Caracterizada pelo aparecimento de manchas avermelhadas ou esbranquiçadas, com perda de sensibilidade à dor, ao toque e ao calor, a hanseníase é o foco central da campanha Janeiro Roxo, mês dedicado à conscientização e combate à doença, que afeta cerca de 30 mil pessoas a cada ano no Brasil.
A campanha tem como objetivo alertar sobre os sinais e sintomas da doença que, se não for tratada a tempo, pode atingir os nervos periféricos e levar a incapacidades físicas. Todos os anos o terceiro domingo de janeiro é o escolhido para concentrar as ações de prevenção (neste ano, o próximo dia 26. Em 31 de janeiro, celebra-se o Dia Nacional de Combate e Prevenção à doença.
No Brasil
O Brasil ocupa o segundo lugar entre os países com maior número de casos de hanseníase no mundo, perdendo apenas para a Índia. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), em 2020, mais de 120 mil novos casos de hanseníase foram diagnosticados em todo o mundo. No Brasil, dados do Boletim Epidemiológico de Hanseníase de 2022, emitido pelo Ministério da Saúde, indicam que em torno de 18 mil novos casos da doença foram notificados no país no mesmo ano, o que corresponde a mais de 90% dos casos notificados em todas as Américas.
O pico da doença no Brasil foi observado em 2003, com 51.941 casos. Por isso, em 2016, o Ministério da Saúde oficializou o mês de janeiro e consolidou a cor roxa para campanhas educativas sobre a doença no país.
Casos em Nova Friburgo
De acordo com a prefeitura, o município atualmente possui seis pacientes em acompanhamento, mantendo em 100% o número de possíveis contatos examinados de hanseníase, superando, inclusive, a meta nacional. O Programa Municipal de Controle de Hanseníase capacitou cerca de 100 profissionais da assistência, entre 2023 e 2024, entre eles, médicos, enfermeiros, fisioterapeutas, agentes comunitários e outros, que atuam nas unidades básicas de saúde, a fim de ampliar o diagnóstico e tratamento da doença.
Diante de um sinal ou sintoma suspeito da Hanseníase, o indicado é procurar a unidade de saúde mais próxima para avaliação inicial e, caso necessário, a pessoa será encaminhada ao Programa Municipal de Controle de Hanseníase, que funciona no posto Sílvio Henrique Braune (Suspiro)
O que é a doença
Trata-se de uma doença infectocontagiosa que atinge, principalmente, os nervos periféricos e a pele, mas também pode acometer outros órgãos. Se não diagnosticada e tratada no início, a doença pode levar à incapacidade física. Tudo isso pode ser evitado ao observar os primeiros sinais e sintomas da doença, realizando o diagnóstico precoce, tratamento oportuno e prevenção de incapacidades.
Os principais sinais e sintomas são:
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Uma ou mais manchas esbranquiçadas, avermelhadas ou amarronzadas em qualquer parte do corpo, com diminuição ou perda da sensibilidade ao calor, à dor e ao tato;
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Áreas com diminuição dos pelos e do suor;
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Caroços e inchaços no corpo, em alguns casos avermelhados e doloridos.
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Diminuição da sensibilidade e/ou da força muscular de olhos, mãos e pés;
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Dor e sensação de choque, fisgadas e agulhadas ao longo dos nervos dos braços, mãos, pernas e pés;
- Cortar-se ou queimar-se sem sentir dor.
Transmissão e tratamento
A transmissão da Hanseníase acontece por contato com gotículas de saliva ou secreções nasais do doente. Ou seja, apesar do que muita gente acredita, essa doença não pode ser transmitida pelo toque.
O tratamento da hanseníase é feito por meio do uso de três antibióticos associados, rifampicina, dapsona e clofazimina, sendo conhecido como Poliquimioterapia Única (PQT-U). O tratamento pode durar de seis a 12 meses e tem como objetivo matar o bacilo causador da doença. Uma vez que o tratamento é iniciado, a doença deixa de ser transmitida.
Hanseníase tem cura?
A hanseníase tem cura, que é alcançada através do uso dos medicamentos devem ser tomados até o término do tratamento. No entanto, quando a pessoa não trata essa condição de forma adequada e na fase inicial, a hanseníase pode provocar lesões graves e irreversíveis, como cegueira, neurite periférica e deformidades físicas.
O diagnóstico precoce é a melhor forma de prevenção contra a hanseníase. Quanto mais cedo for identificada a doença e o tratamento adequado iniciado, mais rápida será a cura e menores as chances de complicações para o paciente.
Em casos de pessoas que tenham tido contato prolongado ou regular com um indivíduo diagnosticado com hanseníase, a vacina BCG pode auxiliar como forma de proteção. Embora a vacina BCG não seja específica para a hanseníase (protege contra a tuberculose), ela pode auxiliar melhorando a resposta imunológica da pessoa contra uma possível infecção pelo bacilo, diminuindo sua transmissão e manifestação clínica da doença.
Existem protocolos a serem seguidos para utilização dessa estratégia de proteção. Normalmente, a vacina BCG é aplicada nos primeiros anos de vida e gera uma marca característica no braço. Em adultos, a vacina só deve ser aplicada após avaliação do histórico vacinal da pessoa em risco de contaminação (se tomou a BCG e quantas doses foram aplicadas ao longo da vida).
Estigma e discriminação
Aspectos relacionados ao estigma e à discriminação podem promover a exclusão social e resultar em interações sociais desconfortáveis, que trazem sofrimento psíquico e limitam o convívio social. Consequentemente, esta importante particularidade da hanseníase pode interferir no diagnóstico e adesão ao tratamento, perpetuando um ciclo de exclusão social e econômica.
Embora destaque-se por ser o primeiro país no mundo que desenvolveu legislação que proíbe linguagem discriminatória contra as pessoas acometidas pela hanseníase, representando importante avanço para a garantia dos direitos das pessoas atingidas pela hanseníase, não existe nacionalmente penalidades impostas para quem as infringirem. Denúncias podem ser feitas ao Disque Saúde 136.
*Reportagem da estagiária Laís Lima sob supervisão de Henrique Amorim
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