dias. As entregas são feitas entre 11h e 14h, período em que ele pedala, em média, 12 quilômetros, ‘uma distância que dá pra fazer facilmente de bike’, explica Conrado: “A parte mais plana da cidade, como Centro, Olaria, Duas Pedras e Conselheiro Paulino, têm um potencial grande para esse tipo de entrega. Além de não fazermos barulho, é um delivery ‘sem carbono’, já que não poluímos o meio ambiente. De qualquer forma, é um trabalho complementar ao dos motoboys. A gente não consegue atingir todos os locais que a moto alcança devido a geografia de Nova Friburgo. Mas, sem dúvidas, a bike é um meio de transporte bastante acessível para essas áreas mais planas da cidade”, disse.

Seguindo a onda do ‘novo normal’, o bikeboy acredita que essa moda veio para ficar e já planeja ampliar sua atuação na cidade: “A ideia é formar uma equipe e implantar essa novidade aqui em Nova Friburgo. A entrega de mercadorias com bicicletas já é uma realidade em grandes centros do Brasil e do mundo. Tudo que não seja muito grande ou pesado pode ser entregue de bicicleta. Seja uma refeição, um lanche, roupas, artigos de farmácia, de papelaria, petshop, entre outros, dá para atender com qualidade e agilidade”, finalizou.  

Ciclistas pedem mais respeito

Leonardo Rangel Pinheiro é morador do Centro e costuma pedalar por hobby e se considera um ‘ciclista urbano’. Ele conta que a bicicleta é para ele um meio de praticar exercícios físicos e, devido a pandemia e o consequente fechamento das academias (que já reabriram), esse hábito se intensificou nos últimos meses.

“Por precaução, decidi ainda não voltar à academia. Enquanto isso faço meu exercício de bicicleta. Costumo ir até o bairro Cascatinha e volto, porque é um trecho mais tranquilo para pedalar. Ainda não temos muitas ciclovias, é uma ideia que está começando agora em Friburgo. Nessa via compartilhada que está sendo construída, a prefeitura iniciou a instalação de placas de orientação, mas tem gente que ignora e insiste em caminhar, correr ou passear com o cachorro justamente na área delimitada para as bicicletas. Já fui agredido duas vezes por um senhor que não aceitou isso”, revelou Leonardo.  

“O número de bicicletas está aumentando nas ruas e as pessoas têm que respeitar isso. Cada um no seu espaço. Se todos respeitarem, não haverá problemas. Acho que a prefeitura deveria reforçar esse trabalho de conscientização para que todos se acostumem a esse ‘novo normal’. As pessoas não querem mais se aglomerar em um ônibus, ou querem economizar no combustível. E a bicicleta só tem o custo de manutenção, que é baixíssimo. Sem falar no bem que faz à saúde. Todos têm que ter uma nova visão sobre isso”, finalizou o ciclista.

A via compartilhada em Friburgo

Iniciadas em meados de julho do ano passado, as obras de construção da via compartilhada - nas margens do Rio Bengalas, entre o Paissandu e o bairro Duas Pedras - tinham previsão inicial de conclusão em novembro do mesmo ano, mas a prefeitura estendeu o prazo para o final deste mês. Ela é assim chamada porque ciclistas dividem o mesmo espaço com pedestres. Não há divisão entre faixa para ciclista e faixa para pedestre.

O trecho compartilhado vai do trevo de Duas Pedras até a Rua Padre Yabar, onde começa a ciclovia propriamente dita com área exclusiva para a circulação das bikes. Esse trecho contorna uma faixa da calçada da Avenida Euterpe Friburguense, até a ponte da Rua Sete de Setembro. Já a via partilhada se estende da ponte da Rua Sete de Setembro até a altura da Igreja Luterana, na Avenida Galdino do Valle Filho, no Paissandu. Ela é chamada partilhada porque tem uma faixa exclusiva para ciclistas, pintada de vermelho, e outra, separada, para pedestres.

 

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