Inserção de DIU: novas diretrizes destacam manejo da dor em ginecologia

Novidades representam marco na forma como a medicina encara e trata a dor relatada por pacientes nesses procedimentos
sexta-feira, 23 de maio de 2025
por Liz Tamane
(Foto: Taina Pezzin / Arquivo pessoal)
(Foto: Taina Pezzin / Arquivo pessoal)

Pela primeira vez, o Colégio Americano de Obstetras e Ginecologistas (ACOG) publicou recomendações formais sobre o manejo da dor em procedimentos ginecológicos, como a inserção do DIU (dispositivo intrauterino), biópsias cervicais e exames intra uterinos. As novas diretrizes, divulgadas no último dia 15, representam um marco na forma como a medicina encara e trata a dor relatada por pacientes nesses procedimentos, que historicamente foi minimizada ou ignorada.

A atualização do ACOG orienta que os médicos “não subestimem a dor sentida pelas pacientes”, reconhecendo que, apesar de as evidências científicas sobre os métodos de controle da dor ainda serem limitadas ou conflitantes, cabe ao profissional oferecer opções de alívio e informar a paciente sobre o que esperar. O documento recomenda o uso de anestésicos locais — em creme, spray ou por meio de bloqueio paracervical — como formas eficazes de minimizar o desconforto.

Essa mudança ocorre após anos de relatos e denúncias feitas por mulheres nas redes sociais e na mídia, além de reclamações dirigidas diretamente aos médicos. Segundo o ACOG, populações vulneráveis, como pessoas com histórico de dor pélvica crônica, vítimas de violência sexual ou abuso e aquelas com transtornos por uso de substâncias, devem receber atenção especial, pois podem ter respostas diferentes à dor ou resistência a medicamentos analgésicos.

(Foto: Ministério da Saúde)

Avaliação de uma ginecologista

A ginecologista Tainá Pezzin, entrevistada para esta reportagem, reforça que a dor sentida na inserção do DIU pode variar muito, dependendo de fatores como a sensibilidade individual, se a paciente já teve filhos e, em especial, se passou por partos normais anteriormente. “A intensidade da dor pode variar de um desconforto leve até uma dor intensa”, explica.

Tainá considera que as novas recomendações são muito importantes e podem mudar o cenário atual, onde muitas mulheres deixam de optar pelo DIU justamente pelo medo do sofrimento físico. “Acho muito importante que as diretrizes validem e recomendem o uso de métodos para a redução da dor em procedimentos ginecológicos, já que muitas pacientes deixam de usar o DIU devido ao medo de sentir dor na inserção”, destaca.

Para a ginecologista, um dos principais problemas ainda enfrentados na área é o despreparo dos profissionais de saúde. “Infelizmente, ainda vemos muito despreparo dos profissionais em relação a isso, não somente em procedimentos, mas também no próprio exame ginecológico e na falta de escuta ativa das queixas das pacientes. Isso é muito comum no caso de mulheres com endometriose, que passam por diversos médicos com queixas de dor até conseguirem ter um diagnóstico correto”, afirma Tainá.

A especialista aponta que, para minimizar a dor, podem ser utilizadas diferentes abordagens, como anestesia local injetável ou em gel, anti-inflamatórios orais e, em casos selecionados, sedação em centro cirúrgico. “Alguns ginecologistas utilizam de rotina, mas outros somente em casos específicos”, esclarece.

Ainda segundo Tainá, é fundamental que o profissional oriente de forma transparente sobre o procedimento. “Explico que é um procedimento doloroso, porém muito rápido, e que na maioria das vezes esse desconforto é bem tolerado pelas pacientes. Além disso, sempre ofereço um anti-inflamatório oral e a anestesia local para reduzir esse desconforto do procedimento”, relata.

A mudança do ACOG busca também enfrentar o racismo e o sexismo na medicina, já que estudos indicam que a dor das mulheres é frequentemente subestimada. Um estudo de 2016, conduzido por Amanda C. de C. Williams e colegas, revelou que médicos tendem a avaliar a dor relatada por mulheres como menos intensa do que a relatada por homens, além de encaminhá-las mais frequentemente para tratamentos psicológicos, reforçando a ideia equivocada de que a dor feminina é mais emocional do que física.

O reconhecimento institucional de que a dor ginecológica é real, diversa e digna de ser tratada com seriedade representa um avanço não só clínico, mas também social e simbólico. Ainda que as evidências científicas sobre a eficácia dos métodos de alívio da dor possam não ser unânimes, o mais importante, como frisam as novas diretrizes, é garantir que a paciente seja ouvida, respeitada e orientada sobre suas opções.

A partir dessa atualização, espera-se que mais mulheres se sintam seguras para optar por métodos contraceptivos como o DIU, e que a prática ginecológica avance para um modelo mais humanizado, no qual o bem-estar e a dignidade das pacientes sejam prioridades inegociáveis.

 

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