Mulheres se endividam mais que homens, diz pesquisa

Realidade é impulsionada pela desigualdade salarial e dificuldade de acesso ao crédito, mas na hora de pagar, elas são mais comprometidas
segunda-feira, 24 de março de 2025
por Liz Tamane
(Foto: Marcelo Casal Jr. / Agência Brasil)
(Foto: Marcelo Casal Jr. / Agência Brasil)

No Brasil, as mulheres continuam sendo as mais afetadas pelo endividamento, realidade impulsionada por fatores como a desigualdade salarial, a dificuldade de acesso ao crédito e a responsabilidade majoritária pela administração dos lares de baixa renda. Apesar desse cenário desafiador, são elas que mais buscam regularizar suas finanças, demonstrando um compromisso inabalável com a estabilidade econômica. Dados recentes da Confederação Nacional do Comércio (CNC) e da Serasa revelam essa dinâmica e apontam para a urgência de medidas que garantam maior inclusão e equidade financeira.

A Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic), da CNC, mostra que, em fevereiro de 2025, pelo menos, 76,9% das mulheres estavam endividadas, contra 76% dos homens. Embora a diferença tenha diminuído em relação a 2024, os números ainda refletem um problema estrutural. No ano anterior, o percentual de mulheres endividadas era de 78,8%, contra 77,2% dos homens. Essa disparidade se deve, em grande parte, às condições salariais e ao modelo econômico que ainda impõe barreiras significativas ao público feminino.

O levantamento da Serasa confirma essa tendência, apontando que 93% das mulheres contribuem financeiramente para as despesas familiares e que, em 33% dos lares, elas são as únicas provedoras. Entre as mulheres de baixa renda (classes D e E), essa realidade é ainda mais crítica: em 43% dos casos, o sustento da família é integralmente responsabilidade delas.

A desigualdade salarial é um dos principais fatores que contribuem para o endividamento feminino. Histórica e estruturalmente, as mulheres recebem menos que os homens, apesar de avanços na luta por igualdade de gênero. Isso impacta diretamente a capacidade de gestão financeira e a necessidade de recorrer ao crédito para suprir demandas cotidianas.

Outro aspecto relevante é a sobrecarga feminina na gestão da casa e da família. A pesquisa da Serasa indica que 90% das mulheres conciliam o trabalho remunerado com as tarefas domésticas. Essa dupla jornada impacta não apenas o bem-estar e a qualidade de vida, mas também a capacidade de planejamento financeiro. 

É o caso da costureira Ana Cristina Barbosa que é mãe solo de duas crianças e trabalha em uma confecção de lingeries no bairro Olaria. Tendo que sobreviver e criar os filhos somente com o salário de R$ 1.700, sem pensão alimentícia das crianças, ela ainda paga R$ 500 de aluguel em uma casa de apenas três cômodos. Obviamente, no fim do mês, a conta não fecha e para não ficar devendo, ela recorre ao serviço de facção: arremata peças de confecções em uma máquina de costura em casa. Não raro, invade as madrugadas no serviço extra. “É dessa tarefa que eu garanto o pagamento do aluguel. Minha mãe sempre complementa alguma coisa, mas dívida não faço em hipótese alguma. Nem tenho nem cartão de crédito. Se pegar algum dinheiro emprestado, no dia que recebo o salário, nem entro em casa sem antes me livrar da dívida. Esse pesadelo eu não quero nunca ter”, sustenta ela.         

Buscando sempre a regularização

Porém, com menos tempo para organização e análise detalhada do orçamento, muitas mulheres acabam recorrendo a soluções financeiras emergenciais e, muitas vezes, desfavoráveis. Apesar das adversidades, as mulheres demonstram uma maior consciência e comprometimento com a regularização de suas dívidas. 

O estudo da Serasa revela que 40% delas priorizam a quitação de dívidas ao organizar o orçamento familiar. Além disso, as mulheres fecham 25% mais acordos no Feirão Serasa Limpa Nome do que os homens, evidenciando um maior comprometimento com a gestão financeira.

Para reduzir as desigualdades econômicas entre homens e mulheres, é fundamental que medidas concretas sejam implementadas. Isso inclui políticas públicas para a equiparação salarial, maior acesso ao crédito para mulheres empreendedoras e incentivos para a formalização de pequenas empresárias. Além disso, programas de apoio a mães solo e iniciativas para flexibilizar a jornada de trabalho poderiam contribuir para a melhora na gestão financeira dessas mulheres.

As mulheres brasileiras demonstram resiliência e responsabilidade financeira, mesmo diante de desafios persistentes. Garantir condições mais justas de participação no mercado de trabalho e no sistema financeiro é essencial para promover uma sociedade mais equitativa e sustentável.

 

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