(Foto: Arquivo pessoal)
O que é o 'chip da beleza' e como funciona O “chip da beleza” é composto por pequenos tubos de silicone que contêm diferentes tipos de hormônios e são implantados na região glútea das mulheres. Esses tubos funcionam como sistemas de liberação controlada, injetando hormônios variados no organismo ao longo de semanas ou meses. “O chamado chip da beleza é um conjunto de implantes hormonais, com dosagens e tipos diversos de hormônios que médicos usavam de maneira nem sempre segura ou cientificamente comprovada,” explica o médico Márcio Fernando. Segundo ele, a escolha dos hormônios e suas dosagens variam conforme os objetivos estéticos buscados pela paciente e recomendados pelo profissional. Decisão da Anvisa: Uma resposta aos riscos e à falta de regulação A suspensão do chip pela Anvisa foi recebida pela comunidade médica com surpresa moderada, já que a agência vinha sendo pressionada por entidades como a Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo) e a Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM). “A Anvisa já vinha monitorando a situação e realizando fiscalizações, o que inclusive levou ao fechamento de algumas farmácias de manipulação”, conta o endocrinologista Márcio Fernando. No entanto, mesmo com essas fiscalizações, o produto não possuía o devido registro na Anvisa, o que a motivou a decidir pela proibição. A ausência de regulamentação específica e a falta de comprovação de segurança para muitos dos hormônios utilizados nos implantes foram fatores determinantes na decisão da agência. A Anvisa observou que, sem uma autorização formal, não há garantias de que esses hormônios sejam aplicados de forma segura e efetiva. “É preciso ter uma ciência robusta que assegure doses, efeitos colaterais, vantagens e desvantagens de qualquer medicação,” complementa o especialista. Benefícios X riscos: O que diz a ciência? Muitos pacientes relataram melhorias significativas com o uso do “chip da beleza”, como no tratamento de endometriose, TPM, menopausa, já tendo inclusive muitos trabalhos científicos provando a sua eficácia. Contudo, esses benefícios são contrabalanceados por uma lista de efeitos adversos que preocupam tanto médicos quanto pacientes. Entre os efeitos colaterais mais comuns estão a queda de cabelo, alterações vocais, aumento do clitóris e o surgimento de acne. O endocrinologista observa que, com o tempo, a prática de implantes tornou-se tão desregulada que passou a incluir hormônios não indicados originalmente para esses tratamentos estéticos, como metformina, hormônios tireoidianos e até hormônios de crescimento. “O problema maior é que se perdeu o controle sobre a quantidade de implantes e os tipos de hormônios sendo usados,” diz o médico Márcio Fernando. O que esperar do futuro? A endocrinologia e a segurança dos implantes hormonais A expectativa dos especialistas é que a decisão da Anvisa incentive mais estudos clínicos de longo prazo, a fim de que a comunidade médica possa utilizar esses implantes com maior segurança e precisão. Para o endocrinologista Márcio Fernando, o ideal é que o uso de implantes hormonais seja tão controlado e rigoroso quanto o uso de qualquer medicamento prescrito. É importante que novos tratamentos sejam avaliados com atenção e critério, proporcionando alternativas seguras e eficazes para pacientes que poderiam se beneficiar desses procedimentos. A proibição dos “chips da beleza” pela Anvisa marca um momento de reflexão para a área de estética e bem-estar, especialmente em um cenário onde muitos pacientes buscam soluções rápidas e estéticas que nem sempre consideram os riscos. A decisão da Anvisa é uma tentativa de assegurar que tratamentos hormonais sejam utilizados com base em evidências científicas e sem comprometer a saúde pública. Para pacientes e profissionais da saúde, a orientação é a de priorizar sempre a segurança e a busca por intervenções comprovadas, promovendo uma relação mais saudável e informada com os avanços e tendências estéticas. Márcio Fernando Lamblet é friburguense, médico ginecologista, ex chefe de ginecologia do INSTITUTO FERNANDES FIGUEIRA/Fiocruz. É referência em cirurgia ginecológica e cirurgias estéticas íntimas à laser. Tem consultório em Ipanema e na Barra da Tijuca.
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