"Informação é a arma contra as fake news", diz criador do "Fakepedia"

Como identificar notícias falsas? Confira os principais sites de checagem para apurar a veracidade delas
sexta-feira, 25 de setembro de 2020
por Guilherme Alt (guilherme@avozdaserra.com.br)
Anderson Cordeiro:
Anderson Cordeiro: "As bolhas diminuem a capacidade de checagem"

Anderson Cordeiro, friburguense, 34 anos, é doutorando pela UFRJ,  integrante o Laboratório Cores, responsável  pela identificação de notícias falsas em redes sociais. Suas credenciais dispensam apresentações. 

Em 2016, Anderson criou o Fakepedia, primeiro site friburguense de checagem de notícias que conta, atualmente, com 213 colaboradores espalhados por todo o país. Com o início da campanha eleitoral, o site será importante ferramenta no combate às notícias falsas e é sobre isso que o Caderno Z vai tratar nesta conversa.

AVS: Como surgiu a o Fakepedia?

É um projeto da minha tese de doutorado. Começamos a trabalhar com notícias falsas em 2016, e foi nessa época que se popularizou. Num primeiro momento trabalhamos com notícias internacionais e pensamos em uma forma de trabalhar com conteúdo nacional, muito em função das eleições de 2018. Esse é um problema social e não computacional. Só se combate fake news armando as pessoas com informações.

Como a pandemia contribuiu para o aumento de notícias falsas?

Por ser um assunto delicado e abrangente, vimos a necessidade de ter um especialista, que funciona como um juiz e ajuda a autenticar a veracidade da informação. Temos uma especialista da Fiocruz, que se tornou nossa parceira.

A que devemos a popularização das fake news?

Às eleições presidenciais dos EUA, de 2016. É um termo extremamente político. A gente trabalha com algo que chamamos de desordem informacional e temos alguns grupos. Por exemplo: desinformação é o mais próximo das fake news, criado para prejudicar, fora de contexto, sátira ou uma notícia incompleta; falta de informação é algo que foi compartilhado por alguém sem intenção fazer mal; e a informação mal intencionada, que é uma informação verdadeira, mas particular, que só se tornou pública para causar danos a alguém.

Tem exemplos de fake news friburguenses?

Aqui é muito comum a desinformação e informação mal intencionada, que é trazer a vida privada para o discurso político. É a questão de passar a notícia como se fosse um furo de reportagem, mas na verdade não é. Isso é estratégia para aumentar a popularidade, clique. Na última semana, por exemplo, uma página de notícias usou algo fora de contexto. Uma notícia que falava de Vargem Grande e quem é de Friburgo acha que é notícia local, mas na verdade é de outro município. Isso é uma notícia fora de contexto.

Como é o trabalho de checagem?

A figura dos especialistas, principalmente do jornalista, é imprescindível. Se é uma fake news sobre alguém, o nosso trabalho é checar diretamente com essa pessoa. É ir direto às fontes para saber se aquilo é realmente verdade.

Como o leitor pode identificar uma notícia falsa?

Comprovadamente, as notícias falsas têm maior alcance, são mais populares do que as verdadeiras. Pesquisar sobre essa notícia em outros veículos para saber se os principais meios de comunicação estão dando essa informação. É preciso verificar a fonte, ver se a notícia vem de um veículo confiável. Muitas notícias falsas têm: erros de português, de formatação e uso exagerado de pontuação. Verifique a data – às vezes é uma notícia antiga trazida fora de contexto –, importante saber quem é o autor daquela notícia. Tem que ler a notícia toda. Tem gente que só lê o título. Verificar se aquela notícia é alarmante, as notícias falsas são feitas para chocar, para despertar algum tipo de sentimento.

As chamadas bolhas contribuem para a propagação das fake news?

As bolhas diminuem a capacidade de checagem. Uma notícia que circula em um determinado grupo que é favorável a alguma coisa, não circula em outra bolha que provavelmente questionaria essa informação. Tudo isso foi um prato cheio para a popularização das fake news no Brasil.

Quando há um erro em uma determinada notícia, isso é fake news?

É um erro. A diferença de um jornal sério para uma página de notícias que não tem jornalista, é que quando há um erro, o jornal se retrata. Quando não se tem esses princípios uma notícia errada causa danos, como as fake news.

Preocupa a popularização do termo?

Preocupa, porque você acaba colocando tudo na mesma sacola. Um jornal que erra e uma pessoa que criou um conteúdo para prejudicar alguém não estão no mesmo lugar, não é tudo fake news.

A notícia falsa sobre a represa que teria estourado na tragédia de 2011 seria a mais famosa da cidade?

Se fosse para identificar uma notícia falsa que representa a cidade, seria essa. Foi algo totalmente produzido e contaminou as pessoas. Sentimos na pele como as fake news são poderosas.

Estão preparados para estas eleições?

A gente acredita que muitas notícias falsas vão circular no município e Friburgo vai ser o nosso estudo de caso. Nós vamos analisar as redes, os grupos de notícias, postagens de candidatos. Vamos criar uma instância no site para informações que possam ser contestadas.

As fake news podem decidir os rumos de uma eleição?

Não só podem como já decidiram. Gosto de citar a campanha do Trump que foi tomada por fake news, como as que envolveram Hillary Clinton e pedofilia, amplamente divulgadas nas redes sociais. Com o Obama, as redes sociais foram usadas de forma correta, como ferramenta para pedir voto e angariar patrocinadores. O Trump veio de forma antidemocrática, pedindo para não votarem em sua opositora. O guru da campanha do Trump veio para o Brasil e implementou as mesmas ideias. Hoje, nós temos o chamado Gabinete do Ódio, alvo de CPI e o uso de robôs para espalhar notícias falsas.  

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Como identificar fake news? 

Por Thiago Lima (thiago@avozdaserra.com.br_

O boom da internet e a ânsia desta geração por notícias instantâneas tem gerado um problema grave para todo o planeta: as fake news, tema bem abordado nesta edição. O leitor precisa ficar atento ao meio de comunicação que o mantém informado, escolhendo veículos de comunicação sérios. Se bater a dúvida, antes de compartilhar qualquer informação, verifique a veracidade da mesma em algumas plataformas de checagem de notícias que separamos. Confira! 

  • Agência Lupa 

A Lupa (piaui.folha.uol.com.br/lupa) é a primeira agência de notícias do Brasil a se especializar na técnica jornalística mundialmente conhecida como fact-checking, fundada em 1º de novembro de 2015.  A Lupa integra a International Fact-Checking Network (IFCN), rede mundial de checadores reunidos em torno do Poynter Institute, nos Estados Unidos, e segue à risca o código de conduta e princípios éticos do grupo. Para entrar em contato com a Lupa, basta mandar uma mensagem no Facebook, que um robô irá auxiliar na avaliação das informações, se verdadeiras ou falsas.

  • Fato ou Fake

O Fato ou Fake (g1.globo.com/fato-ou-fake), criado pelo grupo Globo, faz a apuração de notícias falsas com uma equipe composta por jornalistas que trabalham em veículos como Época, Extra, G1, CBN, TV Globo, GloboNews, O Globo e Valor Econômico. Para entrar em contato é só mandar uma mensagem no Facebook ou para o WhatsApp, através do número (21) 97305-9827.

  • Fake Check

A plataforma Fake Check (nilc-fakenews.herokuapp.com) foi criada pela junção de pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) e da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar). Diferentemente de uma agência, a plataforma utiliza aprendizagem de máquina e inteligência artificial para avaliar se um texto é verdadeiro ou falso. Para entrar em contato basta enviar uma mensagem para o robô do WhatsApp através do número (16) 98112-8986.

  • Pública

Fundada em 2011 por repórteres mulheres, a Pública (apublica.org) é a primeira agência de jornalismo investigativo sem fins lucrativos do Brasil. Todas as reportagens são feitas com base na rigorosa apuração dos fatos e têm como princípio a defesa intransigente dos direitos humanos. Entre em contato pelo telefone (11) 3661-3887 ou pelo e-mail redacao@apublica.org.

  • E-Farsas

O E-Farsas (www.e-farsas.com), lançado em 2001, é responsável por avaliar boatos que são espalhados diariamente pela internet. Após a avaliação, um post é feito para que as pessoas possam ter acesso ao conteúdo. Para entrar em contato com eles é só acessar o link (www.e-farsas.com/contato).

  • Aos Fatos 

O Aos Fatos (www.aosfatos.org) é uma agência independente de checagem de fatos e conta com o financiamento de apoiadores, aos moldes do crowdfunding. Atualmente conta com parcerias remuneradas com o UOL e o Facebook, este último por meio do programa de checadores independentes. Além disso, possui parceria não remunerada com  a TV Cultura, que faz a republicação das checagens da plataforma. Para entrar em contato, é só mandar uma mensagem no Facebook, Twitter, para o e-mail ouvidoria@aosfatos.org ou para o Whatsapp (21) 99956-5882. 

  • Boatos.org 

Criado em junho de 2013, o Boatos.org é uma organização independente atualizado diariamente graças a uma equipe de jornalistas ávidos em descobrir a verdade. O trabalho do Boatos.org se diferencia por cobrir notícias que muitas vezes não passam pelo editorial de grandes jornais. Para entrar em contato com eles, mande um e-mail para boatos.org@gmail.com ou entre em contato pelas redes sociais.

 

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TAGS: eleições