Mais do que deixar a população confusa, o troca-troca de bandeiras vermelha e laranja neste mês de março, incluindo mudanças nas regras de flexibilização, vêm provocando polêmica em Nova Friburgo e despertando questionamentos de ambos os lados - tanto dos que defendem restrições mais rígidas contra o coronavírus quanto dos que pedem mais flexibilidade para trabalhar.
Na noite da última sexta-feira, 19, poucas horas depois de ser anunciada a bandeira laranja válida para esta semana, o prefeito Johnny Maycon foi às redes sociais para rebater críticas e dizer que “a bandeira da semana não é uma escolha pessoal, não tem e jamais poderá ter interferências de terceiros”.
Segundo Johnny, “não é o prefeito quem decide a bandeira, pois, se assim o fizesse, estaria fraudando o processo, que é embasado com critérios técnicos epidemiológicos”.
Em sua página no Facebook, Johnny Maycon explicou por que, após os cálculos realizados pela Vigilância Epidemiológica, a cor desta semana é laranja. “Este é um resultado técnico, e não político”, assinalou.
O prefeito lembrou que as métricas em vigor que ditam a bandeira de cada semana consideram: taxa de pessoas infectadas, que diminuiu; taxa de óbitos, que também diminuiu; e taxa de ocupação de leitos, que cresceu.
Polêmica de todas as cores
Mas nem só a bandeira laranja é motivo de polêmica: a vermelha também. No início da semana, como também mostrou A VOZ DA SERRA, a Associação Comercial, Industrial e Agrícola de Nova Friburgo (Acianf) questionou a prefeitura sobre o estágio mais restrito, de “alto risco”, e pediu revisão (LEIA AQUI). A prefeitura, no entanto, mais uma vez assegurou que os cálculos estavam corretos.
“Se eu tivesse que escolher, certamente não optaria pela bandeira laranja, até porque era previsível esta reação de rejeição de grande parte da população. Porém, estaria indo na contramão da fundamentação técnica e, consequentemente, burlando a escolha da bandeira. Na semana passada ocorreu o inverso: a taxa de ocupação era menor; no entanto, aumentaram as taxas de infectados e óbitos, e por isso no cálculo geral foi classificada a bandeira vermelha”, argumentou o prefeito na rede social.
Decisões diferentes no estado confundem
O que também provoca confusão e especulações são as decisões descentralizadas de enfrentamento à Covid, por estados e municípios, conforme permite o Supremo Tribunal Federal (STF) desde o início da pandemia. Desta forma, enquanto Nova Friburgo está em bandeira laranja, de risco mderado, o mais recente Mapa de Risco da Covid no Estado do Rio, atualizado na última sexta-feira, 19, classifica a Região Serrana como estágio vermelho, de alto risco (LEIA AQUI).
Além disso, o Estado do Rio pode ter os feriados de abril antecipados, criando um feriadão de dez dias, entre 26 de março e 4 de abril, para esvaziar as ruas. A medida ainda está para ser confirmada.
A descentralização das decisões de governo provoca outras situações discrepantes, como, por exemplo, a capital interditando praias (LEIA AQUI) enquanto Friburgo reabre bares e permite até música ao vivo. Ou academias fechadas e escolas abertas em São Paulo, em contraste com academias abertas e escolas fechadas no Rio.
Algumas escolas desistem de voltar
Como também mostrou a VOZ DA SERRA, mesmo com as escolas particulares de Nova Friburgo já retomando as aulas presenciais na semana da bandeira laranja, a própria Defensoria Pública cobrou da prefeitura o retorno seguro e gradual também das escolas municipais (LEIA AQUI)."O fechamento das escolas não deve ser uma das primeiras opções para efetivar-se o distanciamento social necessário ao combate à pandemia, e só deveria acontecer depois de se tentar outros meios, ou seja, depois que vários outros serviços e atividades também fossem proibidas de funcionar", afirmaram os defensores Larissa Larissa Davidovich e Cristian Barcelos em ofício à prefeitura.
Mesmo com a mudança de bandeira esta semana, algumas escolas particulares que já haviam retornado na semana do dia 8 agora desistiram de retomar as aulas presenciais nesta semana de nova bandeira laranja. Foi o caso dos colégios Nossa Senhora das Dores e Mercês.
A volta às aulas presenciais, com os devidos cuidados sanitários, é defendida por renomados médicos pediatras brasileiros, como Daniel Becker e Rubens Cat. Eles sustentam que crianças apresentam quadros menos graves de Covid-19 e que países que controlaram mais rapidamente a pandemia, como Nova Zelândia, Austrália, Holanda e Noruega, não registraram aumento de casos com a reabertura de creches e escolas.
Raul Sertã perto do colapso
Ao divulgar o boletim da última quinta-feira, 19, A VOZ DA SERRA já destacava que a taxa de ocupação dos leitos de UTI/Covid do Hospital Municipal Raul Sertã havia subido para 90% (LEIA AQUI). Conforme os últimos boletins oficiais, de quinta e sexta-feira, a unidade já está perto do colapso. Todos os leitos de enfermaria estão ocupados e até esta segunda, restava apenas um livre entre os 20 de UTI.
A diretora do hospital, Vania Lucia Huguenin, disse à InterTV que nesta segunda, 22, existiam apenas quatro leitos clínicos disponíveis. Segundo ela, há quatro pacientes de outras cidades internados, devido à regulação de leitos do estado.
Em Friburgo, apesar da bandeira laranja nesta semana, o próprio prefeito Johnny Maycon admitiu, em rede social, que a situação do Raul Sertã é crítica. Na noite de domingo, 21, ele esteve pessoalmente na unidade, onde ouviu reclamações, sugestões, críticas e elogios dos servidores, pacientes e acompanhantes. “A situação do Raul Sertã é bastante crítica e precisamos do apoio e colaboração de todos, principalmente tomando todas as medidas de segurança para proteger a si e os outros”, afirmou em rede social.
Johnny reconheceu que, mesmo com todas as dificuldades e limitações, o hospital continua segurando a grande carga de atendimentos de toda a região. Segundo ele, Nova Friburgo é uma das poucas cidades da região, se não for a única, que ainda não precisou transferir pacientes de Covid para outros municípios.
Como mostrou A VOZ DA SERRA, de todos os leitos de UTI/Covid do Raul Sertã que estavam ocupados na segunda-feira, 8, metade atendia pacientes de outros municípios (LEIA AQUI).
Johnny ressaltou que o município está garantindo atendimento a todos os friburguenses que precisam do hospital. “Esperamos que seja assim até o final da pandemia”, disse ele, aproveitando para agradecer o empenho e dedicação intensa de todos os profissionais de saúde.
Ele anunciou a convocação de profissionais da saúde aproveitando concursos já realizados e prometeu acelerar o processo seletivo para a contratação de médicos. “Estamos tendo muitas dificuldades para encontrar esses profissionais no mercado com disponibilidade neste período de pandemia”, disse.
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