Incels: quem são, impacto na sociedade e abordagem na série Adolescência

Fenômeno se radicalizou ao longo dos anos e hoje está associado a discursos de ódio, misoginia e ataques violentos
quarta-feira, 02 de abril de 2025
por Liz Tamane
(Foto: Divulgação Netflix)
(Foto: Divulgação Netflix)
Nos últimos anos, o termo "incel" tem ganhado espaço nos debates sobre masculinidade, misoginia e ciberviolência. O conceito, que significa "celibatário involuntário" (do inglês involuntary celibate), se refere a pessoas que se identificam como incapazes de estabelecer relações românticas ou sexuais, apesar de desejá-las. Embora o fenômeno tenha surgido como um espaço de apoio para indivíduos solitários, ele se radicalizou ao longo dos anos e hoje está associado a discursos de ódio, misoginia e até mesmo ataques violentos.

Série da Netflix trouxe o universo dos incels para o centro da discussão a partir do assassinato de uma adolescente
A série Adolescência, da Netflix, trouxe esse universo para o centro das discussões ao narrar a história de Jamie Miller, um adolescente britânico de 13 anos que é detido após o assassinato de uma colega da escola. A produção aborda temas como masculinidade tóxica, violência online e o papel da cultura incel na formação da identidade masculina, ampliando o debate sobre os riscos desse movimento.

A origem e a evolução dos incels

O termo "incel" surgiu na década de 1990 em um blog criado por uma jovem canadense identificada como Alana. O objetivo inicial era oferecer apoio a pessoas que se sentiam solitárias e rejeitadas. No entanto, com o tempo, a comunidade incel se transformou em um espaço de ressentimento e radicalização, especialmente com o crescimento dos fóruns online, como Reddit e 4chan.

Muitos membros dessas comunidades compartilham uma visão fatalista de que são "perdedores genéticos", impossibilitados de atrair mulheres por fatores como aparência física e status social. Essa perspectiva alimenta um ciclo de frustração e autocomiseração, muitas vezes acompanhada de discurso de ódio contra as mulheres e homens que conseguem estabelecer relações.

Impacto social e episódios de violência

Embora nem todos os incels sejam violentos, alguns casos extremos trouxeram a questão à tona, em que homens que consideravam parte desse grupo mataram pessoas como “rebelião”. Esses ataques levaram autoridades a discutir se os incels deveriam ser classificados como grupos terroristas. No Reino Unido, após um ataque, houve uma proposta para enquadrar a subcultura incel como uma organização extremista, embora a ideia não tenha sido formalizada. O crescimento da violência associada ao movimento também gerou um alerta sobre o papel da saúde mental na prevenção de tais comportamentos.

A representação na série Adolescência

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE

A série Adolescência tem sido elogiada não apenas pelo seu roteiro e atuações, mas também pela forma como aborda o universo dos incels de maneira realista e crítica. O protagonista Jamie Miller representa um adolescente vulnerável a esses ideais. 

A produção também explora conceitos comuns nesses fóruns, como a "pílula negra", que simboliza a aceitação de que não há esperança para os incels, e a "regra do 80/20", que defende que 80% das mulheres estão interessadas em apenas 20% dos homens. Esses conceitos reforçam a sensação de vitimismo e alimentam o ressentimento dos membros dessas comunidades.

Incels e saúde mental

Especialistas têm apontado que o fenômeno incel deve ser tratado como uma questão de saúde mental. Muitos desses indivíduos enfrentam sérias dificuldades emocionais e têm percepções distorcidas sobre as relações interpessoais. 

Ex-membros da comunidade incel também relatam que conseguiram sair desse ciclo ao buscar apoio e mudar sua perspectiva sobre as relações humanas. Ao abordar o universo dos incels, Adolescência não apenas alerta sobre os perigos da radicalização online, mas também convida a uma reflexão sobre os desafios emocionais enfrentados por jovens em um mundo hiperconectado. A série sugere que o problema não deve ser tratado apenas como uma questão de segurança pública, mas também como um desafio de saúde mental e educação emocional.

Com um enredo envolvente e atuações impactantes, a produção da Netflix amplia o debate sobre masculinidade, solidão e violência, ajudando a desmistificar um dos movimentos mais preocupantes da atualidade. Mais do que um retrato sombrio da realidade, Adolescência é um chamado à compreensão e à prevenção da radicalização juvenil.

 

Publicidade
Publicidade
Publicidade
Publicidade

Apoie o jornalismo de qualidade

Há 80 anos A VOZ DA SERRA se dedica a buscar e entregar a seus leitores informações atualizadas e confiáveis, ajudando a escrever, dia após dia, a história de Nova Friburgo e região. Por sua alta credibilidade, incansável modernização e independência editorial, A VOZ DA SERRA consagrou-se como incontestável fonte de consulta para historiadores e pesquisadores do cotidiano de nossa cidade, tornando-se referência de jornalismo no interior fluminense, um dos veículos mais respeitados da Região Serrana e líder de mercado.

Assinando A VOZ DA SERRA, você não apenas tem acesso a conteúdo de qualidade, mantendo-se bem informado através de nossas páginas, site e mídias sociais, como ajuda a construir e dar continuidade a essa história.

Assine A Voz da Serra

TAGS: