O sorriso é uma das expressões mais fáceis de serem produzidas e reconhecidas dentre os seres humanos. E os benefícios de uma boa risada para nossa saúde física e mental são notáveis: ela ajuda a fortalecer nosso sistema imunológico, proporciona aumento de energia, reduz a sensação de dor, nos protege contra o estresse (em consequência da redução do hormônio cortisol), melhora nosso sistema cardiovascular, respiratório e até digestivo, dependendo do nível da gargalhada, que movimentará os músculos abdominais.
“Tenho duas armas para lutar contra o desespero, a tristeza e até a morte: o riso a cavalo e o galope do sonho. É com isso que enfrento essa dura e fascinante tarefa de viver”.
Ariano Suassuna
Quando rimos, nosso cérebro libera endorfina e serotonina, hormônios responsáveis por aquela sensação de prazer e bem-estar, diminuindo os riscos de doenças psicossomáticas, como depressão e ansiedade. Neste atual contexto em que vivemos, onde o medo e a insegurança prevalecem sobre grande parcela da população em virtude da pandemia do novo coronavírus, qualquer medida que usarmos para nos fazer rir é grande aliada no enfrentamento dos males que afetam nossa saúde mental, como afirmou o psiquiatra Danilo Cassane em entrevista concedida a este mesmo caderno, na edição de 16 de maio.
Além dos benefícios citados, o sorriso é um importante mecanismo em nossas relações sociais, servindo como forma de comunicação rápida e eficiente para fazer contato. Além de contribuir para a resolução de conflitos e na resiliência diante de circunstâncias adversas, ele gera empatia e confiança nas pessoas ao nosso redor. E em um momento marcado pelo distanciamento social, que desencadeou altos índices de depressão em grande parte da população mundial, receber um sorriso de um desconhecido reduz a sensação de solidão, de acordo com estudo realizado na Universidade de Purdue, nos Estados Unidos.
Guardadas as proporções, este momento pelo qual passamos me lembrou de um filme que me marcou profundamente. Em 1957, o sueco Ingmar Bergman, um dos maiores diretores da história do cinema, lançou “O Sétimo Selo”, uma obra-prima da sétima arte. Após um longo período de batalhas nas cruzadas, no século XIV, o cavaleiro Antonius Block e seu fiel escudeiro Jons retornam para sua terra natal, agora devastada pela peste negra. Em meio aos seus questionamentos sobre sua fé e ávido por conhecer as revelações da existência, em diálogos memoráveis com a Morte em pessoa, a quem desafia para um jogo de xadrez, Antonius Block conhece o casal de saltimbancos Jof e Mia e seu pequeno bebê, que mantém em seus espíritos a alegria e o encantamento mesmo naquele cenário sombrio e com seus terríveis aspectos sociais e religiosos, genialmente inseridos na célebre cena onde uma procissão de flagelantes profetiza a danação eterna.
Após se despedir do casal, o cavaleiro leva consigo a mais bela lembrança do encontro, dizendo que não se esquecerá de “seus rostos na luz do entardecer”. Em meio a toda aquela obscuridade, tristeza, ignorância e fanatismo, o cavaleiro pôde vislumbrar a força e a pureza existentes na vida, que ainda haveria espaço para sua celebração.
Trazendo esta reflexão para os dias atuais, apenas uma de tantas, nos damos conta da importância de buscarmos ações que nos façam rir, de enxergar as coisas boas que a vida pode oferecer mesmo em meio às adversidades. Além de nos ajudar a olhar para a vida com menos peso, nosso sorriso pode transformar a vida de outras pessoas também. E empatia nunca foi tão necessária.
Pegando carona com o cavaleiro medieval de Bergman, finalizo com uma citação de Ariano Suassuna, um dos maiores e importantes nomes da dramaturgia brasileira:
“Tenho duas armas para lutar contra o desespero, a tristeza e até a morte: o riso a cavalo e o galope do sonho. É com isso que enfrento essa dura e fascinante tarefa de viver.”
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