Ser forte dá trabalho

Paula Farsoun

Com a palavra...

Paula é uma jovem friburguense, advogada, escritora e apaixonada desde sempre pela arte de escrever e o mundo dos livros. Ama família, flores e café e tem um olhar otimista voltado para o ser humano e suas relações, prerrogativas e experiências.

sexta-feira, 13 de junho de 2025

Todo dia somos bombardeados de frases prontas e pressuposições padronizadas sobre o que é a vida e a forma adequada de viver. Uma dessas frases que circulam por aí, entre aspas, como se bastassem três ou quatro palavras de efeito para explicar o mundo é simplesmente: “seja forte”. Assim. Seca. Curta. Imperativa. Como quem diz: acorda, escova os dentes e resolve a vida.

Ser forte virou palavra de ordem. Slogan. Mandamento. Quase uma obrigação moral. É preciso ser forte no trabalho, nas finanças, nas relações. Ser forte diante da doença, da frustração, do não. Acordar com coragem, dormir com gratidão. E ainda sorrir no meio do caos, porque, afinal, ser forte é também “ser luz” – outra daquelas expressões que parecem exigir de nós mais do que temos para oferecer.

Mas vamos ser sinceros: ser forte dá trabalho. Dá trabalho porque exige energia, ânimo, equilíbrio e certa dose de ilusão também. A gente finge que está tudo bem, que dá conta, que não sente medo. A gente sorri no automático, segura o choro, empurra com a barriga. E se por acaso escorrega e desaba? Aí vem o julgamento: “Cadê a força que você tinha?” A verdade é que ninguém acorda todo dia pronto para encarar o mundo com armadura. Tem dias em que o travesseiro pesa mais que os boletos. Em que o silêncio grita mais alto que qualquer música animada. Em que o cansaço é tão fundo que parece não caber no corpo. E está tudo bem. Está tudo bem não ser forte o tempo inteiro. Está tudo bem admitir que tem horas em que o mundo pesa mais do que o coração pode suportar.

Nos vendem a ideia de que ser forte é ser imbatível. Mas talvez seja exatamente o contrário. Talvez a verdadeira força esteja em reconhecer os próprios limites, em pedir ajuda, em aceitar que ser humano é, por definição, ser vulnerável. Talvez a força esteja em continuar mesmo quando a vontade é de parar. Em levantar mesmo sem ter certeza de para onde ir. Em seguir, mesmo com medo.

A vida é um território acidentado. Tem ladeiras, buracos, dias de sol escaldante e noites de tempestade. E a gente vai andando, tropeçando, levantando, aprendendo. Vai descobrindo que nem toda dor é castigo, nem todo desafio é punição. Que há beleza nas imperfeições, que há poesia no cansaço. Que há força, sim, na fragilidade.

E aí a gente se dá conta: ser forte não é não chorar. É não deixar de amar. É continuar acreditando. É levantar a cabeça mesmo quando ela pesa. É seguir em frente ainda que os passos estejam curtos. Ser forte é, às vezes, apenas não desistir de si mesmo.

Então, se alguém disser que você precisa ser forte, tudo bem. Só não esqueça que você pode ser forte do seu jeito. Pode ter dias ruins, pode se sentir pequeno, pode se recolher. A vida não exige que sejamos heróis. Exige apenas que sejamos inteiros — e isso já é muita coisa.

Outra frase pronta, mas que dessa vez, quero aplicar: “Coragem não é ausência de medo. É fazer com ele”. E assim seguimos: entre tropeços e conquistas, entre gargalhadas e lágrimas, tentando ser fortes — ou, pelo menos, honestos. Porque, no fim das contas, viver é isso: um ato de bravura diária, ainda que ninguém esteja vendo.

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Paula é uma jovem friburguense, advogada, escritora e apaixonada desde sempre pela arte de escrever e o mundo dos livros. Ama família, flores e café e tem um olhar otimista voltado para o ser humano e suas relações, prerrogativas e experiências.

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