Dia Internacional da Mulher: o que há para comemorar?

No Brasil, mulheres ainda enfrentam desafios profundos relacionados à violência, desigualdade salarial e sub-representação política
segunda-feira, 10 de março de 2025
por Liz Tamane
(Foto: Fernando Frazão Agência Brasil)
(Foto: Fernando Frazão Agência Brasil)

O Dia Internacional da Mulher, celebrado no último sábado, 8, deveria ser um momento de reconhecimento e valorização das conquistas femininas ao longo da história. No entanto, os dados mais recentes revelam que, no Brasil, as mulheres ainda enfrentam desafios profundos relacionados à violência, desigualdade salarial e sub-representação política. Em 2025, a pergunta que ecoa é: há, de fato, algo a ser comemorado?

Violência contra a mulher atinge níveis alarmantes

O Fórum Brasileiro de Segurança Pública divulgou uma pesquisa que escancara a escalada da violência de gênero no país. Mais de 21 milhões de brasileiras sofreram algum tipo de agressão nos últimos 12 meses, o equivalente a 37,5% do total de mulheres. Esse número representa o maior índice já registrado desde 2017, quando o levantamento começou a ser realizado, e significa um aumento de 8,6 pontos percentuais em relação à última pesquisa, feita em 2023.

Entre os casos mais graves, o estudo aponta que 5,3 milhões de mulheres (10,7% da população feminina) foram vítimas de abuso sexual ou foram forçadas a manter relações sexuais contra a própria vontade no último ano. Isso significa que uma em cada dez brasileiras passou por esse tipo de violência recentemente.

Um relatório da Organização Mundial da Saúde (OMS) revelou que 32,4% das mulheres no Brasil já sofreram alguma forma de violência por parte de um parceiro ou ex-parceiro, um percentual superior à média global, que é de 27%. Para Samira Bueno, diretora-executiva do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, os números deixam claro que o Brasil se torna, a cada ano, um país menos seguro para as mulheres.

Os dados revelam que a violência de gênero não é um problema isolado e exige ações concretas por parte do poder público e da sociedade. Embora existam leis de proteção, como as leis Maria da Penha e do Feminicídio, o número crescente de casos mostra que ainda há falhas na prevenção e no atendimento às vítimas.

Desigualdade salarial 

Mesmo em um cenário de avanços nos direitos das mulheres, a desigualdade salarial continua sendo uma realidade no Brasil. Um estudo realizado pelo Research Center da Afya revelou que, na medicina, uma das profissões mais bem remuneradas do país, as médicas recebem, em média, 22,6% a menos do que os médicos homens.

O levantamento mostrou que os profissionais da medicina ganham, em média, R$ 19.907 por mês. No entanto, enquanto os homens recebem R$ 22.669,86, as mulheres ganham R$ 17.535,32. A diferença salarial persiste mesmo quando se considera a carga horária semanal: os médicos trabalham, em média, 54,3 horas por semana, enquanto as médicas cumprem 47,4 horas. No entanto, a remuneração por hora trabalhada dos homens é R$ 417, enquanto a das mulheres é R$ 370, uma diferença de 11,4% por hora trabalhada.

Esse cenário não se restringe à medicina. Em diversas outras áreas, mulheres continuam ganhando menos do que seus colegas homens, mesmo quando possuem formação e experiência equivalentes. Essa disparidade impacta diretamente a autonomia financeira feminina e perpetua um ciclo de dependência que, muitas vezes, dificulta que mulheres saiam de relacionamentos abusivos.

Mulheres ainda são minoria na política 

Outro reflexo da desigualdade de gênero no Brasil está na política. Apesar de representarem 51% da população, as mulheres ainda ocupam uma fatia mínima dos cargos eletivos. Um levantamento do RenovaBR revelou que mais de 700 municípios brasileiros não têm nenhuma mulher eleita para o cargo de vereadora. Além disso, apenas 13% das cidades do país são administradas por prefeitas. Isso significa que, em um universo de mais de 5.500 municípios, a grande maioria das decisões políticas ainda é tomada por homens.

A sub-representação feminina não ocorre por falta de interesse na política, mas sim por obstáculos estruturais que dificultam a participação das mulheres no cenário eleitoral. As candidatas femininas, por exemplo, recebem menos recursos do fundo eleitoral do que os homens. Além disso, muitas mulheres são lançadas como "candidatas laranjas", apenas para que os partidos cumpram a cota mínima de participação feminina exigida por lei, sem que de fato tenham apoio para suas campanhas.

Em entrevista à revista IstoÉ, Bruna Barros, diretora-executiva do RenovaBR, afirmou que os partidos deveriam ser responsabilizados pela falta de inclusão feminina na política. Segundo ela, é fundamental que sejam implementadas medidas concretas para garantir maior equidade na disputa eleitoral e permitir que mais mulheres cheguem a cargos de liderança.

O que ainda precisa mudar?

O Dia Internacional da Mulher não deve ser apenas um dia de homenagens e flores. Os dados sobre violência, desigualdade salarial e sub-representação política mostram que o Brasil ainda está longe de alcançar a equidade de gênero.

Nos últimos anos, houve avanços importantes, como o fortalecimento da Lei Maria da Penha e a implementação de políticas públicas voltadas à proteção das mulheres. No entanto, os desafios persistem, e é fundamental que a sociedade como um todo se envolva na luta por mudanças estruturais.

A desigualdade de gênero não é apenas uma questão de direitos humanos, mas também um problema social e econômico. Quando mulheres têm acesso a oportunidades iguais, toda a sociedade se beneficia. Por isso, mais do que celebrar o 8 de março, é essencial que essa data seja um momento de reflexão e ação.

Enquanto uma em cada dez mulheres for vítima de abuso sexual, enquanto profissionais femininas ganharem menos do que seus colegas homens e enquanto mais de 700 municípios brasileiros não tiverem nenhuma vereadora eleita, a resposta para a pergunta "O que há para comemorar?" continuará sendo a mesma: ainda não o suficiente.

 

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