A Organização Mundial da Saúde (OMS) revela que a solidão afeta uma em cada seis pessoas no mundo (16%). Os impactos são significativos na saúde e no bem-estar, de acordo com o relatório global da Comissão sobre Conexão Social.
Segundo a OMS, mais de 870 pessoas morrem por ano por falta de contato social
Segundo um informe divulgado nesta semana, em Genebra (Suíça), a solidão e o isolamento estão associados a cerca de 100 mortes por hora, com total de óbitos por ano acima de 870 mil. O relatório destaca ainda que, em termos comparativos, as pessoas que se descreveram como tendo uma forte conexão social apresentaram maior probabilidade de ter uma saúde melhor e viver mais.
Estas constatações sugerem que a solidão afeta pessoas de todas as idades, especialmente adolescentes e habitantes que vivem em países de baixa e média renda. Entre 17% e 21% dos indivíduos de 13 a 29 anos relataram sentir-se solitários, com as taxas mais altas entre os adolescentes.
Para Tedros Adhanom, diretor-geral da OMS, “nesta era em que as possibilidades de se conectar são infinitas, cada vez mais pessoas estão se sentindo isoladas e solitárias. Além do impacto que isso causa em indivíduos, famílias e comunidades, se não forem enfrentados, a solidão e o isolamento social continuarão a custar bilhões à sociedade em termos de saúde, educação e emprego”, diz em nota.
A OMS define conexão social como as maneiras pelas quais as pessoas se relacionam e interagem umas com as outras. Ter poucas conexões é definido como isolamento social. Já a solidão é descrita como um sentimento doloroso que surge de uma lacuna entre as conexões sociais desejadas e as reais.
Para o copresidente da comissão da OMS e ex-cirurgião-geral dos Estados Unidos, Vivek Murthy, autoridade máxima de saúde pública do país, “neste relatório, puxamos a cortina sobre a solidão e o isolamento como um dos grandes desafios do nosso tempo. Nossa comissão apresenta um roteiro de como podemos construir vidas mais conectadas e destaca o profundo impacto que isso pode ter na saúde, na educação e nos resultados econômicos”.
Conectados, mas sozinhos
A solidão afeta pessoas de todas as idades e regiões do mundo, porém de forma mais significativa jovens e moradores de países de média e baixa renda. Entre adolescentes de 13 a 17 anos, 20,9% relatam se sentir solitários. Na faixa de 18 a 29 anos, a fatia é de 17,4%. Na outra ponta, apenas 11,8% dos maiores de 60 anos manifestam solidão.
“Mesmo em um mundo digitalmente conectado, muitos jovens se sentem sozinhos. À medida que a tecnologia transforma nossas vidas, devemos garantir que ela fortaleça — e não enfraqueça — a conexão humana. Nosso relatório mostra que a conexão social deve ser integrada a todas as políticas: do acesso digital à saúde, educação e emprego”, defende Chido Mpemba, copresidente da comissão da OMS e assessora do presidente da União Africana.
Variação regional
Entre as regiões, os maiores percentuais de solidão foram observados na africana (24,3%) e na do Mediterrâneo Oriental (21%). Nas Américas, 13,6% relataram se sentir solitários. A menor proporção foi registrada na região europeia — 10,1%. As estimativas também apontam que os países de baixa renda têm a maior prevalência (24,3%), enquanto os de renda alta têm a menor (10,6%).
Já em relação ao isolamento social, a OMS afirma que os dados são mais limitados, porém estima que afete 1 a cada 3 idosos e 1 a cada 4 adolescentes, ou seja, embora os jovens tenham mais conexões em números, sentem-se mais sozinhos do que os mais velhos.
Além disso, o documento pontua que populações marginalizadas, como pessoas com deficiências, LGBTQIAP+, migrantes e refugiados, minorias étnicas e raciais e povos indígenas, têm maior probabilidade de enfrentar discriminação ou barreiras adicionais.
A OMS afirma ainda que há causas que podem ser atribuídas à solidão e ao isolamento social, entre elas problemas de saúde; baixa renda e escolaridade; viver sozinho; infraestrutura comunitária inadequada; políticas públicas ineficientes e o avanço de tecnologias digitais.
Dispositvos eletrônicos
Os autores defendem ser preciso atenção aos efeitos do tempo excessivo de tela ou das interações negativas online sobre a saúde mental e o bem-estar dos jovens. Para a OMS, conexões sociais protegem a saúde, reduzindo inflamações, o risco de problemas de saúde e promovendo saúde mental. Por outro lado, o isolamento e a solidão elevam o risco de depressão, AVC, diabetes, declínio cognitivo e morte precoce.
“Os impactos se estendem à aprendizagem e ao emprego. Adolescentes que se sentiam solitários tinham 22% mais probabilidade de obter notas ou qualificações mais baixas. Adultos solitários podem ter mais dificuldade para conseguir ou manter um emprego e podem ganhar menos”, avalia a organização.
O relatório sugere a implementação de medidas que incluem conscientização sobre o tema, mudança de políticas públicas, fortalecimento da infraestrutura social, como pela construção de parques, bibliotecas, cafés, e oferta de intervenções psicológicas.
“Cada pessoa pode fazer a diferença por meio de atitudes simples e cotidianas — como entrar em contato com um amigo que precisa, guardar o celular para estar presente numa conversa, cumprimentar um vizinho”, recomenda a OMS.
(Fontes: ONU News e Agência Brasil)
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