Dados do 2º trimestre de 2024, da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua) do IBGE, revelam que a população negra corresponde a 56,7% da população total do país. Para especialistas ouvidos pela Agência Brasil, essa parcela do povo brasileiro está tendo mais orgulho em se reconhecer mais “escurecida”. E mais: recentes resultados do Censo 2022 revelaram que 55,5% da população se identifica como preta ou parda.
O levantamento apontou que os pardos são 45,3% e superaram a quantidade de brancos pela primeira vez desde 1872, no primeiro recenseamento. Além disso, a proporção de pretos mais que dobrou entre 1991 e 2022, alcançando 10,2% da população.
O IBGE explica que a mudança no perfil étnico-racial do país não reflete apenas a questão demográfica, ou seja, nascimento ou morte de pessoas, mas também outros fenômenos sociais.
Para a historiadora Wania Sant’Anna, conselheira do Centro de Estudos e Dados sobre Desigualdade Raciais (Cedra), o Brasil passa por “um momento de reconhecimento de pertencimento étnico-racial no terreno da negritude e da afrodescendência”. Segundo ela, o resultado consolida uma trajetória que já vinha desde o recenseamento de 1991 e que “não tem volta”.
“O que comprova isso [o reconhecimento com a afrodescendência] é essa mudança expressiva dos pretos, que mais que dobraram entre os anos 80 e os dias atuais”, ressalta ela, que é também presidente de governança do Ibase (Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas) e integrante da Coalizão Negra por Direitos.
Na visão de Sant’Anna, há dois grandes fatores que explicam o reconhecimento das pessoas com a negritude. Um, são os debates públicos mais abertos sobre desigualdades raciais, racismo e preconceito.
“As pessoas são discriminadas por causa da sua cor. À medida que esse debate se torna público, os sujeitos pensam ‘isso poderia ter acontecido comigo porque essa é a minha cor, esse é o meu cabelo, esse é o meu território’. Então o debate sobre racismo tem contribuído muito”, acredita.
Outro fator são as manifestações culturais populares que falam sobre racismo, como música e literatura. “Não podemos esquecer o impacto que o hip-hop e o funk estão produzindo na população jovem e não tão jovem também. Esse debate fala de raça, racismo e cor de pele. E as pessoas não devem ser informadas apenas pela branquitude”, completou a historiadora.
Boa leitura, bom fim de semana e até a próxima edição!
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