Menos de duas semanas após uma grave denúncia feita pelo atual diretor-médico do Hospital Municipal Raul Sertã, José Cláudio Alonso, na qual ele revelou que “não havia atadura e gesso para mínimos atendimentos no setor de ortopedia” e que há “poucos equipamentos cirúrgicos para o trauma", o que deixaria a unidade próxima de entrar em “colapso”, novas denúncias recebidas por A VOZ DA SERRA sugerem que se a situação mudou, e para pior.
De acordo com Luiz Eduardo Macedo, que se identificou como servidor concursado da prefeitura e atua no setor de radiologia do Raul Sertã, somente as cirurgias ortopédicas de emergências estão sendo realizadas na unidade, devido à falta de estrutura, equipamentos, insumos e medicamentos. Ainda segundo a denúncia, pelo menos dez pessoas estariam internadas no hospital aguardando cirurgias ortopédicas e outros procedimentos que, segundo Luiz Eduardo, não têm data para ocorrer.
“Há ainda o caso de um jovem de 27 anos que sofreu diversas fraturas na perna e está há quase um mês internado no Raul Sertã aguardando transferência para um hospital especializado em Paraíba do Sul, no Centro-Sul fluminense. Mas essa transferência nunca sai”, denunciou o servidor, que completou: “As pessoas mais jovens têm uma calcificação mais rápida. Se esse rapaz não for operado logo, essas fraturas irão calcificar e ele vai ficar com sequelas na perna”, afirmou.
Problemas vão além
Ainda de acordo com o Luiz Eduardo, os problemas não se resumem “apenas” à falta de materiais, insumos e medicamentos para a realização de cirurgias e de pacientes internados. Ele conta que o problema vai além e faltam materiais ainda mais básicos, como papel higiênico para pacientes, acompanhantes e até funcionários do hospital. “Nem isso tem no Raul Sertã ultimamente. Temos que trazer de casa para o nosso próprio uso. Um completo absurdo”, se queixou.
O servidor denunciou também que o Centro de Terapia Intensiva (CTI) do Hospital Municipal Raul Sertã também está sem ar condicionado, o que obriga os funcionários a deixaram portas e janelas abertas, o que não é recomendado para o setor, que deve ser um dos mais protegidos de um hospital contra vírus e bactérias que possam agravar a saúde dos pacientes já debilitados.
O que diz a prefeitura
Questionada pelo jornal sobre as denúncias feitas pelo servidor, a Prefeitura de Nova Friburgo se manifestou através de nota, na qual afirmou que “a Secretaria Municipal de Saúde desconhece a falta de insumos básicos, como papel higiênico, conforme citado pelo servidor, e, irá apurar a denúncia. Sobre os pacientes com necessidade de cirurgias ortopédicas estão todos regulados pelo Estado do Rio de Janeiro e aguardando confirmação da reserva para realização de cirurgia em hospital de referência”.
O “colapso” na ortopedia
O cirurgião plástico e atual diretor médico do Hospital Municipal Raul Sertã, José Cláudio Alonso, em áudio encaminhado a um grupo de médicos, mas que acabou vazando, revelou detalhes dramáticos sobre a atual situação do setor de ortopedia da unidade, como falta de gesso e ataduras para mínimos atendimentos, o que pode causar um colapso na unidade, segundo ele. Na ocasião, ainda fez um alerta aos médicos do hospital:
“Para não expor nenhum médico de plantão, prescrevam sempre o tratamento e tudo o que for necessário ao tratamento do paciente. Isso vale para qualquer item faltante e necessário. Todos já estão cientes do problema: Ministério Público, delegacia, prefeitura e Secretaria Municipal de Saúde. Estamos há cerca de dois meses exaustivamente fazendo esses alertas, sem nenhuma medida concreta para sanear essa situação. Estamos chegando num patamar dramático”, afirmou no áudio o diretor médico do Raul Sertã.
Devido a grande repercussão do caso, o Conselho Regional de Medicina do Estado do Rio de Janeiro (Cremerj) entrou no circuito e ingressou “com ação judicial contra a Prefeitura de Nova Friburgo devido à situação calamitosa do setor de ortopedia do Hospital Raul Sertã, um dos principais da região. O serviço enfrenta uma grave falta de insumos, como atadura e gesso. Não é de hoje que o Cremerj sinaliza que a ortopedia passa por problemas. Recentemente, o conselho realizou duas fiscalizações no hospital e os relatórios foram enviados para o Ministério Público para providências cabíveis”.
Na ocasião, também procurada por A VOZ DA SERRA, a prefeitura informou que já havia notificado judicialmente os fornecedores de insumos para regularizar o estoque dos materiais de ortopedia. A nota informava ainda que “todo o trâmite burocrático e legal dos processos está correto e que todos os meios cabíveis ao poder público para a obtenção de material e medicamentos estão sendo feitos”.
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