Arquiteto friburguense é estrela de 'reality' sobre arquitetura

Com desafio de transformar uma casa em dez dias, Duda Porto integra elenco do primeiro “Extreme Makeover Brasil”, às terças no GNT
quarta-feira, 11 de março de 2020
por Adriana Oliveira (aoliveira@avozdaserra.com.br)
Duda Porto com Otaviano Costa na estreia do “Extreme Makeover Brasil” (Foto: Michelle Tomaz)
Duda Porto com Otaviano Costa na estreia do “Extreme Makeover Brasil” (Foto: Michelle Tomaz)

O reality de arquitetura e decoração “Extreme Makeover Brasil”, que estreou na noite da última  terça-feira, 10, no canal GNT, tem um arquiteto friburguense no elenco de um time seleto de profissionais. Em apenas dez dias - os dez episódios que durarão o programa -, eles terão a desafiadora tarefa de transformar completamente uma casa na Grande São Paulo, incluindo reforma, decoração e paisagismo. 

Apresentado pelo ex-global Otaviano Costa, o programa chega ao Brasil após 34 temporadas ao redor do mundo. Além de Duda, integram a equipe a engenheira Bruna Arruda, o designer de interiores Diogo Oliveira e a youtuber Paloma Cipriano, assessorados por mais de 120 profissionais de diversas áreas.

Escolhida a casa, a equipe (foto) teve sete dias para fazer um projeto e, ao contrário de uma obra comum, sem qualquer prospecção ou acesso para verificar a estrutura da casa. Os moradores também não podem ser consultados depois do briefing inicial sobre as suas demandas. "Diferentemente dos Estados Unidos, onde a maioria das casas são de drywall, estamos falando de alvenaria brasileira, de uma casa de 50, 60 anos com hidraúlica e elétrica correndo dentro das paredes. É óbvio que, ao começar a obra, tínhamos uma série de imprevistos por conta disso ou de um pilar no lugar errado", explicou Duda à revista especializada “Casa & Jardim”. 

“Quando a gente transforma a casa, ela muda a rotina das pessoas que vivem nela. Não é sobre entregar apenas uma casa nova, é sobre uma vida nova", definiu Duda. 

Arquiteto e urbanista, tendo entre seus clientes celebridades como o próprio Otaviano e atores como Bruno Gagliasso, Duda Porto tem vários projetos no Rio e em São Paulo e está à frente, de forma voluntariosa, da reforma do majestoso Salão Nobre do Nova Friburgo Country Clube. 

“O Duda frequentava o clube, mas não vinha aqui faz tempo. Um dia nos visitou, se encantou, ficou emocionado com todo o trabalho que vem sendo realizado e quis fazer parte dessa empreitada, colocando seu escritório à disposição para fazer os projetos. ‘Não pense em custos, nem nada. Vai ser um prazer participar, afinal, é meu clube, minha cidade, e devo muito a todos’”, contou o ex-presidente do clube, Roosevelt Concy.

“É um orgulho e um prazer muito grande poder contribuir e devolver de alguma forma ao clube que foi tão importante na minha vida e para a história de toda a minha família”, devolveu Duda.

Em artigo publicado em A VOZ DA SERRA em novembro de 2017, Duda escreveu sua paixão por Friburgo e defendeu um modelo de cidade que priorize sempre as pessoas. Relembre:

 “Já se passaram mais de 35 anos e ainda lembro das minhas madrugadas acordadas vendo e acompanhando meu pai empolgado, desenhando projetos para a cidade de Friburgo. Parece que foi ontem. Consigo lembrar dos detalhes de um projeto de requalificação das margens do Rio Bengalas, no Centro. Era uma praça linear que, além de proteger a encosta do rio, dava vida e qualidade para a população. Desenhava os caminhos, os bancos, o guarda-corpo, as luminárias, o paisagismo, sempre priorizando o pedestre.

Durante esses momentos em que eu observava e apreciava os traços de um empresário que nunca foi arquiteto, mas que era apaixonado pela arquitetura e impulsionado pela necessidade de transformação. Que se incomodava com a inércia das pessoas, sempre pensava além e de forma positiva, era sonhador, pois sabia que esse era o primeiro passo da realização.

No jardim de projeto que ele criava tinha uma famosa plaquinha de informação com os dizeres: Respeite o turista.

Meu pai sempre amou a cidade que escolheu para criar seus três filhos. Escolheu porque soube que aqui tinha o melhor clima do país, escolheu porque nossa cidade tinha montanha, tinha verde, tinha vida.  Sabia também que aqui seus filhos poderiam crescer com qualidade de vida e segurança, que o tamanho da cidade poderia permitir a descoberta de verdadeiras amizades.

Meu pai era oficialmente um arquiteto que projetava pão, e na sua padaria, a Casa Branca, ele criava, inventava e copiava vários tipos de pães. Lembro quando lançou o croissant, que na época ainda não existia no Brasil, importou a ideia de uma viagem que fez com minha mãe a Paris. Aliás, aproveitar grandes ideias era uma outra qualidade que ele tinha.

Lembro também quando ele tentava, sem conseguir me explicar, o motivo de a Avenida Alberto Braune, a Rua do Arco e várias outras ruas mudarem de sentido diversas vezes sem planejamento e nunca privilegiando o pedestre, o convívio e a  harmonia entre o cidadão e a cidade.

Sempre dizia para eu imaginar uma Alberto Braune sem carros, sonhava transformar o imóvel da sua padaria em uma grande galeria comercial com luz natural, onde as pessoas poderiam transitar e atravessar da Alberto Braune até a Avenida dando de encontro com o seu parque linear.

Até que, no mesmo ritmo que nosso viaduto se transformava sendo pintado de verde ou azul de acordo com o lado da prefeitura, nossas estradas foram abandonadas, nossos governantes começaram a ficar mais preocupados com suas sobrevivências políticas do que com a própria cidade.

Com isso, do outro lado, nossos vizinhos serranos começam a prosperar, devido à facilidade de acesso à capital, com estradas novas e uma mídia voltada para a  qualidade de vida. Começamos a perder nossa fonte de renda mais valiosa: nossos turistas. Aquela plaquinha de meu pai, “Respeite o turista”, já não adiantava mais.

Imagina se pudéssemos canalizar toda a energia dessa cidade que transborda natureza em um ciclo vicioso de planejamento, controle e ação? Com certeza podemos ser uma referência para várias outras.

Estamos vivendo um momento de revolução tecnológica e sempre os períodos de revolução impulsionam mudanças radicais. Temos que aprender com o passado e evitar cometer os mesmos erros. Este momento me faz lembrar a época da revolução industrial, onde o ritmo acelerado pelo crescimento atropelou critérios básicos de qualidade. As indústrias eram construídas nas margens das vias aquáticas contaminando totalmente os rios. Começam a existir uma diferença entre as classes e as menos favorecidas vivem de forma precária. Os trilhos eram construídos de forma a ignorar a qualidade humana.

Cada vez mais estamos aprendendo a entender e respeitar a força da natureza. Sabemos que ela nos dá todas as respostas e opções. Temos que criar uma cidade viva, sustentável, limpa e  inteligente. Um lugar que pensa primeiro nas pessoas, que tenha regras claras, transparentes e eficientes.

Temos que ter uma hierarquia viária que desafogue a cidade, pontos nodais e criar corredores verdes. Precisamos criar novas centralidades, dando mais qualidade de vida e economia para os habitantes.

Vamos resgatar, limpar e proteger a história da arquitetura da nossa cidade, nossa tipologia arquitetônica tem que ser preservada através de leis claras e incentivos. Uma cidade precisa de marcos arquitetônicos. Vamos criar mais pontos de encontros e trazer o habitante para o convívio.

Precisamos investir na zona industrial trazendo mais emprego e valor para nossa cidade. Sabemos que quando queremos conseguimos as coisas. Em pouco tempo já estamos nos tornando uma referência na produção caseira de cerveja. Olhando para o nosso entorno temos uma zona de Influência grande que precisa ser mais bem explorada. Precisamos criar um organismo vivo que com o foco no ser humano, cria artérias e conexões inteligentes que alimentam e conectam todos os núcleos de forma produtiva e compartilhada.

Seguindo alguns conselhos de meu pai, vamos olhar para exemplos positivos e trazer para dentro da nossa cidade. Dessa forma, arrumaremos nossa casa e chamaremos de volta nossos turistas para uma visita, e aí poderemos novamente levantar nossas plaquinhas.

Chegou a hora de olhar para uma NOVA Nova Friburgo, que, como qualquer outra cidade, com o tempo se transforma e chega uma hora que tem que se reinventar.

Aprender com o passado, olhar para o futuro e descobrir como podemos ser mais eficientes. Vamos salvar nossa natureza, defender nossos história, e criar novas oportunidades para todos.Vamos planejar para os próximos 200 anos uma Nova Friburgo forte e orgulhosa.”

 

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