Três dias depois, prefeitura desiste de promover carnaval online em Friburgo

Prefeito Johnny Maycon alega que evento foi cancelado “respeitando os friburguenses que se manifestaram massivamente contra". Sambistas protestam
segunda-feira, 01 de fevereiro de 2021
por Fernando Moreira (fernando@avozdaserra.com.br)
Prévia? Aglomeração na Praia de Ipanema para ver o sol nascer no último domingo (Foto: Giuliano Bruno/ O Globo)
Prévia? Aglomeração na Praia de Ipanema para ver o sol nascer no último domingo (Foto: Giuliano Bruno/ O Globo)

A Prefeitura de Nova Friburgo anunciou na última quinta-feira, 28, a realização de um “evento inédito, totalmente online e sem aglomerações” para marcar a passagem do carnaval 2021, que já estava com os tradicionais bailes e desfiles de blocos e escolas de samba cancelados devido à pandemia de Covid-19. No entanto, exatamente três dias depois, neste domingo, 31, o Executivo Municipal divulgou nova nota, desta vez anunciando o cancelamento da atração recém-anunciada.

O evento de carnaval online, que ocorreria entre os dias 12 e 16 de fevereiro, e cujo objetivo era a “promoção da cultura com total responsabilidade e sem quaisquer riscos de contaminação por Covid-19”, foi cancelado, segundo a prefeitura, “respeitando os friburguenses que se manifestaram massivamente contrários à programação”.

Porém, o governo municipal ressalta que o evento “seria totalmente online, transmitido na página oficial da prefeitura no Facebook e havia sido planejado com o único propósito de valorizar a tradição cultural do carnaval friburguense e sem custos ao município. Ou seja, o carnaval 2021 online não seria um evento de carnaval convencional, com shows, blocos e escolas de samba na rua, nem com pagamentos de subvenções por parte da prefeitura”.

A repercussão do assunto

O anúncio da realização do carnaval online de fato causou grande repercussão nas redes sociais. No entanto, pelo menos na página oficial da prefeitura no Facebook, a maioria das reações não foi negativa, apesar de ter havido muitas críticas à realização do evento.

“Para quê? Como se a pessoa ficasse em casa assistindo live. Vão fazer como estão fazendo todos os finais de semana, indo para poços, rios e cachoeiras”, criticou uma cidadã friburguense. “Eu não paro um segundo para ver carnaval na TV” disse outra. “Desnecessário. Ninguém tem nada para comemorar e os ‘sem noção’ vão para a rua do mesmo jeito. Teremos fiscalização?”, indagou outro internauta.

No entanto, apesar de muitas críticas quanto à realização do carnaval online, o cancelamento do mesmo também gerou críticas. “Fico triste. Online tudo é permitido. Aulas online, trabalho online, até consulta médica online, cultos e missas online. Mas, quando se fala em carnaval ,começa a implicância de certas pessoas. Discriminação com o samba e com quem trabalha com cultura. Lamentável. Imagino a pressão que o prefeito deve ter sofrido”, criticou uma cidadã. “Se seria online, sem custos, qual é a justificativa para não fazer? Agradar uma parcela da população? A meu ver seria como outras tantas lives realizadas por diversos artistas e que traria um pouco de alegria e descontração neste momento tão difícil que estamos passando”, pontuou outra defensora da realização do carnaval online.

Carta aberta ao prefeito

José Augusto Silva de Oliveira, conhecido em Nova Friburgo e no mundo do samba como Guto Intérprete - que se notabilizou como cantor principal da Escola de Samba Unidos da Saudade e no carnaval passado fez parte do carro de som da Viradouro, uma das principais escolas de samba do carnaval carioca -, publicou  em seu perfil pessoal no Facebook uma carta aberta ao prefeito Johnny Maycon, criticando a decisão de cancelar o carnaval online.

“Vi com grande tristeza a decisão da prefeitura de não realizar nenhuma atividade, mesmo que virtual, para marcar a importância econômica e cultural da cadeia produtiva do Carnaval friburguense. É óbvio que o momento não é de celebração, porém, agremiações com mais de 70 anos de existência, trabalhadores do carnaval, da cultura como um todo, merecem o mínimo de reconhecimento, principalmente nesse período onde não há perspectiva alguma para nós, contribuintes oriundos destes setores”, desabafou o sambista.

“Ceder a pressões de uma parcela da população, mesmo que pequena, contrária a qualquer programação que faça referência a única festa popular da cidade, além de passar uma ideia de que governa apenas para uma bolha, mostra um total desconhecimento sobre o potencial histórico, turístico e socioeconômico que o carnaval local possui”, pontuou Guto, que continuou: “Seriam gravados documentários contando a história de cada agremiação, não seriam eventos com aglomeração, não haveria gasto público e muito menos retirada de leitos, vacinas, testes para Covid-19 ou outros insumos do combalido Hospital Raul Sertã. A história de praticamente três quartos de século das nossas agremiações não merecia este golpe”.

“Espero que, nos próximos anos, com a graça de Deus e a pandemia superada, tenhamos o mínimo de reconhecimento e comprometimento com a realização dos desfiles e toda sua preparação, para que nós do carnaval possamos seguir devolvendo ao município mais que o triplo do que nos é empenhado por meio de subvenção em arrecadação. Seria apenas um documentário, uma forma de as escolas se reafirmaram e mostrarem que seguem vivas em meio a esse caos”, finalizou o músico, artista e intérprete carnavalesco Guto.

Prefeito respondeu

A publicação do músico friburguense também teve grande repercussão nas redes sociais. Somente no Facebook, recebeu quase 150 reações, além de dezenas de comentários e quase 60 compartilhamentos até o final da manhã desta segunda-feira, 1º de fevereiro. Um deles do próprio prefeito Johnny Maycon, que teve seu perfil pessoal marcado na publicação do cantor. O chefe do Executivo Municipal disse o seguinte:

“Parabéns pela excelente explanação, amigo. Eu, particularmente, sou favorável ao evento online, porém temos a obrigação de ouvir a população, que diante da repercussão nota-se que não é a minoria. Estamos abertos ao diálogo sempre para ouvir as agremiações e nos prepararmos para que o nosso carnaval seja melhor a cada ano e que mais pessoas sejam atraídas ao maior movimento cultural da cidade e região. Quando isso tudo passar, realizaremos juntos o maior carnaval da história de Nova Friburgo. Estou à disposição para conversarmos e fazermos tudo o que tiver ao nosso alcance em favor do carnaval friburguense”, declarou o prefeito.

Na capital, fim do ponto facultativo na segunda

No Rio, o  prefeito  Eduardo Paes voltou atrás na sua decisão de  15 de janeiro e revogou o decreto que estabelecia ponto facultativo nas repartições públicas municipais na segunda-feira de carnaval, em 15 de fevereiro. O cancelamento do ponto facultativo foi publicado nesta segunda-feira, 1º, no Diário Oficial do município.

A terça-feira de carnaval, 16, segue como feriado, como em todo o Estado do Rio, por decisão do governo estadual.

A alegação de Paes é que  a revogação do ponto facultativo se fez necessária para evitar aglomerações em meio à pandemia de Covid-19. A prefeitura de Nova Friburgo não se manifestou ainda sobre manutenção do ponto facultativo na segunda de carnaval no município.

Aglomeração nas praias

Enquanto isso, a aglomeração continua em locais de lazer, como as praias cariocas e as cachoeiras fruburguenses. Cerca de mil pessoas, segundo o jornal O Globo, se espremeram na Praia de Ipanema, entre o Posto 8 e o Arpoador, para ver o sol nascer no último domingo. "Tinha muita gente na areia e todo mundo com cooler. Também tinham alguns com churrasqueira e até barraca de camping", contou o professor de Educação Física Giuliano Bruno, que fotografou o evento.

Ele disse que a aglomeração já ocorre há três fins de semana: "Essas pessoas vêm em vários ônibus que chegam em Ipanema na noite de sábado. Elas dormem na praia".

 

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TAGS: carnaval