Nova Friburgo tem mais mortes registradas do que nascimentos

Segundo os cartórios, foram computados este ano 568 nascimentos contra 612 mortes
sexta-feira, 16 de abril de 2021
por Wanderson Nogueira*
Nova Friburgo tem mais mortes registradas do que nascimentos

Mais mortes do que nascimentos
Possivelmente, pela primeira vez na história, Nova Friburgo tem mais mortes registradas do que nascimentos. Segundo os cartórios, foram computados este ano 568 nascimentos contra 612 mortes. Um déficit até o último dia 14, de 44 pessoas. Para se ter uma ideia da gravidade, mesmo com a pandemia, no ano passado foram 1.848 óbitos ante 2.115 nascimentos. Nova Friburgo, portanto, teve saldo positivo de 267 vidas em 2020.

Reflexo da Covid-19
O número é bem menor do que em 2019, quando tivemos o último ano sem o  coronavírus. Foram 2.249 nascimentos contra 1.562 mortes, um saldo positivo de 687 vidas. Se de 2019 para 2020 houve queda, ainda não tinha se chegado ao triste fenômeno de mais mortes do que nascimentos. Os números não mentem: a pandemia aumentou exponencialmente o número de mortes já que outras enfermidades mantiveram a média.

Entre os piores do Brasil
O IBGE projetava essa situação de mais mortes do que nascimentos a nível nacional apenas para 2047. O Brasil como um todo ainda não chegou a ter mais mortes do que nascimentos, mas o que ocorre com Nova Friburgo é visto em 24% dos municípios brasileiros. Infelizmente, Nova Friburgo está nesse um quarto.

População em queda
No entanto, especialistas já alertam: se a escalada de mortes por conta da Covid-19 prosseguir, possivelmente, a marca será atingida a nível nacional, puxada também pelas capitais. Atualmente, das 50 cidades brasileiras com mais de 500 mil habitantes, 12 atingiram a triste marca friburguense. Reforçando que apenas quatro das 26 capitais têm menos de 500 mil habitantes.  

Atraso na informação
Observa-se que há um prazo médio de dez dias para que os óbitos e nascimentos sejam registrados nos cartórios e para que as informações sejam lançadas no sistema. Os indicadores podem ser ainda piores. Das 612 mortes registradas em Nova Friburgo, 199 foram por Covid, 61 por septicemia (infecção generalizada por bactéria, fungo ou vírus), 50 por pneumonia, 33 por AVC e 21 por infarto. As demais por outras causas.

Quase o dobro
Outro dado preocupante é o aumento da taxa de mortes-dia por coronavírus em Nova Friburgo. Se no ano passado, considerando apenas o período a partir do primeiro registro de óbito pela doença (15 de abril de 2020), foram 0,89 mortes por dia. Em 2021, o índice já passa do dobro. Contando os 104 primeiros dias deste ano (até 14 de abril), alcançamos o índice de 1,82 mortes/dia. Foram 190 mortes (janeiro/abril de 2021) contra 232 de abril a dezembro de 2020.

Divergência de dados
Os dados oficiais da prefeitura divergem do total de certidões de óbito registradas em cartório, em 2021: 190 mortes por Covid pelo governo, 199 pelos cartórios, até o último dia 14. Isso se explica: a velocidade com que as informações são atualizadas varia e os cartórios somam casos confirmados e suspeitos, enquanto o dado governamental usa apenas o total de mortes confirmadas, por isso também a diferença temporal na informação de um e de outro.  

Tragédia 2011 x pandemia
Nem no ano da tragedia climática (2011) que ceifou 442 vidas, oficialmente, Nova Friburgo teve mais mortes do que nascimentos. À época, não existia o Portal de Transparência dos Cartórios (iniciado em 2015). Cruzei então os dados do Sistema de Informação de Mortalidade com os de nascimentos do IBGE: 1876 mortes para 2262 nascidos vivos. Portanto, 386 vidas a mais. Estudos do Judiciário, incluindo o Ministério Público indicavam 14 desaparecidos e 13 corpos não identificados.

Dados sem suspeita
Ou seja, ainda que os 13 desaparecidos não estejam computados, ainda que eles possam estar entre os 14 corpos não identificados (que estão na estatística de óbitos), o número oficial de mortos ficaria no máximo em 455. Ainda que se suponha que o número de mortos seja maior do que o verificado (tese de alguns estudos acadêmicos refutando que tenha sido muito maior, algo que é acompanhado pelo Judiciário), não chegaria a fazer com que o número de óbitos (1876 a 1889) fosse maior do que o de nascidos (2262). 

Tragédia coletiva
Pelo estudo dos dados de 2008 a 2021, levando-se em conta a média das variáveis de nascimentos e mortos, que nitidamente mudou sua curva apenas nos anos da tragédia e nesses dois anos de Covid, é possível afirmar que se 2021 continuar com a pandemia desenfreada como está, teremos um número histórico de mortos e uma redução populacional como jamais vista. Para registro, a média de mortes de Nova Friburgo, excetuando 2011 e 2020/2021 é de 1.502 mortes/ano no período pesquisado.

Palavreando
“Não dá para esquecer daqueles que trazem estrelas aos nossos dias e nos iluminam mesmo não estando mais aqui... São estrelas que cintilam na memória. São sóis que nos guiam na escuridão. A matéria pode até virar pó, mas as histórias se perpetuam na gana de seguir os exemplos”.

*Wanderson Nogueira é colunista do jornal A VOZ DA SERRA 

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