O atendimento prestado pelo SUS, na visão de seus usuários

Para muitos, valorização da atenção primária pode contribuir para que a saúde pública se fortaleça
sexta-feira, 18 de dezembro de 2020
por Guilherme Alt (guilherme@avozdaserra.com.br)
A triagem na entrada do Hospital Municipal Raul Sertã (Foto: Henrique Pinheiro)
A triagem na entrada do Hospital Municipal Raul Sertã (Foto: Henrique Pinheiro)

A publicação da lei que criou o Sistema Único de Saúde brasileiro, completou 32 anos em setembro deste ano. Porém, desde sua criação, o SUS sempre lutou e luta por investimento, pois os financiamentos que recebe não são suficientes. Por esse motivo, e pelo estado de calamidade decretado com a pandemia da Covid-19, entende-se que o sistema não estava preparado para esse momento.

Um recente estudo constatou que 56% dos brasileiros acreditam que o sistema não suportou e não suporta bem a demanda gerada pela pandemia. No Estado do Rio de Janeiro, por exemplo, somente 31% concordam que o sistema de saúde conseguiu e consegue dar conta da demanda.

Apesar disso, o SUS é uma preciosidade. O Brasil é o único país com mais de 200 milhões de habitantes que possui um sistema de saúde pública universal. Por esse motivo, apesar da saúde pública ser deficiente, ela precisa ser defendida e valorizada. É comum os usuários avaliarem de maneira superficial baseado nas experiências que os hospitais e postos de saúde públicos proporcionam. Nada que desabone de fato a opinião pública de que as unidades precisam melhorar.

Em Nova Friburgo, o Hospital Municipal Raul Sertã e a Unidade de Pronto Atendimento (UPA) do distrito de Conselheiro Paulino recebem pacientes deste e de outros dez municípios. Os diversos postos de saúde espalhados pelos bairros e distritos tentam desafogar a grande demanda que desemboca nas duas unidades principais. Com base na experiência de quem precisou utilizar os serviços, A VOZ DA SERRA ouviu alguns friburguenses que fizeram avaliações sobre o SUS friburguense. Confira:

  • Dayane Faria

“Atualmente, o serviço é péssimo! Quem depende exclusivamente do serviço público de saúde está sofrendo. O Raul Sertã está sem médicos, a UPA sobrecarregada (na quarta-feira, 16, por exemplo, a tenda de atendimento exclusivo para Covid estava fechada e as pessoas aguardando atendimento, do lado de fora, em uma fila única). Os postos estão lotados, em Olaria só havia pediatra. Faltam medicamentos, itens básicos de higiene, insumos, especialistas. A espera para uma consulta é enorme, existem pessoas aguardando atendimento desde março. Não me admira que faltem leitos hoje, a disponibilidade já era precária antes da pandemia. Todas as experiências que tive com a saúde, na atual gestão, foram ruins. Tenho esperanças de que as coisas possam melhorar, mas com a bagunça que está, o trabalho não será fácil, definitivamente!”

  • Thaís Sâmela

“As pessoas vão muito de experiências empíricas, como por exemplo ‘A enfermeira é grossa, então o serviço não presta’. Na verdade, o hospital e a UPA encontram uma demanda muito superior ao destinado por diversos motivos, principalmente porque a atenção primária não funciona em muitos bairros, mas funciona em outros. Tem muitos pacientes de uma localidade indo ao Raul Sertã, sendo que poderia ter suas demandas resolvidas no posto de saúde mais próximo de sua residência. A atenção básica (que é responsável por prevenir problemas de saúde graves) não está atuando como deveria e consta em legislação. Se não há prevenção, logo haverá uma sobrecarga no dispositivo final, que no caso são os hospitais. Atenção Básica, Atenção Primária, Atenção Secundária, Atenção Terciária: dentro de cada Atenção, tem vários dispositivos "atuando". Não se pode cobrar mais leitos no Raul Sertã, e sim colocar a Atenção Primária e Secundária para funcionar afim de evitar uma sobrecarga no dispositivo final que acaba sendo o único a ser lembrado, criticado e apedrejado.”

  • Rafael Barbosa

“Minha avó chegou ao Raul Sertã com infecção urinária muito forte, estava com hipoglicemia. Ela é diabética. Chegando ao Hospital Raul Sertã, após medirem a glicose no sangue, prontamente colocaram uma pulseira de atendimento emergencial e ela foi medicada em instantes. Após os exames e medicação ela foi liberada. O meu avô está com câncer na bexiga, também se trata pelo SUS, no Hospital São José em Teresópolis. Tudo de graça. Nem parece ser algo público, porque funciona muito bem. Certa vez ele precisou ser levado à UPA. Foram feitas uma triagem, consulta, exames e medicação. Ele ficou internado três dias na sala vermelha, até ser liberado. Por esses exemplos, tenho confiança no serviço do SUS”.

  • Karolina Fernandes

“Em Campo do Coelho, onde moro desde que nasci, temos um posto de saúde que funciona como Estratégia de Saúde da Família e presta assistência eficaz à minha família. Há disponibilidade de médicos para consultas e enfermeiras que prestam atendimento durante o dia e fazem monitoramento de pressão arterial, glicose e febre que tem se mostrado eficaz, principalmente durante a pandemia. Minha avó é usuária do serviço e é bem atendida sempre que necessita e vai até lá.”

  • Norma Jacomin

“Por muitos anos me dediquei voluntariamente como membro do Conselho Municipal de Saúde. Falta gestão. Na última Conferência de Saúde que participei foi unânime a proposta do fortalecimento das unidades chamadas de porta de entrada. Nova Friburgo não cobre metade da população nas unidades básicas de saúde e algumas não têm as equipes completas. Outro ponto importante é a falta de profissionais da área por falta de concurso público desde 2007. Lembro bem que o MP Estadual garantiu a uma comissão do Conselho de Saúde que teríamos concurso. O que vemos são nomeações e um total desrespeito ao profissional concursado”.

  • Leitor que preferiu não se identificar

“No posto de saúde Olaria 3, a equipe de funcionários é muito boa e conta com agente comunitário de saúde, dentista, enfermeiro, técnico de enfermagem, médico, mas a infraestrutura do posto deixa a desejar. São reparos emergenciais que precisam ser feitos como toda a energia elétrica, uma reforma nas paredes, entre outros. Há falta de remédios porque os que são disponibilizados, são em quantidades pequenas, apesar da demanda ser grande e acabam rapidamente. Quem chega ao posto de saúde da Rua Xingu não é atendido da forma correta e acaba tendo que utilizar a unidade 3 e por isso há uma sobrecarga. Há programas que simplesmente não funcionam, há pouco tempo havia um trabalho de prevenção na comunidade, tinha psicólogo, tinha tratamento de doenças infecciosas e um trabalho preventivo em cima disso.

Contratação de médicos

A prefeitura informou por meio de nota que as contratações relativas ao ingresso de dois médicos estão sendo finalizadas e a situação no Hospital Municipal Raul Sertã deve ser normalizada na próxima semana.

 

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TAGS: saúde | Governo