Cresce o número de doações de órgãos nos hospitais do estado

No primeiro semestre deste ano, foram realizados 486 transplantes de órgãos de tecido
sexta-feira, 18 de outubro de 2024
por Jornal A Voz da Serra
(Foto: Freepik)
(Foto: Freepik)

No mês passado, por conta da celebração do Dia Nacional da Doação de Órgãos (27 de setembro), foi lançada uma campanha nacional para alertar e incentivar a população sobre a importância da doação de órgãos e como essa ação pode salvar muitas vidas. Trata-se da ação “Doação de órgãos: precisamos falar sim”. A proposta é alertar para a necessidade de diálogo e da desmistificação do ato de doar órgãos. 

Dados da Central de Transplantes RJ, publicados pelo Registro Brasileiro de Transplantes, mostram que, de janeiro a junho de 2024 - o estado do Rio alcançou uma média de 27 doadores por milhão, número acima da média nacional, que é de 19,9. Até 2023, a taxa de negativa familiar para doação de órgãos diminuiu 15% no Rio, colocando o estado na terceira melhor colocação do Brasil.

“A redução significativa da taxa de recusa familiar e o aumento no número de transplantes realizados no estado são frutos de um trabalho sensível e de grande capacitação dos profissionais. Cada transplante envolve muitas histórias de vida, com a generosidade do ato de doar das famílias enlutadas e a renovação para quem recebe o órgão,” declarou o governador Cláudio Castro. No primeiro semestre deste ano, a taxa de recusa familiar para doação de órgãos no estado foi de 32%. Nos últimos cinco anos, a taxa de negativa familiar para doação de órgãos caiu 15% no estado. Ou seja, mais pessoas estão valorizando o gesto de doar.

Aumento de 25% nos transplantes

Números do programa RJ Transplantes, da Secretaria estadual de Saúde, revelam que, no primeiro semestre de 2024, foram realizados 486 transplantes de órgãos e tecidos. O número total de transplantes é 25% maior do que os realizados no mesmo período do ano passado, quando foram feitos 390 procedimentos.

Além do aumento de transplantados, a quantidade de doadores também cresceu significativamente no estado. Segundo o RJ Transplantes, no primeiro semestre deste ano, foram efetivadas 217 doações de órgãos, um aumento de 15% em relação ao mesmo período em 2023, quando foram realizadas 188. Os órgãos mais captados foram: rim (293), fígado (151) e coração (19). 

O que é a doação de órgãos

É o ato por meio do qual podem ser doadas partes do corpo, sejam órgãos ou tecidos, para serem utilizados no tratamento de outra pessoa com a finalidade de reestabelecer a função de um órgão ou tecido doente. De um único doador, é possível obter diversos órgãos e tecidos, incluindo rins, fígado, coração, pulmões, pâncreas, intestino, córneas, valvas cardíacas, pele, ossos e tendões.

A doação de órgãos como rim, parte do fígado, parte do pulmão e medula óssea pode ser feita em vida. Já a doação de órgãos de pessoas falecidas somente ocorre após a confirmação do diagnóstico de morte encefálica ou de uma parada cardiorrespiratória. Na morte encefálica, pacientes sofreram um acidente que provocou traumatismo craniano, como acidente com carro, moto e quedas, ou sofreram um acidente vascular cerebral (AVC). 

O que preciso fazer para ser um doador

Quem deseja ser um doador de órgãos, deve avisar aos parentes, pois a lei brasileira exige o consentimento da família para a retirada de órgãos e tecidos para transplantes. Não é necessário deixar a vontade expressa em documentos ou cartórios – basta que sua família atenda ao seu pedido e autorize a doação.

O que é um doador de órgãos vivo e o que ele pode doar

Um doador vivo é qualquer pessoa juridicamente capaz, atendidos os preceitos legais quanto à chamada doação intervivos, que esteja em condições satisfatórias de saúde e que concorde com a doação, desde que não prejudique sua própria saúde. O doador vivo pode doar um dos rins, parte do fígado, parte do pulmão ou parte da medula óssea. A compatibilidade sanguínea é primordial em todos os casos.

Pela lei, parentes até o quarto grau e cônjuges podem ser doadores em vida. Não parentes, somente com autorização judicial. Nesse contexto, o doador está sujeito a riscos normais de se submeter a uma cirurgia com anestesia geral. Antes do procedimento, entretanto, são feitos exames a fim de minimizar os riscos.

O que é um doador de órgãos falecido e o que ele pode doar

Existem dois tipos de doadores falecidos:

  • Doador falecido após morte encefálica: paciente cuja morte encefálica foi constatada segundo critérios definidos pela legislação e que não tenha sofrido parada cardiorrespiratória. O doador falecido, nessa condição, pode doar coração, pulmões, fígado, pâncreas, intestino, rins, córnea, vasos, pele, ossos e tendões. A retirada dos órgãos é realizada em centro cirúrgico. Para que o procedimento aconteça, é necessária a manutenção da circulação sanguínea do paciente até o momento da retirada do órgão a ser doado.
  • Doador falecido por parada cardiorrespiratória: paciente cuja morte foi constatada por critérios cardiorrespiratórios  (coração parado). O doador falecido, nessa condição, pode doar apenas tecidos para transplante, incluindo córnea, vasos, pele, ossos e tendões. Em ambos os casos, a doação só acontece mediante autorização da família.

Quem não pode ser um doador de órgãos?

Não existe restrição absoluta para a doação de órgãos. Entretanto, o ato pressupõe alguns critérios mínimos como o conhecimento da causa da morte e a ausência de doenças infecciosas ativas, dentre outros. Também não poderão ser doadoras pessoas que não possuem documentação ou menores de 18 anos sem a autorização dos responsáveis.

Para quem vão os órgãos doados

Para os pacientes que necessitam de um transplante e já estão aguardando em uma lista de espera unificada e informatizada a posição nessa lista de espera é definida por critérios técnicos como tempo de espera, urgência do procedimento e compatibilidade sanguínea entre doador e receptor.

A compatibilidade genética entre doador e receptores, quando necessária, é determinada por exames laboratoriais. Para alguns tipos de transplantes é exigida ainda a compatibilidade antropométrica (combinação de medidas como peso, altura e circunferências). Cabe à central estadual de transplantes, por meio do sistema informatizado, gerar a lista de receptores compatíveis com o doador em questão.

Se não existirem receptores compatíveis no estado ou se a unidade federativa em questão não realizar a modalidade de transplante referente ao órgão doado, ele é ofertado à Central Nacional de Transplantes para distribuição nacional. 

Como se identifica um possível doador

As Organizações de Procura de Órgãos (OPO) atuam em parceria com as Comissões Intra-hospitalares de Doação de Órgãos e Tecidos para Transplante, junto a hospitais com perfil notificante de uma determinada região geográfica, identificando potenciais doadores e viabilizando o processo de doação.

O que acontece depois de autorizada a doação

  • Se existe um doador em potencial, com morte encefálica confirmada e mediante autorização da família para que ocorra a retirada dos órgãos, são mantidos os recursos para a preservação das funções vitais dos órgãos. As ações seguem a sequência:
  • O hospital notifica a central estadual de transplantes sobre um paciente em morte encefálica (potencial doador de órgãos e tecidos) ou com parada cardiorrespiratória (potencial doador de tecidos). A central de transplantes aguarda a confirmação do diagnóstico de morte encefálica e inicia os testes de compatibilidade entre o potencial doador e potenciais receptores em lista de espera. Quando existe mais de um receptor compatível, a decisão de quem vai receber o órgão passa por critérios como tempo de espera e urgência do procedimento;
  • A central de transplantes, por meio de um sistema informatizado, gera uma lista de potenciais receptores para cada órgão e comunica aos hospitais onde eles são atendidos. As equipes de transplante, junto à central de transplante, adotam as medidas necessárias para viabilizar a retirada dos órgãos (meio de transporte, cirurgiões e pessoal de apoio, por exemplo);
  • Os órgãos são retirados e o transplante é realizado. Já nos casos de morte por parada cardiorrespiratória, após avaliação do doador por critérios estabelecidos, também mediante autorização da família, os tecidos são retirados e encaminhados para bancos de tecidos.

É possível escolher o receptor

Na doação em vida, sim – desde que atendida a legislação vigente. Na doação após a morte, nem a família pode escolher o receptor. Ele será sempre o próximo da lista única de espera de cada órgão ou tecido, dentro da área de abrangência da central estadual de transplantes.

Por que existem poucos doadores de órgãos

A negativa familiar é um dos principais motivos para que um órgão não seja doado no Brasil. A cada 14 pessoas que manifestam interesse em doar órgãos no Brasil, apenas quatro efetuam a doação. De acordo com o Ministério da Saúde, um dos principais obstáculos é a recusa familiar. 

Dentre os motivos citados para não autorizar a doação de órgãos, segundo o ministério, estão a não aceitação da manipulação do corpo; crença religiosa; medo da reação de parentes e familiares; desconfiança da assistência médica; e a não compreensão do diagnóstico de morte encefálica, que leva à ideia que, de alguma forma, seria possível reverter o quadro. 

O que é morte encefálica

É a parada definitiva e irreversível do encéfalo, provocando, em poucos minutos, a falência de todo o organismo. O encéfalo inclui o cérebro e o tronco cerebral ou tronco encefálico. Ele é responsável pelas funções essenciais do organismo, como o controle da pressão, da temperatura e da respiração, dentre outras.

Após algumas agressões neurológicas, células do cérebro podem morrer e deixar de cumprir essas funções, apresentando um quadro irreversível. Aparelhos e remédios podem manter a respiração e a pressão do paciente, mas por um espaço curto de tempo.

Quando constatada a morte encefálica, o quadro basicamente significa que a pessoa está morta. Nessa situação, os órgãos podem ser doados para transplante, se a família consentir. Se não houver o consentimento, os aparelhos serão desligados, já que o indivíduo está clínica e legalmente morto.

*Reportagem da estagiária Laís Lima sob supervisão de Henrique Amorim

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