O caos na saúde pública de Nova Friburgo ficou (ainda mais) evidente nesta segunda-feira, 14, com a já rotineira falta de médicos (algo que também tem ocorrido todas as segundas e quartas-feiras) no Hospital Municipal Raul Sertã, único hospital público da cidade, que atende também a pacientes vindos de outros municípios da região. O resultado disso? Uma fila enorme na Unidade de Pronto Atendimento (UPA) de Conselheiro Paulino e pacientes insatisfeitos com a demora no atendimento.
Isso pode ser classificado como uma verdadeira inversão de papéis, já que a unidade de referência deveria ser o Raul Sertã, no entanto, devido a frequente falta de médicos e a precariedade no atendimento, boa parte da população prefere buscar atendimento na UPA, que acaba tendo que extrapolar suas competências e sobrecarregando a unidade.
A VOZ DA SERRA esteve nas duas unidades de saúde entre o fim da manhã e o início da tarde desta segunda-feira, 14. Enquanto no Raul Sertã não havia ninguém aguardando atendimento na Centra de Tratamento de Urgência (CTU) devido a já conhecida falta de médicos às segunda e quartas-feiras, na UPA a situação era bem diferente. O pátio estava lotado e a recepção também. Isso sem falar na imensa fila que se formou ao longo de toda a lateral da unidade.
Em meio a tantas pessoas buscando atendimento por motivos diversos, encontramos com o lavador Sebastião de Freitas Cordeiro, de 71 anos, morador do Parque Imperial, no bairro Ponte da Saudade. Ele estava aflito e sem saber o que fazer. Com sintomas gripais há cerca de uma semana, ele resolveu se antecipar e, com a ajuda da filha, pagou R$ 280 para fazer um teste de Covid-19 em um hospital particular da cidade. Com o resultado positivo nas mãos, ele foi buscar atendimento na UPA, mas não gostou do que viu.
“O problema é que eu cheguei aqui na UPA e a triagem me jogou lá para o final da fila, no meio de outras pessoas que às vezes não tem nada a ver com o meu caso e correm o risco de serem contaminadas por mim. Minha preocupação nesse momento é mais com os outros”, desabafou Sebastião (foto).
Levamos a reclamação do idoso à direção da UPA, atualmente gerida pela Organização Social (OS) Viva Rio. Lá fomos recebidos pelo diretor-geral e pelo diretor-médico da unidade. Ambos não estavam autorizados a conceder entrevista, no entanto, responderam a todos os nossos questionamentos. Sobre a queixa do Seu Sebastião, fomos informados que, apesar dele já ter um teste positivo em mãos, o protocolo exige que ele passe pela triagem, seja avaliado novamente por um médico e, talvez, realize até outro exame para confirmar, ou não, a infecção pelo coronavírus.
Sobre a longa fila de pacientes aguardando atendimento na UPA, a imagem da recepção do Hospital Municipal Raul Sertã vazio explica o sobrecarga na Unidade de Pronto Atendimento. Ou seja, sem médicos no principal hospital público da região - que deveria ser referência -, a população acaba buscando atendimento na UPA. Segundo a direção, durante o dia a unidade conta com quatro clínicos gerais (desses, um fica baseado na tenda para triagem de Covid-19), dois pediatras e um dentista. À noite, quando o fluxo de atendimentos é bem menor, esse número cai para dois clínicos gerais e um pediatra. Quadro que poderia ser suficiente se o Hospital Municipal Raul Sertã estivesse funcionando de forma plena.
O que diz a prefeitura
Questionada por A VOZ DA SERRA se a falta de médicos às segundas e quartas-feiras persistia no Hospital Municipal Raul Sertã; se a lotação da UPA poderia ser justificada por esse problema; e o que está sendo feito para solucionar esse problema; a Prefeitura de Nova Friburgo informou que irá resolver a falta de médicos no plantão do Raul Sertã com a contratação de novos profissionais aprovados no último concurso público para a saúde municipal. O processo, ainda de acordo com a prefeitura, já está sendo finalizado e os novos médicos já deverão estar atuando no CTU da unidade na próxima semana.
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