Excelentíssimas autoridades, queridos irmãos e irmãs em Cristo, é com grande honra e emoção que nos reunimos hoje (3 de maio) para celebrar os 200 anos de presença luterana no Brasil e em Nova Friburgo, assim como a chegada da imigração alemã a nossa amada cidade. Permitam-me fazer uso de um pequeno trecho de um poema escrito por Haruki Murakami. Ele escreve:
Em certas ocasiões, o destino se assemelha a uma pequena tempestade de areia, cujo curso sempre se altera. Você procura fugir dela e orienta seus passos noutra direção. Mas então, a tempestade também muda de direção e o segue. Isso acontece porque a tempestade não é algo independente, vindo de um local distante. A tempestade é você mesmo. Algo que existe no seu íntimo. (...) E, quando a tempestade passar, na certa lhe será difícil entender como conseguiu atravessá-la e ainda sobreviver. Aliás, nem saberá com certeza se ela realmente passou. Uma coisa, porém, é certa: ao emergir do outro lado da tempestade, você já não será o mesmo de quando nela entrou. Exatamente, esse é o sentido da tempestade de areia.
O destino, pequena tempestade de areia, fez com que a imigração alemã e a Igreja Luterana aportassem nas “brenhas do Morro Queimado”. O primeiro grupo que chegou à Nova Friburgo era composto de 342 emigrantes, dos quais 110 eram oriundos da região de Becherbach perto de Kirn, local do pastorado de Friedrich Oswald Sauerbronn.
O pastor Sauerbronn tomou a decisão de acompanhar os membros de sua comunidade em seu caminho para um futuro incerto e, assim, torna-se o primeiro pastor luterano em solo brasileiro. Sua esposa, Charlotte Wilhelmine Kühlenthal, grávida, enfrentou os desafios da travessia e, infelizmente, faleceu no parto. Suas vidas e sacrifícios são testemunho da coragem e fé daqueles que trouxeram o luteranismo para esta terra.
Os imigrantes trouxeram consigo não apenas suas tradições culturais e valores sociais, mas também a herança do Luteranismo. Nas bagagens havia Bíblias e hinários em língua alemã e escritos de Martim Lutero, entre estes, o Catecismo Menor. A Igreja Luterana, assim, assumiu um papel importante na preservação da identidade étnica desses imigrantes, já que além de ser uma instituição religiosa, também servia como um ponto de encontro e espaço terapêutico em meio a uma terra desconhecida.
Ao lembrarmos da história e dos desafios enfrentados pelos primeiros alemães luteranos no Brasil, somos lembrados da importância de mantermos viva a chama da fé e do compromisso com a missão de proclamar o Evangelho. O bicentenário da presença luterana é um marco significativo para o presente, pois nos desafia a continuar a obra iniciada por aqueles corajosos pioneiros e aquelas corajosas pioneiras.
Nestes 200 anos, ao longo das muitas “tempestades de areia”, homens e mulheres, idosos/as, jovens e crianças, nominados ou anônimos, verteram seu sangue para fazer a colonização de Nova Friburgo dar certo!
Nestes 200 anos, ao longo das muitas “tempestades de areia”, muitas pessoas verteram sangue e suor para ser Igreja Luterana em Nova Friburgo – uma igreja acolhedora, ecumênica e dialogal.
Em gratidão aos imigrantes alemães luteranos do passado e às pessoas engajadas do presente, precisamos continuar a trilhar o caminho da graça e da justiça. Defendo os imigrantes e despatriados, assim como nossos antepassados o foram um dia.
Certamente após a travessia do bicentenário não seremos mais os mesmos – nem poderíamos ser. Novas “tempestade de areia” virão; novas oportunidades surgirão. Que este bicentenário seja um momento de reflexão, celebração e renovação do nosso compromisso com a missão de Deus.
Que Deus abençoe os festejos do Bicentenário alemão, que Deus abençoe os 200 anos de presença luterana no Brasil e em Nova Friburgo, guiando-nos sempre em sua graça e amor incondicional de geração em geração. Amém.
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