No cenário contemporâneo, a velocidade frenética da rotina diária tem desdobramentos significativos na saúde mental. A incessante busca por respostas imediatas e a urgência em cada atividade moldaram uma sociedade em constante pressa, dificultando a reflexão e a apreciação do ócio criativo. O uso excessivo de dispositivos eletrônicos, especialmente dos smartphones, tem contribuído para um pensamento acelerado, resultando em situações de estresse e sobrecarga de informações.
As redes sociais estão cada vez mais presentes na vida das pessoas, sempre incluídas nas rotinas. Seja para ficar por dentro do que acontece ou para ver conteúdos extrovertidos, quase todo mundo acessa as redes sociais, a maioria, a todo momento. Acessar as redes se tornou algo tão natural que pode ser considerada até uma ação necessária no dia a dia. Contudo, não sabemos o impacto e a influência que este acesso frequente tem na saúde mental da população. Entre esses impactos, está a ansiedade, depressão, sensação de isolamento e de perda de acontecimentos, pressão, esgotamento e obsessão com o corpo.
Vivendo o problema
“Tenho 21 anos, sou estudante de Publicidade e Propaganda e trabalho atualmente na área de marketing em uma empresa. Minha convivência com a ansiedade, especialmente quando era mais jovem, sempre foi pesada. Desde cedo, eu me cobrava muito para ser o melhor, o que acredito estar ligado a traumas de infância, pois fui criado em uma família um pouco rígida em relação à religião e a como me portar. Além disso, fazer parte da comunidade LGBTQIA+ também influenciaram, trazendo um peso adicional”, conta Weslley.
O jovem também enfatiza que outro fator que desencadeia a sua ansiedade, além de pressões impostas pela sociedade são as redes sociais. “Na era digital, estamos consumindo conteúdos rápidos e imediatos, o que é um prato cheio para quem tem uma mente ansiosa. Pessoas com ansiedade tendem a se preocupar com o futuro, e nas redes sociais tudo é rápido, o que acaba acelerando nossos pensamentos também. É como se os pensamentos de uma mente ansiosa corressem sem parar, um atrás do outro, e a gente se perde nisso, sem dar descanso à mente”, conta o rapaz.
O que são as redes sociais
As redes sociais são espaços virtuais que permitem relações e interações entre pessoas e organizações, além de disponibilizar diversos conteúdos. Estes espaços virtuais podem ser sites ou aplicativos. Quando falamos das redes sociais, logo pensamos no Facebook, Twitter, Linkedin, que são sites (mas que se tornaram aplicativos também), e aplicativos como Instagram, Snapchat, Tik Tok e outros.
O conceito de saúde mental
A saúde mental é um tópico cada vez mais pautado nos assuntos e também mais valorizado. A saúde mental de uma pessoa está relacionada ao estado em que ela está bem o suficiente para lidar com as situações cotidianas.
A saúde mental está relacionada também à forma como o indivíduo reage às situações da vida, ao estresse, ao trabalho e sua produtividade e ao modo como harmoniza seus desejos, capacidades, ambições, ideias e emoções. Em suma, ter saúde mental é estar bem consigo mesmo e com os outros.
Redes sociais x saúde mental
Uma instituição de saúde pública do Reino Unido, a Royal Society for Public Health (RSPH), em parceria com o Movimento de Saúde Jovem realizou um estudo onde foi apontado que as redes sociais provocam efeitos positivos ou nocivos à saúde humana, dependendo de como são utilizadas. Na pesquisa, concluiu-se que o compartilhamento de fotos pelo Instagram impacta negativamente no sono, na autoimagem e aumenta o medo dos jovens de não vivenciar os mesmos acontecimentos que os outros compartilham nas redes. Ainda na pesquisa, cerca de 70% dos jovens revelaram que a rede social Instagram fez com que eles se sentissem pior em relação à própria autoimagem.
Outras pesquisas sobre a influência da mídia na saúde mental revelam ainda que o tempo dispensado utilizando as redes sociais tem relação com o sentimento de isolamento do mundo real, o que pode contribuir para o desenvolvimento de transtornos mentais. Muitas publicações nas redes sociais reforçam o narcisismo, os padrões de vida, estéticos e de consumo, além de contribuírem para o desenvolvimento de transtornos psiquiátricos, incluindo sintomas depressivos, ansiedade e baixa autoestima.
Para a psicóloga Cláudia Saraiva o uso constante da Internet, das redes sociais o mundo se tornou " refém" desta tecnologia, pois hoje tudo gira em torno da Internet, tanto as coisas mais básicas,como as totalmente complexas. “E em função disso as redes sociais se tornaram padrão para tudo, desde a felicidade até modo de vida, de beleza, com isso as pessoas tentam fazer parte desse mundo, e muitas não conseguem. A competição se torna árdua, podendo desencadear várias consequências, as decepções se intensificam, muitos não conseguem lidar com as frustrações da vida”.
“Outros usam as redes sociais se escondendo, uns achando que podem tudo e outros fingindo" ser o que não são, Isso tudo ao longo do tempo vai afetando diretamente a saúde mental das pessoas, gerando ansiedades e até crises de pânico. Pois encarar a realidade, para muitos é difícil e também existem os casos daqueles que não se permitem largar as telas, trabalham incessantemente para atingir seus objetivos, impostos muitas vezes pelo outro. O mundo está ficando doente, nunca nesses últimos anos se ouviu falar tanto em ansiedade, pânico entre outro”, finaliza a psicóloga .
Em 2022, segundo o relatório “Digital in 2022: Brazil” da Hootsuite e We Are Social, os brasileiros passaram em média mais de dez horas por dia na internet, sendo três horas e 41 minutos nas redes sociais. Além disso, levantamento da Comscore mostra que o Brasil é o terceiro país que mais utiliza redes sociais no mundo. São 131.506 milhões de contas ativas. Destas, 127,4 milhões são usuários únicos nas redes sociais (96,9%).
Mas afinal, há benefícios nessa relação?
As redes sociais também trazem benefícios na sua relação com a saúde mental quando utilizadas da forma correta. As redes sociais conectam de forma prática e quase mágica as pessoas, podendo manter relações com outras pessoas mesmo a uma longa distância. Além disso, nas redes é possível encontrar espaços para desabafar sobre situações difíceis e neles encontrar pessoas que passam pelas mesmas situações, criando uma rede de apoio, às redes também contam com diversos conteúdos informativos ou descontraídos, podendo ser usadas tanto para obter informações e aprimorar conhecimentos como também para lazer e diversão.
"Não sinto que sou dependente de redes sociais, uso a tecnologia para trabalhar e tudo mais, mas não me sinto tão dependente. Quando esqueço o celular em casa não me desespero por ficar sem ele, mas sei que existem pessoas que são muito dependentes das redes” enfatiza Amanda do Espírito Santos Flores, professora de Inglês.
Acompanhar pessoas que compartilham conteúdos de amor próprio e hábitos saudáveis é uma boa opção para não se comparar com outras pessoas e criar transtornos psicológicos. Acompanhar contas que compartilham notícias, mas que não sejam em excesso ou fake news, causando angústia e preocupação. Com certeza, delimitando um tempo para o uso das redes sociais e acompanhando as pessoas certas, será possível fazer uso das redes sociais sem que elas afetem negativamente sua saúde mental. Além disso, os internautas poderão usufruir de todos os benefícios das redes sociais de forma saudável.
*Reportagem da estagiária Laís Lima sob supervisão de Henrique Amorim
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