Uma das últimas locadoras de vídeos da cidade fecha as portas após 25 anos

Proprietário não recebeu qualquer ajuda do governo municipal para enfrentar a pandemia após meses de faturamento zero
sábado, 22 de agosto de 2020
por Thiago Lima (thiago@avozdaserra.com.br)
A antiga locadora fechando as portas:
A antiga locadora fechando as portas: "Cinema Paradiso" friburguense (Foto: Thiago Lima)

Alguns friburguenses gostariam que o tempo pudesse ser rebobinado igual às famosas fitas de VHS. Pelo menos esse é o sentimento daqueles que frequentavam a videolocadora Disk Vídeo, presente no mercado há 25 anos, no final da Rua Portugal, esquina com a Rua José Eugênio Muller. 

O tradicional estabelecimento fechará as portas na próxima quarta-feira, 26, e está  vendendo para colecionadores e amantes do cinema todo o seu acervo, com mais de dez mil filmes, incluindo lançamentos, clássicos, infantis, cult (europeus, asiáticos etc); diretores renomados como Hitchcock, Kubrick, Fellini, entre outros. Uma grande oportunidade para comprar um filme que marcou algum momento da vida. O ambiente, que era super agradável, deixará saudade no coração das pessoas que eram clientes da loja. 

Entrevistamos o proprietário Carlos Eduardo Gonçalves de Aguiar, o Guinga, 58 anos, para falar um pouco sobre a locadora e o fechamento desse ciclo que durou 25 anos da sua vida. 

AVS: Como foi sustentar a locadora com o surgimento das plataformas de streaming e a pirataria? 

Carlos Eduardo: A pirataria sempre existiu, e isso nunca foi um grande empecilho para gente. Já as plataformas de streaming não atrapalham pela quantidade de filme e pela diversidade, e sim pela preguiça das pessoas de saírem de casa e pegarem um filme aqui. Então a gente se sustentou durante esse tempo todo pela grande variedade de filmes que a gente tinha, com filmes clássicos, de grandes diretores etc. 
 

Nos últimos tempos, qual era a média de clientes atendidos? 

Uma média de uns 800 clientes, de todas as idades. 

 

Qual foi o real motivo do fechamento da locadora? 

Além da pandemia, estou fechando mais em função da prefeitura, já que não teve uma única regra para todo mundo, flexibilizando só para algumas áreas. A loja tem uma despesa fixa de aluguel, condomínio, luz, telefone, funcionário, contador… Eu fiquei praticamente de março até final de maio sem poder abrir. Junho e julho trabalhando em um horário que eu não tenho clientela, já que meu horário de pico era das 18h em diante, que é quando as pessoas saem do trabalho e vem alugar um filme. Ou seja, não há comércio que resista a seis meses sem faturamento. 
 

Qual o sentimento que vai ficar? 

Posso dizer que passaram por aqui aproximadamente 60 mil pessoas. Eu tenho 20 mil fichas de cadastro com uma média de três a quatro pessoas por ficha, então eu conheci 60 mil pessoas, cada uma diferente da outra. Foi uma experiência de vida espetacular, fiz muitos amigos e pouquíssimos inimigos. O fantástico é perceber que eu já estava entrando na terceira geração de clientes da mesma família, por exemplo. Eu que sempre tive uma dificuldade muito grande de lidar com pessoas, isso aqui foi uma verdadeira escola de vida. Valeu a pena.

 

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