Depois de atadura e gesso, agora falta até papel higiênico no Raul Sertã

“Temos que trazer de casa para o próprio uso”, se queixou servidor da unidade. Prefeitura não reconhece o problema, mas vai apurar o caso
quinta-feira, 10 de dezembro de 2020
por Fernando Moreira (fernando@avozdaserra.com.br)
O Hospital Municipal Raul Sertã (Arquivo AVS)
O Hospital Municipal Raul Sertã (Arquivo AVS)

Menos de duas semanas após uma grave denúncia feita pelo atual diretor-médico do Hospital Municipal Raul Sertã, José Cláudio Alonso, na qual ele revelou que “não havia atadura e gesso para mínimos atendimentos no setor de ortopedia” e que há “poucos equipamentos cirúrgicos para o trauma", o que deixaria a unidade próxima de entrar em “colapso”, novas denúncias recebidas por A VOZ DA SERRA sugerem que se a situação mudou, e para pior.

De acordo com Luiz Eduardo Macedo, que se identificou como servidor concursado da prefeitura e atua no setor de radiologia do Raul Sertã, somente as cirurgias ortopédicas de emergências estão sendo realizadas na unidade, devido à falta de estrutura, equipamentos, insumos e medicamentos. Ainda segundo a denúncia, pelo menos dez pessoas estariam internadas no hospital aguardando cirurgias ortopédicas e outros procedimentos que, segundo Luiz Eduardo, não têm data para ocorrer.

“Há ainda o caso de um jovem de 27 anos que sofreu diversas fraturas na perna e está há quase um mês internado no Raul Sertã aguardando transferência para um hospital especializado em Paraíba do Sul, no Centro-Sul fluminense. Mas essa transferência nunca sai”, denunciou o servidor, que completou: “As pessoas mais jovens têm uma calcificação mais rápida. Se esse rapaz não for operado logo, essas fraturas irão calcificar e ele vai ficar com sequelas na perna”, afirmou.

Problemas vão além

Ainda de acordo com o Luiz Eduardo, os problemas não se resumem “apenas” à falta de materiais, insumos e medicamentos para a realização de cirurgias e de pacientes internados. Ele conta que o problema vai além e faltam materiais ainda mais básicos, como papel higiênico para pacientes, acompanhantes e até funcionários do hospital. “Nem isso tem no Raul Sertã ultimamente. Temos que trazer de casa para o nosso próprio uso. Um completo absurdo”, se queixou.

O servidor denunciou também que o Centro de Terapia Intensiva (CTI) do Hospital Municipal Raul Sertã também está sem ar condicionado, o que obriga os funcionários a deixaram portas e janelas abertas, o que não é recomendado para o setor, que deve ser um dos mais protegidos de um hospital contra vírus e bactérias que possam agravar a saúde dos pacientes já debilitados. 

O que diz a prefeitura

Questionada pelo jornal sobre as denúncias feitas pelo servidor, a Prefeitura de Nova Friburgo se manifestou através de nota, na qual afirmou que “a Secretaria Municipal de Saúde desconhece a falta de insumos básicos, como papel higiênico, conforme citado pelo servidor, e, irá apurar a denúncia. Sobre os pacientes com necessidade de cirurgias ortopédicas estão todos regulados pelo Estado do Rio de Janeiro e aguardando confirmação da reserva para realização de cirurgia em hospital de referência”.

 O “colapso” na ortopedia

O cirurgião plástico e atual diretor médico do Hospital Municipal Raul Sertã, José Cláudio Alonso, em áudio encaminhado a um grupo de médicos, mas que acabou vazando, revelou detalhes dramáticos sobre a atual situação do setor de ortopedia da unidade, como falta de gesso e ataduras para mínimos atendimentos, o que pode causar um colapso na unidade, segundo ele. Na ocasião, ainda fez um alerta aos médicos do hospital:

“Para não expor nenhum médico de plantão, prescrevam sempre o tratamento e tudo o que for necessário ao tratamento do paciente. Isso vale para qualquer item faltante e necessário. Todos já estão cientes do problema: Ministério Público, delegacia, prefeitura e Secretaria Municipal de Saúde. Estamos há cerca de dois meses exaustivamente fazendo esses alertas, sem nenhuma medida concreta para sanear essa situação. Estamos chegando num patamar dramático”, afirmou no áudio o diretor médico do Raul Sertã.

Devido a grande repercussão do caso, o Conselho Regional de Medicina do Estado do Rio de Janeiro (Cremerj) entrou no circuito e ingressou “com ação judicial contra a Prefeitura de Nova Friburgo devido à situação calamitosa do setor de ortopedia do Hospital  Raul Sertã, um dos principais da região. O serviço enfrenta uma grave falta de insumos, como atadura e gesso. Não é de hoje que o Cremerj sinaliza que a ortopedia passa por problemas. Recentemente, o conselho realizou duas fiscalizações no hospital e os relatórios foram enviados para o Ministério Público para providências cabíveis”.

Na ocasião, também procurada por A VOZ DA SERRA, a prefeitura informou que já havia notificado judicialmente os fornecedores de insumos para regularizar o estoque dos materiais de ortopedia. A nota informava ainda que “todo o trâmite burocrático e legal dos processos está correto e que todos os meios cabíveis ao poder público para a obtenção de material e medicamentos estão sendo feitos”. 

 

LEIA MAIS

Confira a origem da data e a importância do profissional na sociedade

Instituição recebeu medicamentos que deveriam ter sido descartados há dois anos

Ao todo, cerca de 18 imunizantes estarão disponíveis para todas as idades, mas especialmente para as crianças e adolescentes

Publicidade
CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE
Publicidade
Publicidade
Publicidade

Apoie o jornalismo de qualidade

Há 79 anos A VOZ DA SERRA se dedica a buscar e entregar a seus leitores informações atualizadas e confiáveis, ajudando a escrever, dia após dia, a história de Nova Friburgo e região. Por sua alta credibilidade, incansável modernização e independência editorial, A VOZ DA SERRA consagrou-se como incontestável fonte de consulta para historiadores e pesquisadores do cotidiano de nossa cidade, tornando-se referência de jornalismo no interior fluminense, um dos veículos mais respeitados da Região Serrana e líder de mercado.

Assinando A VOZ DA SERRA, você não apenas tem acesso a conteúdo de qualidade, mantendo-se bem informado através de nossas páginas, site e mídias sociais, como ajuda a construir e dar continuidade a essa história.

Assine A Voz da Serra

TAGS: saúde | Governo