Ciclista André: um excêntrico personagem de Nova Friburgo

Conheça a história desse bikeboy, cuja bicicleta repleta de enfeites chama atenção de adultos e crianças
terça-feira, 03 de março de 2020
por Robério Canto
(Fotos: Robério Canto)
(Fotos: Robério Canto)

Sempre que eu o via pedalando pela cidade, ficava admirado com aquele ciclista rodeado de bonecos, bandeirinhas e todo tipo de enfeite pendurado em sua bicicleta, parecendo uma loja de brinquedos ambulante. Até que um dia perguntei se ele gostaria de contar a história de sua excêntrica bicicleta. E o André Mendes Soares aprovou a ideia e alguns dias depois nos encontramos para uma conversa descontraída. É o resultado desse encontro transcrito a seguir.

A VOZ DA SERRA: Quem é você, além de ser esse bicicletista tão original?

André Soares: Sou e tenho um casal de filhos de 27 e 24 anos e dois meninos pequenos, gêmeos, que têm hoje 10 anos. Com isso, minha mulher não consegue trabalhar fora. Ela cuida da casa e da turma (risos). Eu sempre trabalhei com vendas e chegou um ponto que minhas vendas começaram a crescer tanto que eu tive a ideia de montar essa bicicleta para poder fazer meu trabalho.

Como é que a coleção começou? Qual foi o primeiro boneco?

O primeiro boneco foi o Edmundo (jogador de futebol) e um goleiro do São Paulo. A Copa do Mundo estava começando e eu, então, iniciei minha coleção que foi crescendo até que chegou ao que é hoje. Cada ano vou montando uma coisa.

 Mas os enfeites não foi uma coisa planejada.

Não foi, não. Comecei com um, o pessoal foi gostando, foi indo, foi indo... No começo era uma bicicleta comum, hoje já tem baú, tem tudo.

Como é que você prende os bonecos na bicicleta?

Uns são parafusados, uns amarrados com arame, mas tudo direitinho, por causa das crianças que podem colocar a mão. Esses cuidados são para elas não se machucarem... Tudo direitinho.

Você nem sabe quantos bonecos tem na bicicleta, sabe? Uns 100?

Ah, não sei não. Tem muito mais de 100. As pessoas vão me dando e eu vou colocando, aí eu perco a conta, não tem como.

Vai chegar a um ponto que você não vai ter mais bicicleta.

Só enfeite! Só enfeite! (risos). As pessoas passam gostam e doam alguma peça, eu aproveito tudo.

E seus filhos, quando eles eram pequenos, não queriam mexer nos bonecos?

No começo não, porque não tinha muitos bonecos. Algumas coisas eles pegavam. Agora eles acham “manero”.

Os bonecos não dificultam você andar com ela não?

Não atrapalha porque tem marcha, tudo direitinho.

E chama a atenção das pessoas?

Chama muito. Eu pensei que não fosse chamar tanto, mas aonde eu vou é isso. É de dentro do ônibus, é no trabalho, sempre o pessoal pergunta por ela. Eu trabalho fazendo entrega de pão, de queijo e assim vou fazendo, igual motoboy. Vai fazer agora em junho cinco anos.

Então você é um bikeboy...

É isso. É um serviço tão interessante que eu me encaixei nisso aí também.  E graças a Deus deu para manter os filhos, fazer minha casinha. Na minha família hoje já tem um carro. Dá para se manter mesmo. Eu pensei que não ia assim tanto à frente... Mas dá para manter direitinho a família.

Você tem fregueses fixos, ou alguém te chama e você atende?

Tenho alguns fregueses que estão começando agora e me chamam, mas tem alguns que já são certos, já saio para fazer entrega certa.

Eu pensei que você tivesse alguma representação ou coisa assim.

Mas eu tenho também, eu represento uma empresa lá de Niterói. Eu trabalho para eles entregando queijo, massa, manteiga. Então tenho apoio. Tenho carteira assinada. Hoje em dia todo mundo sabe o que eu distribuo.

E o trânsito, André, não te atrapalha?

Não atrapalha porque a bicicleta chama a atenção e também à noite ela acende todinha, dá para chamar bem a atenção dos motoristas. O trânsito de Friburgo é ruim, mas as pessoas me respeitam. Na verdade, eu tenho que agradecer à população de Friburgo a acolhida e o respeito que tenho de todos.

Você participa de algum evento, coisas desse tipo?

Quando tem evento na Casa dos Pobres eu sempre vou lá dar uma força, fazer campanha para eles. Tem evento por aí que o pessoal me chama, só que na correria do trabalho não dá para eu sair. Algumas professoras já pegaram as fotos da bicicleta para fazer trabalhos com os alunos. Se me chamar, e não for dentro do meu horário de trabalho, eu vou.

 Você recebe algum patrocínio?

Patrocínio funciona assim: quando trabalho para uma loja e aí me dão algum adesivo. Isso ajuda muito, porque mantém a bicicleta sempre com coisa nova. Às vezes o pessoal chega aqui, tira foto para levar para São Paulo e mandam pelo whatsapp. Quem quiser tirar foto, pode tirar à vontade. Mas eu não tenho tempo de fazer propaganda. Eles falam “se você tivesse um canal nas redes sociais...”, mas eu não tenho tempo, é só correria (risos).

Você se inspirou em algum personagem, algum super-herói?

Quando eu comecei, eu pensei mais na nossa cidade. Desde 2011 a gente ficou naquela tristeza, todo mundo preocupado. Eu pensei “puxa, a gente tem que fazer alguma coisa para alegrar um pouco Friburgo”. E onde eu passava o pessoal me parava, entendeu? Foi como tudo começou e até hoje eu penso “puxa, valeu a pena”. Tem tudo a ver com a nossa cidade. Se bem que eu sou de Santa Maria Madalena, cheguei aqui pequeno e antes da bicicleta trabalhei em supermercado.

No carnaval você incrementou ainda mais a bicicleta...

A cada ano que passa eu tenho que inventar alguma coisa. Agora vou voltar ao normal, depois vem Papai Noel, Natal... Sempre ela vai estar de acordo com a época.

O que mais você gostaria de falar, André?

Eu gostei de vocês me darem essa força. Friburgo hoje está precisando demais de trabalho, e não tem mais espaço para carros. Então a gente tem que fazer alguma coisa. Andar de bicicleta é muito bom. Eu já pesei mais de 80 quilos, agora fico nos 72, 73, pedalando.

Então, André, vale a pena ganhar a vida montado numa bicicleta toda enfeitada.

Sim. Todo mundo me conhece. A cidade estava vivendo numa agonia... Eu só pensei em fazer alguma coisa para ajudar. Acho que valeu a pena.

 

Foto da galeria
Publicidade
CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE
Publicidade
Publicidade
Publicidade

Apoie o jornalismo de qualidade

Há 79 anos A VOZ DA SERRA se dedica a buscar e entregar a seus leitores informações atualizadas e confiáveis, ajudando a escrever, dia após dia, a história de Nova Friburgo e região. Por sua alta credibilidade, incansável modernização e independência editorial, A VOZ DA SERRA consagrou-se como incontestável fonte de consulta para historiadores e pesquisadores do cotidiano de nossa cidade, tornando-se referência de jornalismo no interior fluminense, um dos veículos mais respeitados da Região Serrana e líder de mercado.

Assinando A VOZ DA SERRA, você não apenas tem acesso a conteúdo de qualidade, mantendo-se bem informado através de nossas páginas, site e mídias sociais, como ajuda a construir e dar continuidade a essa história.

Assine A Voz da Serra

TAGS: ciclista