A pandemia agravou a desigualdade no acesso à internet no Brasil, o que pode deixar cicatrizes sociais em crianças e jovens: com a exclusão digital e a disparidade no acesso à educação, o risco de os filhos não conseguirem ter renda superior à dos seus pais quando adultos aumenta. O alerta é do Instituto de Mobilidade e Desenvolvimento Social (IMDS), criado recentemente pelos economistas Arminio Fraga, ex-presidente do Banco Central, e Paulo Tafner.
Os dados cruzados pelo instituto mostram que só 29,6% dos filhos de pais que não tiveram qualquer instrução têm acesso à banda larga. Nos lares onde os pais têm curso superior, essa parcela sobe para 89,4%. E mais: 55% dos filhos de pais sem instrução não têm acesso à internet. A fatia cai para 4,9% quando os pais concluem a universidade.
Segundo Tafner, diretor-presidente do instituto, já é certo que o país vai piorar no indicador de mobilidade social entre gerações, que tem avançado desde a década de 1960 com a universalização da educação básica: “Um dos principais caminhos para aumentar a mobilidade social é a educação. No caso do Brasil, na pandemia, ampliou-se esse fosso digital. Os meninos e meninas que estão em escolas particulares têm aula remota. E praticamente nenhuma escola pública teve aula presencial ou remota. A possibilidade de mobilidade social foi diminuída”, disse.
Pobreza digital
O sociólogo Carlos Ribeiro, do Iesp/Uerj, afirma que ainda é difícil prever se a mobilidade social vai diminuir, mas certamente a desigualdade nas chances de ter um futuro melhor que o dos pais vai aumentar com a perda do ano letivo entre os mais pobres: “Entre a origem e o destino socioeconômico, a educação tem efeito muito forte. Ter esse desastre na educação é muito ruim”.
O risco da exclusão digital é global, e os efeitos podem ser mais intensos num país que é o nono mais desigual do mundo como o Brasil. O Relatório de Riscos Globais de 2021, do Fórum Econômico Mundial, divulgado na semana passada, alerta que “um crescimento da lacuna digital pode maximizar as fraturas sociais e minar as perspectivas de uma recuperação inclusiva”.
Para Marcelo Medeiros, sociólogo e professor visitante na Universidade de Princeton, o acesso digital é, hoje, um direito fundamental e “não foi incluído na Constituição na década de 1980 porque o mundo era diferente”. Agora, deveria ser incluído: “Como focamos na erradicação da fome, da pobreza pela renda, temos que focar na erradicação da pobreza digital”.
A importância da transparência de dados públicos
Segundo a Lei de Acesso à Informação, é dever do Estado garantir o direito de acesso à informação de forma transparente, clara e em linguagem de fácil compreensão.
Os órgãos, ainda, devem realizar ampla divulgação de suas informações relevantes, de interesse coletivo – nesse sentido, é obrigatória a sua publicidade em todos os meios possíveis, para maior acesso de toda população e não somente no meio digital, somente assim se terá a transparência efetiva.
(Com informações de O Globo)
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