Substâncias utilizadas em cosméticos podem adiantar a puberdade das meninas

A puberdade precoce é considerada um fator de risco para infarto, diabetes e câncer de mama
sexta-feira, 01 de novembro de 2024
por Jornal A Voz da Serra
(Foto: Freepik)
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A puberdade tem começado mais cedo para as meninas nas últimas décadas. Em meados do século 19, as meninas geralmente menstruavam pela primeira vez em uma idade média de 16,5 anos. Hoje, a média está entre 10 e 13 anos. A puberdade precoce não envolve apenas a transformação física prematura. Ela pode afetar o desenvolvimento psicossocial e o bem-estar dos adolescentes. Tem sido associada a maiores taxas de transtornos de saúde mental, como depressão e baixa autoestima

Uma pesquisa do Instituto Nacional de Saúde dos Estados Unidos (NIH) aponta que produtos químicos encontrados em cosméticos usados por meninas podem alterar a composição hormonal e adiantar a puberdade de meninas em meses ou mesmo anos. A investigação publicada na revista Endocrinology em setembro deste ano, aponta que os riscos estão nos chamados “desreguladores químicos endócrinos (EDCs)”. A substância mais preocupante, segundo eles, é o musk ambrette. Trata-se de um perfume frutado que é bastante usado em produtos cosméticos femininos.

Ainda segundo a pesquisa, o musk ambrette, também conhecido como almíscar ambrette, se mostrou capaz de aumentar células receptoras de hormônios gonadotrofina e kisspeptina, que já estão associados ao desenvolvimento sexual e podem levar, caso sejam acionadas muito cedo, à puberdade precoce. Em meninas, a puberdade se caracteriza pelo aparecimento dos pelos púbicos e o desenvolvimento dos mamilos, culminando com a menstruação. Em 1970, a idade média de início da puberdade era de 10 anos, com a primeira menstruação chegando aos 13 ou 14 anos. Atualmente, o processo se inicia aos oito anos e a primeira menstruação aparece aos 11 anos, o que sugere que fatores ambientais estão acelerando o desenvolvimento das meninas.

A puberdade precoce é considerada um fator de risco aumentado para infarto, diabetes e câncer de mama. A fragrância musk ambrette foi indicada pelos pesquisadores após testes em laboratórios realizados em células humanas cultivadas em laboratório e peixes-zebra. As células e os peixes foram expostos a dez mil diferentes contribuintes ambientais. O musk ambrette se mostrou capaz de aumentar células receptoras de hormônios gonadotrofina e kisspeptina, bem como de atravessar a pele dos peixes-beta e alcançar o hipotálamo. Para os investigadores, a pesquisa não explica o fenômeno de adiantamento da menarca (primeira menstruação), mas dá pistas sobre um dos agentes que estão envolvidos no problema ambiental.

Câncer de mama

O câncer de mama é o tipo que mais causa mortes entre as mulheres no Brasil, com uma estimativa de 73.610 novos casos até 2025. Isso corresponde a uma taxa de 66,54 novos diagnósticos a cada 100 mil pacientes. Estudos indicam que meninas que passam pela puberdade precoce podem enfrentar um risco maior de desenvolver a doença na vida adulta.

Segundo o endocrinologista pediátrico, Miguel Liberato, a puberdade precoce em meninas é caracterizada pelo início dos sinais de desenvolvimento antes dos oito anos. "Quando há o surgimento do broto mamário antes dessa idade, o desenvolvimento das mamas ocorre progressivamente, seguido da primeira menstruação após cerca de dois anos", explica o especialista. Ele alerta que meninas que apresentam esses sinais precisam ser avaliadas, mesmo que o crescimento das mamas seja discreto.

O aumento do risco de câncer de mama está diretamente relacionado ao tempo de exposição ao hormônio estrógeno. Quanto mais cedo uma menina entra na puberdade, maior o período de exposição a esse hormônio, o que pode elevar as chances de desenvolver a doença na fase adulta.

“Meninas apresentam a primeira menstruação de forma precoce têm uma chance maior de desenvolver a doença na vida adulta. Por isso, a identificação e o tratamento da puberdade precoce podem ser fundamentais para reduzir esse risco”, destaca Miguel Liberato.

Nos últimos anos, a puberdade precoce tem sido observada com mais frequência em meninas ao redor do mundo, o que torna ainda mais importante uma avaliação frequente de cada caso. Com um diagnóstico precoce, é possível iniciar um tratamento mais cedo, ajudando a prevenir não somente o câncer de mama, mas também complicações como baixa estatura e problemas cardiovasculares. 

Portanto, o acompanhamento médico e a atenção aos sinais de desenvolvimento são fundamentais para garantir uma vida mais saudável e reduzir riscos futuros. “A avaliação adequada da evolução da mama, do crescimento e da idade óssea permite intervenções no tempo correto, reduzindo não só o risco de câncer de mama, mas também de outras complicações, como baixa estatura e doenças cardiovasculares”, conclui o médico.

*Reportagem da estagiária Laís Lima sob supervisão de Henrique Amorim 

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