Comércio e indústria defendem a flexibilização das restrições

Entidades se baseiam em estudo que mostra controle na propagação do coronavírus
sábado, 16 de maio de 2020
por Jornal A Voz da Serra
O engenheiro mecânico Rafael Spinelli Parrilha é o autor da pesquisa. Trabalhou como  engenheiro de projetos de estruturas offshore na Indústria de Óleo e Gás, no Inmetro, Schincariol e foi executivo do Bureau Veritas
O engenheiro mecânico Rafael Spinelli Parrilha é o autor da pesquisa. Trabalhou como engenheiro de projetos de estruturas offshore na Indústria de Óleo e Gás, no Inmetro, Schincariol e foi executivo do Bureau Veritas

Representantes do comércio e da indústria vêm se baseando em estudos sobre a disseminação da Covid-19 em Nova Friburgo para defender a retomada gradual da atividade econômica na cidade. O último levantamento a que tiveram acesso foi realizado pela empresa com sede em Friburgo People & Business Solutions, que mostrou que, entre 23 de abril e 11 de maio, a taxa de transmissão da doença, qualificada como R0, ficou abaixo de 1,0 ponto, patamar internacional utilizado para estabelecer controle na propagação do coronavírus.

Autor da pesquisa, o engenheiro mecânico Rafael Spinelli Parrilha explica que o quadro verificado no município, de acordo com instituições de saúde do mundo inteiro, permite descartar momentaneamente o isolamento total e indicar flexibilização para a economia. “A Rzero calcula a velocidade de transmissão da doença no período de incubação, de 14 dias. O parâmetro para determinar as medidas a serem cumpridas em cada localidade é que a R0 seja inferior a 1,0. Com isso, se consegue estabilizar o avanço da doença e achatar a curva de contaminação. Claro que a flexibilização não exclui os cuidados que são seguidos hoje e que necessitam de continuidade”, esclarece o engenheiro que tem mestrado na UFF/ Paris VI, e MBA na Fundação Getúlio Vargas.

Rafael defende o isolamento controlado e acentua que o distanciamento social é eficaz na pandemia, assim como o uso de máscaras faciais. O estudo assinado por ele enumera outras medidas como essenciais para manter a R0 em nível aceitável, como práticas adequadas de higiene, boa comunicação das autoridades com a população, instalação de barreiras sanitárias, proibição de aglomerações, restrição à circulação de pessoas em grupo de risco, preferência pelo trabalho remoto, isolamento de casos suspeitos e confirmados e domínio estatístico para aproveitamento satisfatório da quantidade limitada de testes.

 “Entendemos que não se pode liberar tudo de uma vez. Obviamente que o isolamento total conteria a curva de transmissão da doença, mas, se abríssemos essa torneira de repente, o que ficou represado poderia explodir. Precisamos atuar com critério, aferir constantemente os padrões, a fim de instituir as regras de controle da pandemia”, acrescenta.

Setor à beira do colapso

O presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL) e do Sindicato do Comércio Varejista (Sincomércio) de Nova Friburgo, Braulio Rezende, que recebeu cópia da pesquisa, enfatizou que apoia a retomada da atividade econômica num processo meticuloso de transição como forma de evitar falência generalizada das empresas locais e disparada do desemprego. Braulio menciona que a pandemia fez aumentar o número de desempregados no país de 11 milhões para 20 milhões e levou ao fechamento de 600 mil empresas em dois meses.

“É fundamental destacar que não estamos falando somente de dinheiro, mas de vidas. Não existe dilema, cisão, entre economia e saúde. Economia é vida. As pessoas não podem parar de comer, de ter suas necessidades básicas atendidas. A questão não é desproteger trabalhadores, e sim soltar a roda da economia pouco a pouco, para minimizar problemas que atingem a todos nós, como quebra de empresas, desemprego e fome”, observa.

Júlio Cordeiro, presidente da Associação Comercial, Industrial e Agrícola de Nova Friburgo (Acianf), acha que a situação atual exige transparência dos governos tanto no que se refere a investimentos em saúde quanto na divulgação de dados sobre a doença. Ele cita o sistema de bandeiras – adotado em alguns municípios e que designa cores diferentes para realidades diversas de contágio do coronavírus – como importante na promoção de um isolamento inteligente, que deveria ser copiado em Nova Friburgo.

“Precisamos de informações transparentes sobre o panorama da cidade: taxa de disseminação, número de testes, ocupação de UTIs etc. Esses conceitos devem ser estratificados, para que tenhamos noção exata do que se passa por região e possamos nos organizar para agir. Por exemplo, abrandar as normas em bairros onde a doença está controlada e enrijecê-las onde o vírus venha se espalhando com maior rapidez”, assinala.

Vice-presidente da Acianf, Roosevelt Concy pontua que Nova Friburgo não pode ser comparada com grandes centros urbanos em que a curva de transmissão do coronavírus está ascendente. Ele salienta que falta integração do poder público com as entidades do comércio, que, embora se coloquem permanentemente à disposição para dialogar, nem sempre são ouvidas nas decisões que afetam de maneira direta o setor.

“Estamos às vésperas do fim da vigência do decreto municipal que prorrogou o fechamento do comércio e não sabemos o que vai acontecer. Nova Friburgo, que, segundo vários levantamentos, segurou a propagação do coronavírus, precisa ser desacoplada das cidades que vivem o auge da contaminação. Nosso comércio está fazendo sua parte, não é justo ser penalizado porque o município não se preparou para enfrentar a pandemia”, argumenta Roosevelt.

O presidente da CDL e do Sincomércio concorda com ele e chama atenção para o volume de ocupação que o comércio de bens e serviços e a indústria detêm em Nova Friburgo. Dados recentes apontam que os setores são responsáveis por empregar nada menos do que 87% da força de trabalho do município. “Chegamos a um ponto insustentável. Se não voltarmos à nossa atividade, a queda nos empregos vai prejudicar especialmente a parcela da população mais vulnerável. Insisto: economia é alimento, é saúde e implica em redução de mortes”, conclui Braulio Rezende.   

Firjan sugere retomada em etapas

A flexibilização também é defendida por grande parte das indústrias de Nova Friburgo e região, mesmo àqueles que não tiveram todas as operações paralisadas.

A presidente da representação regional da Federação das Indústrias do Estado do Rio (Firjan) no Centro-Norte fluminense, a empresária Márcia Carestiato, defende uma retomada gradual da atividade econômica na região o mais breve possível, justificada pelos números apresentados no estudo.

“A Covid-19 avança em ritmo lento e ainda há leitos disponíveis nos hospitais de Nova Friburgo para atender aos pacientes que venham a ser infectados, isto pode ser comprovado nos números. Apenas isto serviria de argumento para a flexibilização da atividade econômica. Não queremos uma reabertura imediata de tudo, mas que seja considerada a retomada em etapas e que todos, sejam indústrias, comércios, serviços e população em geral, sigam regras para que esta medida ocorra com a segurança devida”, diz.

Márcia Carestiato assegura ainda que a economia da cidade carregará cicatrizes tão grandes e profundas quanto as registradas após a tragédia de 2011. “Os resultados dessa paralisação já são sentidos pelas empresas há dias, principalmente, pelas pessoas. Demissões já estão ocorrendo justamente por que as empresas se veem em situação extremamente delicada. A reserva financeira já se foi e não há mais como sustentar a situação. Sem produção e sem venda veremos demissões em massa e a extinção das empresas. Lá na frente, quando todo este período de isolamento passar a região mergulhará em uma recessão nunca vista e o cenário será de grande empobrecimento da população friburguense”, disse.

O setor têxtil e de moda é um dos mais afetados. Reconhecido nacionalmente, o polo de moda íntima conta com 1.324 estabelecimentos e cerca de 20 mil empregos, que agora são ameaçados com o avanço da pandemia e a paralisação das indústrias. O polo é responsável por mais de 25% da produção do mercado brasileiro, aproximadamente 114 milhões de peças por ano.

A presidente da Firjan na região acredita ainda no bom diálogo estabelecido com o poder público para a entrada nesta nova fase. “Se há o entendimento de que as confecções podem funcionar para produzir máscaras e EPIs, por que elas não podem voltar a produzir seus produtos tradicionais? Não faz sentido. Nosso polo de moda íntima é reconhecido em todo o país, e como há locais onde a vida segue normalmente, há pedidos chegando segundo relato de empresários do setor. São poucos pedidos, mas serão estes que provavelmente ajudarão as empresas a seguir em frente e não demitir. Por isso, pedimos um olhar atento sobre estes casos. Ainda há como reverter este cenário”, assegura Márcia. 

 

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